2 DE JULHO
Historiador explica o percurso e o sentido do fogo simbólico
Estudo de Diego Copque destaca a presença do Recôncavo Norte e do cronista Titara na Independência
Por Alan Rodrigues

O Fogo que simboliza a independência do Brasil na Bahia irá percorrer um novo trajeto este ano. Novo, mas nem tanto. Camaçari, Dias d´Ávila, Lauro de Freitas e Mata de São João voltam a fazer parte das celebrações. Um resgate histórico da participação desses municípios na vitória sobre os portugueses.
Segundo Jair Cardoso, pesquisador de Candeias, havia dois roteiros do Fogo Simbólico. O mais conhecido é o que sai de Cachoeira e passa pelas cidades de Saubara, Santo Amaro da Purificação, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho, até chegar ao bairro de Pirajá, na capital baiana. O segundo, passava ainda por São Sebastião do Passé, antes de chegar a Simões Filho, onde o trajeto era unificado.
O resgate dessa história só foi possível graças ao trabalho de pesquisa do historiador Diego Copque, autor do livro “A presença do Recôncavo Norte da Bahia na consolidação da Independência no Brasil” (editora Kalango, 2022). Na pesquisa para a produção do livro, Copque teve contato com pesquisas de outros historiadores, o que resultou na criação do Consórcio Recôncavo Norte, que integra Camaçari, Dias d´Ávila, Lauro de Freitas e Mata de São João e reivindica o reconhecimento da participação dos quatro municípios na guerra pela independência.
A própria definição de Recôncavo Norte é, em si, também um resgate histórico. A Conder, atual Companhia Estadual de Desenvolvimento Urbano, foi criada em 1967 como Conselho de Desenvolvimento do Recôncavo, o que justifica a sigla mantida até hoje.
Com base na pesquisa o consórcio pleiteou e conseguiu reativar e ampliar o trajeto perdido na história, com a chancela da Fundação Gregório de Matos (FGM) e do Instituto Geográfico e Hidórico da Bahia (IGHB). Um dos personagens principais dessa história é o alferes Ladislau dos Santos Titara, conhecido como o autor da letra do hino ao Dois de Julho. Mais que isso, Titara, mestiço natural do aldeamento de Santo Antônio de Capuame – que viria a se tornar a Feira de Capuame e, atualmente, Dias d´Ávila -, combateu na guerra pela independência e foi o responsável por relatar as ações da tropa.
“Ele foi o único cronista da guerra”, afirma o historiador Diego Copque. Em seu poema “Paraguassu”, Titara revela a participação das vilas e freguesias do litoral norte na batalha pela independência. O alferes relata a aclamação do Príncipe Regente, D. Pedro I, como Imperador constitucional do Brasil.
A cerimônia foi celebrada em Vila de Abrantes, a 1ª vila indígena do Brasil, e contou com a presença de autoridades locais. Entre elas, Ladislau dos Santos Titara destaca a participação do Capitão-Mor dos índios de Vila de Abrantes, Joaquim Euzébio de Santana, um indígena Tupinambá com participação ativa nos combates pela independência. A Feira de Capuame, que dá origem ao município de Dias d´Ávila, foi primeira feira de gado da América Latina. Com o bloqueio da Estrada das Boiadas - que passava por Camaçari, Dias d´Ávila e Mata de São João -, que deixou Salvador sitiada e as tropas portuguesas sem abastecimento, era na feira que os combatentes da independência se alimentavam.
Fatos e heróis passam pela Casa da Torre e Sociedade Patriótica
No aldeamento indígena de Bom Jesus de Tatuapara, atual localidade de Açu da Torre, em Mata de São João, a Casa da Torre também foi um abrigo estratégico da tropa patriota. Tatuapara ficava entre os aldeamentos do Espírito Santo (Vila de Abrantes), Santo Antônio de Rembé (Arembepe) e Santo Antônio da Ressaca da Barra, onde hoje estão Barra do Jacuípe e Monte Gordo, todos territórios de Camaçari nos dias de hoje.
Durante a pesquisa para o livro, Diego Copque conheceu o trabalho do pesquisador Coriolano Oliveira, que retrata a participação do município de Lauro de Freitas na luta pela independência. João Ladislau de Figueiredo e Melo era proprietário do Engenho do Caji, na freguesia de Santo Amaro do Ipitanga, onde funcionou um hospital de campanha para os feridos na guerra.
Sociedade Patriótica
Francisco Ribeiro Neves, tio de João Ladislau de Figueiredo e Melo, construiu o primeiro carro do caboclo, juntamente com Francisco José Corte Imperial e o cônego Manoel Joaquim de Almeida. Já o neto de Ladislau, José Álvares do Amaral, autor do livro que documenta o duplo trajeto do fogo simbólico, foi um dos fundadores da Sociedade Patriótica Dois de Julho, em 1859, e avalizou a compra, em 1860, do casarão onde até hoje são guardadas as imagens do Caboclo e da Cabocla, na Lapinha. Antes – havia apenas o caboclo -, o carro com a imagem ficava num barracão do Maciel de Baixo.
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