SETEMBRO VERDE
Doações de órgãos aumentam 39% na Bahia, mas não suprem fila de transplantes
Melhoria nos números ainda está longe de atender as 3.820 pessoas da lista de espera no estado

Por Madson Souza

Foram 10 anos de espera até Natalina dos Santos, 59, conseguir um transplante de rim. Vítima de insuficiência renal, a hemodiálise foi a alternativa de tratamento ao longo da espera; mas os que necessitam de um novo pulmão ou fígado, não possuem alternativas ou, muitas vezes, a chance de aguardar esse tempo.
Na Bahia, a doação de órgãos, incluindo tecidos de córneas, cresceu 39% na comparação entre janeiro e julho deste ano com o mesmo período de 2024, porém ainda não é o suficiente para suprir as 3.820 pessoas que aguardam por transplante.
Os dados apresentados são do Sistema Estadual de Transplantes, que indicam justamente os rins como órgãos de maior necessidade no estado, com uma lista de espera de 2.123 pessoas.
O coordenador do sistema de transplantes da Bahia, Eraldo Moura, explica a longa fila pelo órgão por conta das alternativas de terapia que minimizam os problemas renais, como a hemodiálise. Então, os pacientes seguem na fila em busca do transplante como alternativa aos tratamentos.
Campanha
Neste Setembro Verde, mês dedicado à doação de órgãos, o desafio para alterar o cenário desta lista de espera é uma mudança social, que de acordo com Eraldo envolve o tema ser tratado pelas famílias. Ele explica que, conforme a legislação nacional, para a doação de órgãos de alguém morto acontecer é preciso da autorização familiar. “É importante que todas as pessoas que hoje queiram doar conversem com suas famílias sobre esse desejo de querer ajudar outras pessoas quando vier a falecer. A não autorização familiar, na maioria das vezes, está relacionada a pessoa não ter autorizado em vida”, comenta.
Esse é o relato também da enfermeira da educação permanente da Coordenação Estadual de Transplantes, America Carolina Sodré. “A principal dificuldade em falar com as famílias é o desconhecimento do desejo do familiar falecido de ser ou não um doador. Mas ainda temos também a necessidade de desconstruir mitos”, indica. Ela ressalta que há um trabalho de ampliar o acesso à educação para profissionais da saúde e das comunidades, para alterar a visão sobre a doação de órgãos.
Para reduzir a quantidade de pacientes na fila, a estratégia do estado, segundo Eraldo, é reduzir o índice de negativa das famílias, por meio do compartilhamento da informação, além de ampliar os números de doadores e transplantes. A média de negativa familiar entre janeiro e julho deste ano é 58%. Já o número de transplantes saiu de 646 de janeiro a julho de 2024 para 806 no mesmo período deste ano.
O estado aposta num movimento de expansão da rede de transplantes na Bahia para superar a lista de espera. No município de Vitória da Conquista, o primeiro transplante de fígado fora da capital deve ser realizado agora em setembro, segundo o coordenador do sistema de transplantes da Bahia. Outros investimentos incluem Feira de Santana, que está com a realização de renal e ampliação de serviços; a retomada do transplante renal em Itabuna, e o transplante renal e de medula em Juazeiro.
Negativa do corpo
Mesmo com a doação de órgãos e a realização de transplantes, ainda há a chance de que as novas estruturas sejam rejeitadas. Eraldo explica que em alguns transplantes a recusa é ínfima, como no caso dos de córnea, enquanto outros como o renal, cardíaco e pulmonar o desafio é maior. Por isso, são feitos estudos de similaridade genética entre o doador e o receptor, além da utilização de medicamentos para evitar uma negativa do corpo.
“Às vezes o nosso organismo reconhece aquele órgão recebido como um corpo estranho e daí ele começa a produzir substâncias para eliminar aquele órgão. Isso é o que chamamos de rejeição”, comenta o coordenador do sistema de transplantes da Bahia. Apesar da celebração de Natalina pela realização do seu transplante, após quatro anos o novo órgão foi rejeitado por seu corpo e ela retornou à fila em busca de outro órgão.
Ela segue com a hemodiálise, que funciona como uma substituição dos rins para filtrar e limpar o sangue, contudo, para isso são necessários diversos encontros semanais, com duração entre três e quatro horas. Para Natalina, o transplante é “uma chance de ter uma melhor qualidade de vida”. Ela segue animada com o movimento da fila e ressalta a importância das famílias se conscientizarem sobre a doação. “Você está dando vida a outras pessoas. Doar o órgão de alguém de sua família que faleceu é dar vida a outras pessoas. É algo muito importante”, comenta.
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