BAHIA
Construir instrumentos fazia parte da formação do sacerdote
Por Ivana Dorali

Elementos indispensáveis nas cerimônias do candomblé, os tambores de culto são considerados divindades. Atabaques nas nações ketu e jeje, eles são chamados ingomas nos terreiros de nação angola. Cada um dos atabaques tem uma denominação específica. Nas comunidades ketu e jeje são rum (o maior deles e que dá a base do ritmo); rumpi (o médio) e lé (o menor).
"Na nação angola, individualmente, eles são chamados munjola, mungongo e mungonguinho", explica o xicarangoma do Terreiro Tumba Junsara Esmeraldo Emetério, conhecido como Chuchuca. Outros instrumentos como o adjá, o caxixi, o gan ou xequeré podem ser incluídos eventualmente, de acordo com a divindade reverenciada e a nação.
"Em algumas casas são utilizados instrumentos de sopro, como o clarim, para reverenciar a entidade", conta Yomar Passos, alabê do Terreiro Ilê Iyá Omin Axé Iyá Massê, mais conhecido como Gantois. Para cuidar dos tambores há um conjunto de regras. "Eles devem ser reverenciados como se reverencia as divindades. É lá que mora a música que convoca os santos e isso é algo sagrado", destaca o xicarangoma do Terreiro Tanuri Jussara, Landê Onawalê.
Nos terreiros, os atabaques ficam em um espaço especial no barracão onde ocorrem as cerimônias religiosas. A construção desses espaços já preveem uma espécie de recuo com ou sem tablado para que eles fiquem acomodados. Para ocupar este lugar, eles passam por um processo de consagração. Após esta sacralização, eles já não podem sair do terreiro.
Construção - A confecção dos atabaques também é cercada de cuidados. Antigamente, a fabricação destes instrumentos fazia parte da formação dos sacerdotes músicos. Hoje, as comunidades religiosas recorrem a artesãos especializados. Eles são chamados tanoeiros porquê dominam a arte de fazer barris e tonéis. O tanoeiro Jailson Santana de Jesus, mais conhecido como Jau, está no ofício há 35 anos. Começou com apenas 8 ajudando o pai, Antônio de Jesus. Sua oficina fica na Baixa do Fiscal ao lado de outras que preservam o mesmo ofício.
A primeira vez que ele fez, sozinho, um instrumento para ser usado no candomblé tinha 16 anos. "Ficou muito bonito", acrescenta. O trabalho é feito sob encomenda. O preço do conjunto de atabaques varia de R$ 450 a R$ 1.200. "Em alguns casos a gente entrega apenas a estrutura, pois algumas pessoas preferem botar o couro no próprio terreiro", diz Jau.
As madeiras utilizadas para fazer o atabaque são de maçaranduba, ipê, peroba ou pau d´arco. Elas são cortadas em largura e espessura correspondente ao formato que se pretende dar ao atabaque. Quando o formato é definido elas passam a ser chamadas de aduelas que são unidas na base, local que vai ecoar o som.
Formato - Em seguida é aceso um fogo no centro da estrutura que está em processo de montagem. "O fogo vai amolecendo os poros da madeira e também mata os eventuais insetos que a madeira possa ter", explica Jau.
Com a ajuda da marreta e do chacho - um rolo maciço feito com ferro - são posicionados os aros para fechar o atabaque até que não haja espaço entre as aduelas. Depois de montado, o atabaque é lixado com a plaina elétrica. Os aros que deram forma ao instrumento são trocados por arcos definitivos. Depois de envernizado, ele recebe os parafusos e as braçadeiras. Finalmente, é colocado o couro na parte superior.
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