CONFERÊNCIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
Educadores baianos criam documento que será apresentado em Natal
Debates na Conferência de Educação da Bahia resultaram em criação de documento para a edição nacional
Por Lucas Franco
Com apresentações do reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, e do presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA), Paulo Gabriel Nacif, chegou ao fim a 4ª Conferência Estadual de Educação da Bahia (COEED) na noite desta sexta-feira, 8, no Centro de Convenções do Hotel Fiesta, em Salvador.
O evento teve início nesta quinta, 7, e contou com mais de mil pessoas de 395 municípios da Bahia, entre profissionais de educação, alunos, autoridades e representantes da classe. A COEED tinha como objetivo final a apresentação de um documento, que será levado para a Conferência Nacional Popular de Educação, a ser realizada em Natal, no Rio Grande do Norte, nos dias 15, 16 e 17 de julho deste ano.
Cada estado brasileiro e o Distrito Federal tiveram sua resolução. “O documento [da Bahia] é dividido em eixos. Eixos de discussão”, disse a coordenadora da Comissão de Sistematização e Monitoramento do Plano Estadual de Educação, professora Maria Couto Cunha, que explicou quais foram os seis eixos que fazem parte do encaminhamento final da conferência.
O eixo 1 é de análise de conjuntura e trabalha com a discussão da convocação da população para lutar pela democracia e contra os retrocessos. O eixo 2 trabalha com temas como sistema nacional de educação, que segundo Maria Couto Cunha, "é uma luta dos trabalhadores para nós termos um sistema nacional de educação que organize e que planeje de uma forma colaborativa os entes federados para fazer uma educação sem desperdício e distribuindo suas atribuições".
O eixo 3, por sua vez, trata da justiça social e da diversidade. "Então também trabalhamos aqui no nosso estado essa característica de ter uma população com uma diversidade muito grande. A questão da educação no campo, quilombola, indígenas, ribeirinhos, pescadores, ciganos, então damos uma atenção especial a esses segmentos", disse a professora Maria Couto Cunha, que é professora aposentada da Ufba.
O eixo 4 se volta para a valorização dos profissionais de educação, com discussões em torno de plano de carreira, de valorização, de formação do professor, da garantia com relação à saúde e salário. A gestão democrática da educação e o financiamento da educação é tratado no eixo 5. Por fim, o eixo 6 é, segundo Maria Couto Cunha, "uma convocação para a população brasileira pensar em propostas de ação para frente". "É um eixo propositivo. É uma conclamação para que todos os problemas trabalhados nos outros eixos sejam revistos, para dar uma direção à educação”, conclui.
Apresentações
Antes da leitura do documento final com seus seis eixos, na plenária final, duas apresentações também no auditório principal marcaram a despedida do evento. O reitor da Ufba, João Carlos Salles, começou sua fala trazendo um desafio de raciocínio lógico, em que três prisioneiros com inteligência mediana, um com visão total, um com visão parcial e o outro com deficiência visual, precisavam saber qual a cor do chapéu que tinham na cabeça. Quem descobrisse a cor do chapéu colocado na própria cabeça poderia deixar o cárcere. Eles sabiam que entre as opções de chapéus disponíveis para eles três, tinham três brancos e dois vermelhos. Os que tinham visão poderiam ver a cor do chapéu do outro.
“Eu percebo que as pessoas têm dificuldade [com esse desafio] porque falta aquilo que é o traço fundamental na educação, que é a capacidade de pensar com o pensamento do outro”, refletiu João Carlos Salles. No desafio, o prisioneiro com visão total disse não poder dizer qual a cor do chapéu que estava usando. O mesmo acontece com o segundo prisioneiro, que tem a visão parcial. O prisioneiro com deficiência visual, que não podia enxergar sequer as cores dos chapéus dos outros prisioneiros, acertou ao dizer que o chapéu que usava era branco. “O cego consegue acertar porque o segundo não consegue acertar. Se o chapéu do cego fosse vermelho, o que tem visão total só não acertaria [a cor do próprio chapéu] se o chapéu do segundo [com visão parcial] fosse vermelho”, explicou.
“Educação não é um processo informativo. A educação é substancialmente formadora. O professor não deve só repassar a informação, mas ensinar como chegar lá”, indicou o reitor da Ufba, que criticou o que ele chamou de excesso de informações na internet e o embrutecimento das pessoas na busca pela técnica sem propósito, além de exaltar a importância da democracia e dos direitos humanos. “Não se substitui a formação de pensar com o pensamento do outro pelas informações que se tem na rede”.
O presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA), Paulo Gabriel Nacif, também fez críticas ao excesso de informação na internet e questionou o uso da ciência sem fins educativos e culturais. “O educador não é só produtor de dados a serviço do mercado e da indústria”. Nacif disse enxergar que a ciência sozinha não dá conta das principais demandas humanitárias e defendeu o fortalecimento de uma base educacional para combater as fake news. “A única maneira de combater a mentira é duvidar e buscar provas”, acredita.
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