CONFERÊNCIA ESTADUAL
Evento sobre educação na Bahia mostra resultados e traça metas
Políticas públicas foram citadas e reivindicações foram feitas e ouvidas
Por Lucas Franco
A abertura da 4ª Conferência Estadual de Educação da Bahia (COEED) trouxe discursos não só pró-educação, mas pró-direitos humanos como um todo. O evento foi aberto nesta quinta-feira, 7, no Centro de Convenções do Hotel Fiesta. “Há uma percepção de que a educação precisa ser muito mais atendida, muito mais contemplada. Isso é um consenso nacional. Temos muito mais pontos de convergência do que de divergência”, apontou a coordenadora estadual do Fórum Estadual de Educação, Alessandra Assis.
A conferência, que reuniu mais de mil pessoas, teve como objetivo consolidar o diálogo e a participação social na definição das políticas educacionais a nível estadual, após municípios baianos discutirem internamente suas demandas e construírem seus consensos para levarem ao evento, que teve não só educadores e estudantes, mas também diversas autoridades. A 4ª Conferência Estadual de Educação da Bahia construirá as pautas que serão levadas pelo estado para a conferência nacional de educação, que acontecerá em julho, em Natal, no Rio Grande do Norte.
De governos de diferentes espectros partidários, estiveram presentes na conferência estadual os secretários de Educação do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador, Danilo Melo e Marcelo Oliveira, respectivamente. “O que nós estamos fazendo aqui é colocar a educação como central, não como prioridade. É o central entre as prioridades”, alegou Danilo Melo.
O sucessor de Jerônimo Rodrigues na pasta reverenciou duas mulheres em seu discurso: Leolinda Daltro e Iracy Picanço. A primeira, uma baiana que se mudou para o Rio no século 19 e que “pagou caro por ser feminista e enxergar que lugar de mulher é na política”, como disse Danilo durante a fala. A segunda, “uma militante comunista que sofreu durante a ditadura militar”.
Representatividade e luta por direitos
Além da representatividade e direitos das mulheres, também foram defendidas como bandeiras de justiça social a luta contra o racismo e o acesso à educação para todas e todos, em todos os territórios, respeitando as diferenças de metodologia. “O debate com diferentes realidades possibilita e fomenta um reconhecimento educacional voltado para atender todas as diferenças e todas as adversidades que a gente tem dentro do nosso território baiano e de nossas escolas”, disse a professora Jesuína Tupinambá, vice-diretora do Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença, na região de Ilhéus.
Com posicionamento parecido, a coordenadora do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado da Bahia, Marlene Silva, enxerga que é preciso sempre lembrar nos grupos da diversidade. “É um momento em que o fórum de EJA [Educação de Jovens e Adultos], junto com todos os outros fóruns da diversidade, precisa trazer proposições para que a gente possa melhorar a educação do país e, de fato, construir uma educação em uma perspectiva pluriétnica e pluricultural”.
Não só as trocas de ideias foram responsáveis pela comunhão dos presentes no evento. Uma apresentação dos alunos da Escola Estadual Governador Lomanto Júnior, do bairro de Itapuã, em Salvador, arrancou aplausos da plateia. “Independentemente da plateia, a gente tem um compromisso de sempre fazer o melhor. Beethoven falava que a gente pode errar uma nota, mas é imperdoável tocar sem sentimento”, disse o músico Roberto Patiño, que conduz o projeto Sol Maior, com alunos da escola estadual.
Aluna do Lomanto Júnior, Ana Caroline cantou o hino do 2 de Julho e canções nacionais. “A música tem esse trabalho, como a gente aprende com o professor, Roberto Patiño. Ela muda, ela transforma, ela nos leva a lugares que a gente nunca imaginou chegar, através do pensamento e das atitudes”. Colega de Ana Caroline, a estudante Ruiva também cantou algumas canções, que foram acompanhadas pelo som de violão e de violino de seus colegas. “É inovador na história da escola pública a gente ter um grupo de música. Tem muitos talentos que precisam ser descobertos e a escola pública vai fazer isso cada dia mais e mais. A gente está lutando para isso, para nossa voz chegar”, acredita.
Posicionamento político
Em diversos momentos o grito de “fora Bolsonaro” foi puxado, seja após os aplausos dados na execução do hino nacional brasileiro, cantado por Ruiva, ou durante discursos como o da deputada estadual Fabíola Mansur (PSB), que recitou trecho do hino ao 2 de Julho. “Não podemos ter medo de nos posicionarmos. Não podemos respeitar tiranos, pois com tiranos não combinam brasileiros corações”, disse.
Colega de Fabíola na Assembleia Legislativa, Olívia Santana (PCdoB) disse que é preciso valorizar avanços na educação das atuais gestões estaduais. “Sei os escombros que a gente encontrou quando começamos a governar esse estado”, comentou a parlamentar do PCdoB, ao se referir aos governos estaduais anteriores a 2007.
Correligionária de Olívia, a deputada federal Alice Portugal fez duras críticas ao governo Bolsonaro e ironizou a confiança que o presidente da República depositou em seu ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, que pediu exoneração após áudio vazado em que comenta sobre o fato de que repasses federais da educação passariam pelo aval de dois pastores. Na ocasião, Bolsonaro disse que “queimaria a cara se Milton Ribeiro estivesse envolvido em corrupção. “Ele deve estar em algum ambulatório de queimados”, alfinetou. Prefeitos comentaram, após o áudio vazado de Milton Ribeiro, que os pastores ligados ao ex-ministro pediam propina em dinheiro ou em ouro para que repasses da pasta fossem feitos para as prefeituras.
Educação como direito
Uma das pautas mais importantes na conferência foi a ampliação do tempo integral nas escolas. O superintendente da coordenação de projetos estratégicos da Secretaria de Educação, Marcius Gomes, enxerga que os avanços já são visíveis e que a tendência é que cada vez mais alunos sejam contemplados com o modelo de educação nos próximos anos. “O governador Rui Costa promulgou a lei. A Bahia vem em uma ascensão no número de unidades escolares. A meta é que, até 2026, tenhamos 25% da rede [estadual] ofertando educação em tempo integral. Neste momento, a Bahia já está com 22%. É possível que a gente consiga atingir essa meta com mais antecedência”, pontuou Marcius Gomes.
Durante o discurso na conferência, o presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA), Paulo Gabriel Nacif, disse que uma boa maneira de resumir a importância da educação é citar o artigo 205 da Constituição Federal de 1988. “Foi a constituição de Paulo Freire e Florestan Fernandes. É a parte mais bonita da nossa constituição e de todas as constituições do mundo”, acredita Nacif.
O artigo 205 descreve que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
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