BAHIA
Especialistas defendem integração de ações contra desperdício de água
Além do desafio de garantir o acesso de água tratada, Bahia precisa reduzir cenário de desperdício
A integração das ações de gestão da água na Bahia, que visa o enfrentamento do seu desperdício, é fundamental para a ampliação da oferta e tratamento do recurso natural, avaliam especialistas ouvidos pelo Portal A TARDE. No mês da água, eles apontam medidas que precisam ser adotadas para a mudança de cenário.
A Bahia perde quase 40% da água tratada, segundo estimativa da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa). O diretor Técnico e de Planejamento da empresa, Clécio Cruz, explica que a garantia da segurança hídrica da população passa por duas perspectivas: uso racional da água e preservação dos mananciais, que envolve a infraestrutura de distribuição da água.
Nos sistemas de abastecimento, a perda de água é toda água que sai das estações de tratamento, mas não é contabilizada no hidrômetro dos consumidores baianos. É resultado do recurso que escapa das tubulações durante os vazamentos, mas também da água que é desviada pelas ligações clandestinas.
"No nossa área, ao falar sobre a distribuição de água, estamos falando de uma infraestrutura que leve água para as pessoas, sem estressar mananciais, garantindo a segurança hídrica das pessoas que irão utilizar o recurso. Ao longo do tempo, toda infraestrutura deprecia e perde eficiência. E o nosso desafio passa pelo investimento em tecnologia física, a exemplo dos materiais usados no nosso sistema, de informação, monitoramento e controle", explica Cruz.
O diretor acrescenta que o vazamento aparente, aquele visível em uma rua, começa há dias debaixo da terra. Por isso, a tecnologia é aliada na rápida identificação de perdas, que passa por estratégias como o uso de satélites e drones para o geomonitoramento. Nos últimos três anos, a Embasa calcula o investimento de mais de R$ 260 milhões no combate à perda de água tratada na Bahia, sendo R$ 81 milhões voltados para Salvador e Região Metropolitana.
No caso das ligações clandestinas, a empresa afirma que os investimentos são aplicados na ampliação de ações de fiscalização de fraudes, campanhas educativas e estímulo à regularização, além do esforço para a negociação de débitos e inclusão os usuários beneficiários do programa Bolsa Família na Tarifa Social.
Integração
No movimento de integração que visa a redução do desperdício de água, empresas na Bahia adotam medidas para a redução de consumo, como a instalação de equipamentos eficientes e campanhas de conscientização entre os colaboradores. O momento abre espaço para os negócios de impacto socioambiental.
Entre eles, está a startup T&D Sustentável, que atua com economia de água em shoppings, condomínios, hotéis, supermercados, hospitais. Dados da greentech revelam a economia de cerca de 580 milhões de litros de água em diferentes cidades do país, sendo 115 milhões apenas em Salvador. E o resultado também parte de ações que caminham em colaboração com empresas de saneamento.
"Nos primórdios da T&D, a gente acreditava que não seria possível fazer parcerias com empresas como a Embasa, por pensar que nossas soluções iriam reduzir o faturamento deles. No entanto, ao conversar com a empresa baiana, foi possível entender que o desperdício de água é perda financeira para eles também, além do próprio impacto para o meio ambiente", diz Felipe Mendes, sócio da startup.
Ele explica que o trabalho da greentech exige uma análise prévia da fatura de água, do histórico de consumo do local. Após essa etapa, são pensados projetos como otimização de hidrossanitários, torneiras, além da aplicação de técnicas de padronização de consumo, visando a redução da perda do recurso natural.
Recurso em risco
O biólogo e diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo, alerta que a água é um recurso que corre risco de escassez, caso não seja bem utilizado. Ela ainda explica o motivo do maior custo de tratamento quando não existe o cuidado por parte da população.
"De forma geral, os mananciais, tanto subterrâneos quando superficiais, são fundamentais para o abastecimento humano [consequentemente pro saneamento básico]. Então, quanto mais preservado um manancial, mais fácil e melhor vai ser o tratamento necessário daquela água bruta para que ela atinja a qualidade adequada para distribuição e uso. Quanto menos poluentes e matéria orgânica presentes na água bruta, melhor para o tratamento. Toda vez que ocorrer um aporte muito grande de matéria orgânica [através de esgoto clandestino e outros lançamentos clandestinos], mais difícil e mais lento será o tratamento, podendo ter impactos para a disponibilidade de água tratada para a população. Retardando o processo e também encarecendo", explica Francisco Kelmo.
Do ponto de vista da conscientização da população e das políticas que podem ser aplicadas para problemas que envolvem o desperdício de água, o biólogo aponta ações individuais e coletivas que geram a "virada de mesa" no atual cenário.
"O desperdício pode ser fruto da falta de manutenção da rede hidráulica residencial, da utilização exagerada de água para limpeza de calçadas, fachadas, entre outros fatores. Existem atividades que podem ser realizadas com água não necessariamente tratada pelas empresas. Ainda existem alternativas interessantes para evitar o uso de água tratada consistem em armazenamento de água de chuva para descarga sanitária e para regar jardim, por exemplo. Programas de recuperação, a exemplo do plantio de árvores de espécies nativas nas adjacências de reservatórios, represas, diques, mananciais e outros corpos hídricos, que podem ser utilizados para produção de água tratada".
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