DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Luta contra desperdício de água é desafio na Bahia
Aliado a isso, maior quantidade de lixo e esgoto são jogados nos mares
Por Priscila Dórea
Hoje, a Bahia tem 81% de seu território com acesso a rede de água, mas quase 42% desta água potável é desperdiçada, afirmam dados do Instituto Trata Brasil. Aliado a isso, infelizmente, cada vez mais lixo e esgoto são jogados em nossos mares, uma situação que ficou um pouco melhor na pandemia com o afastamento dos banhistas, mas que pode estar voltando ‘ao normal’ com a queda das restrições.
Organizações tomam a frente com iniciativas que fazem o que podem para salvar e zelar por essa água que, ano após ano, se vê mais ameaçada. Ainda que seja um recurso natural, a água é finita e, na próxima terça-feira, Dia Mundial da Água, precisamos refletir: como podemos proteger e fazer um melhor uso de nossas águas?
“O capitalismo quer lucrar em cima de algo que nunca deveria ser comercializado, é um bem vital nosso. Além de tudo, o nosso entendimento da dinâmica do clima é muito superficial. Em Salvador, por exemplo, temos períodos muito chuvosos e outros que chove pouco, mas intensamente. Isso gera um grande acúmulo de água, mas não há um sistema de coleta de chuva no município", explica a jornalista, permacultora e gestora do movimento Canteiros Coletivos (@canteiroscoletivos), Débora Didonê.
Dentro do movimento foi criado o projeto Escola Verde com Afeto, que recebe apoio do edital Educar para Transformar, do Instituto MRV.
O encontro inaugural acontecerá, na terça-feira (22), no Colégio Estadual Professora Marileine da Silva, em Mata Escura, onde o grupo dará os primeiros passos para a criação dos Jardins de Chuva, um sistema que cria canteiros verdes que absorvem a água da chuva que acumula na rua.
“Os jardins de chuva irão criar pequenas reservas de água que irá nutrir as plantas dos canteiros. Além do bem-estar, esses canteiros vão ajudar no excesso de água em épocas de chuva, que provocam problemas para veículos e pessoas. Então, é um sistema muito adequado para o clima de Salvador, uma cidade chuvosa e com estruturas urbanas inadequadas, além de diminuir também o acúmulo de água que atrai animais vetores de doenças, por exemplo”, explica a gestora.
Iniciativas
Mas se há o que fazer com águas que vêm do céu, há também muito a ser feito com as águas dos oceanos. O servidor público, surfista, mergulhador e fundador do projeto Fundo da Folia (@fundodafolia) - que realiza ações voluntárias de limpeza do fundo do mar da Barra regularmente -, Bernardo Mussi, explica que há um esforço razoável de grande parte das instituições públicas e privadas em preservar as águas, e muito disso acontece por conta de campanhas, estudos e pressão popular.
“As demandas não tão essenciais são muitas, então é preciso continuar falando, divulgando, propondo soluções e alertando a todo o instante. Como nós, o planeta é basicamente feito de água. Não há vida sem água, por isso temos que cuidar, saber usar e preservar a qualidade de todas as fontes desse recurso tão essencial. O Fundo da Folia tem feito a sua parte como uma gota no oceano, e entendemos que o mais importante é agir e manter o assunto sempre em destaque para que ele ocupe o lugar que merece nas prioridades globais. Somos otimistas”, afirma Mussi.
O essencial é lembrar que a água é um bem comum de toda a humanidade, salienta Tiago Santos Freitas, biólogo do Instituto Fundo Limpo (@institutofundolimpo). "Às vezes as pessoas não entendem o significado de desenvolvimento sustentável que, no popular, pode ser resumido como 'quem come e guarda, come duas vezes'. Precisamos atender as necessidades do presente, pensando que amanhã a pequeno, médio e longo prazo, as gerações futuras também irão usufruir desse recurso”.
O Instituto surgiu a partir da escola de mergulho Galeão Sacramento, que durante mergulhos recreativos encontrou muito lixo, quando o foco da atividade era ver animais e a vida marinha. Com quatro ações anuais (antes e após o Carnaval, no meio e no final do ano) o grupo teve sua programação de limpeza bagunçada com a pandemia.
A Covid-19, no entanto, trouxe uma ‘bagunça positiva’ para as águas de nossa orla marítima, de acordo com um estudo feito pelo professor e diretor do Instituto de Biologia da UFBA, Francisco Kelmo, junto com seus alunos.
“A primeira análise que fizemos foi em dezembro de 2019, na Praia da Barra, e constatamos certa qualidade da água. Um pouco depois do início da pandemia e restrições, com a mesma equipe, método e local, fizemos uma nova análise e constatamos uma melhora significativa na qualidade da água. A qualidade da água mudou de boa, para excelente com a ausência do ser humano e dos resíduos que as pessoas deixam na praia. Dada a situação, eram resultados mais ou menos esperados, mas ainda muito bons”, comemora o professor.
Kelmo e sua equipe de alunos farão uma nova análise, agora que os banhistas voltaram, entre maio e junho, mas reforça: “Não deixem lixo nessas áreas, especialmente se for plástico. Além dos animais confundirem com comida e acabarem morrendo, o problema do plástico piora por causa dos microplásticos, que o peixinho come, que é comido por um peixe maior e segue seu caminho até o ser humano. E quando o microplástico acumula no nosso organismo causa várias complicações, uma delas sendo o enfraquecimento do sistema gastrointestinal”.
Diálogo com setores envolvidos visa melhor gestão dos recursos
“A água não se constrói, nós dependemos da água disponível”, alerta o gerente da unidade sócio-ambiental da Embasa, Thiago Hiroshi. Só que essa disponibilidade é um reflexo de tudo que acontece na bacia hidrográfica, e isso influencia na qualidade e na quantidade da água.
A Embasa é responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário na Bahia, mas o gerente afirma que a empresa tem buscado ir além de sua atuação específica, conversando com gestores das bacias e setores ambientais, procurando soluções.
“Não atuamos como fiscalização ou gerindo bacias, mas também não podemos cruzar os braços, ainda mais no nosso contexto de desmatamento, agrotóxicos e tantos outros fatores. Estamos atuando cada vez mais além de nossas atribuições, porque a água que chega ao consumidor é um reflexo de tudo que acontece na bacia e no longo caminho que essa água percorre até chegar à Embasa. Então, é preciso que nos mantenhamos em um diálogo eficiente com todos os setores envolvidos. Procuramos manter esse diálogo inclusive com a população, principalmente através das redes sociais, onde sempre trazemos dicas de como racionar água e boas práticas de uso", explica Hiroshi.
Atuando em 368 dos 417 municípios baianos, a Embasa está visando alcançar o Marco Legal do Saneamento de 2020, que tem como meta que 90% da população tenha acesso à coleta de esgoto e 99% tenha acesso à água tratada até 2033.
“É uma missão difícil, não podemos negar isso, principalmente em algumas regiões do estado onde o acesso é muito complicado, mas abraçamos essa missão. Hoje, cerca de apenas 40% dos baianos têm acesso a um sistema de esgotos, então estamos dividindo a Bahia em grupos de municípios numa tentativa de aumentar o atendimento e chegarmos mais perto da meta do Marco", explica o gerente.
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