BAHIA
Ex-exorcista de Salvador adverte sobre artimanhas do demônio
Por Davi Lemos

"A Igreja Católica realiza exorcismos ainda hoje. A Igreja nunca deixou de ter exorcistas e de fazer exorcismos". A afirmação é de dom Gregório Paixão, 48 anos, bispo de Petrópolis (RJ), que, até o final de 2012, foi bispo-auxiliar de Salvador e exorcista oficial na arquidiocese soteropolitana.
Dom Gregório conta que foi exorcista por nove anos e meio na Arquidiocese de Salvador e que começou a exercer a função quando ainda vivia no Mosteiro de São Bento. Após ser ordenado bispo, em 2006, permaneceu no ministério. Nesse tempo, realizou seis exorcismos. Ao menos 70 casos lhe foram apresentados para avaliação.
"A maioria dos casos era de desequilíbrios de ordem emocional ou psiquiátrica, somente", disse o prelado. Para a escolha de um exorcista, o sacerdote, dizem as normas católicas, deve ter profundo conhecimento teológico e filosófico, além de equilíbrio afetivo e psíquico.
Dom Gregório Paixão tem doutorado em antropologia pela Universidade Aberta de Amsterdã, onde também leciona antropologia cultural. Hoje é o bispo referencial na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a área da cultura.
"Após a escolha, o sacerdote estuda demonologia e angelologia. Depois disso, especializa-se em temas específicos para detectar se a suposta possessão se trata de problema psíquico, de uma histeria ou problema de personalidade. Então, encaminha-se a pessoa ao psiquiatra, psicólogo ou psicanalista", diz dom Gregório.
A Igreja, que não nega a existência e atuação de Satanás e seus demônios, é cautelosa quanto ao tema. Na apresentação da versão em português do texto Ritual de Exorcismo, revisto em 1998 pelo papa João Paulo II, há a seguinte consideração: "A ciência, no entanto, tem demonstrado que, nos casos tidos como possessão diabólica, no passado, apenas 3% podem ser levados a sério".
Definição - Mas dom Gregório ressalta que somente o sacerdote pode determinar se há ou não a possessão demoníaca. E que apenas o sacerdote ou bispo podem realizar o ritual. "Tudo deve estar ligado ao segredo de confissão para que o possesso não seja exposto. Um diácono ou um leigo não têm autorização para exorcizar", aponta o bispo.
O padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Arquidiocese de Cuiabá (MT), ressaltou, em aula proferida no início de setembro, que o mal psiquiátrico e a possessão podem ocorrer ao mesmo tempo. O sacerdote iniciou um curso de demonologia para leigos, seminaristas e outros padres em site que mantém.
No Ritual de Exorcismo também há a proibição de que um ritual seja acompanhado por qualquer veículo de comunicação social. "A pessoa não pode ser exposta", disse dom Gregório. Sobre o fato de não ser notícia corrente o nome de um exorcista, explica: "Muitos procurariam o exorcista quando deveriam ir a um psiquiatra, psicólogo ou psicanalista".
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