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DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Mulheres baianas: Força do passado se conecta com a luta do presente

A TARDE faz viagem no tempo para contar histórias da Major Denice, Irmã Violeta e da médica Patrícia Almeida

Por De Bianca Carneiro e Isabela Cardoso

08/03/2023 - 0:00 h | Atualizada em 08/03/2023 - 0:24
Mulheres baianas conectam um passado de luta e um presente de esperança
Mulheres baianas conectam um passado de luta e um presente de esperança -

Com uma história rica em lutas, cultura e ancestralidade, a Bahia também é lar de várias mulheres que se destacaram e conquistaram grandes espaços em meios majoritariamente ocupados por homens. É um território que reúne desde heroínas do passado, que lutaram pela liberdade e direitos das pessoas, até as atuais, que seguem na linha de frente em áreas como a saúde e segurança da mulher.

No passado, nomes como Maria Quitéria, que se vestiu de homem para lutar na Guerra da Independência; Irmã Dulce, que acolheu aos mais carentes; e Maria Odília Teixeira, a primeira médica negra do Brasil, em uma época em que as mulheres permaneciam invisíveis em diferentes carreiras, se destacaram pela sua coragem, cuidado e determinação.

Atualmente, mulheres como a Major da Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago, uma das pioneiras na corporação e fundadora da Ronda Maria da Penha; a Irmã Violeta, que se dedica a pessoas em situação de vulnerabilidade social; e a médica Patrícia Maria Almeida, especialista envolvida na pesquisa da vacina nonavalente contra o HPV, também são exemplos de baianas que inspiram e transformam suas comunidades.

Nesta quarta-feira, 8, Dia Internacional da Mulher, o Portal A TARDE conta as histórias destas mulheres que conectam um passado de luta a um presente de esperança.

Na batalha e no combate

Maria Quitéria se vestiu de homem para lutar na Guerra da Independência
Maria Quitéria se vestiu de homem para lutar na Guerra da Independência | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE

Embora as mulheres tenham sido historicamente excluídas de muitas esferas da vida pública e política, Maria Quitéria de Jesus Medeiros foi um exemplo da luta feminina por direitos e igualdade. A heroína desafiou as normas sociais do século XIX ao se disfarçar de homem para poder batalhar pelo país nas tropas de Dom Pedro I.

“No período subsequente à descoberta da sua identidade, quando continuou no Exército, Maria Quitéria inspirou outras mulheres a ingressarem nas tropas e lutarem pela independência. Para as mulheres deste período, como disse o próprio pai de Maria Quitéria, quando ela insistiu em alistar-se, destinava-se o fiar, o tecer e o bordar; não à guerra, no entanto ela ousou contrariar as normas estabelecidas. Por isso, foi reconhecida pela sua luta e engajamento em favor da independência do Brasil”, explica a historiadora Jamille Macedo.

Um exemplo contemporâneo de uma mulher que também rompeu barreiras dentro das forças de segurança é o da Major da Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago. Nascida e criada em Salvador, a oficial é uma das pioneiras na PM-BA: se tornou a primeira comandante mulher da corporação e foi a fundadora da Ronda Maria da Penha, unidade especializada em combater a violência doméstica contra as mulheres.

O trabalho frente às mulheres começou realmente nos anos 2000, quando construiu o Centro de Referência da Mulher Policial Militar - Centro Maria Felipa (CMF). Com a atuação e toda a rede criada neste trabalho, a Major teve a ideia da Ronda Maria da Penha na Bahia, em 2012.

Major da Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago, é uma das pioneiras na corporação
Major da Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago, é uma das pioneiras na corporação | Foto: Olga Leira | Ag. A Tarde

“A ronda é eficaz para pautar não só a violência que aquela mulher sofreu. A Lei Maria da Penha diz que são cinco tipos de violência e nós vivemos esses cinco tipos de violência misturada”, destacou a comandante.

Para a militar, o maior desafio em ser mulher e ser oficial na corporação, atualmente, é vencer uma cultura machista entre homens militares e civis, sendo esclarecidos ou com pouca instrução. “Essa cultura perversa que bloqueia ou tenta bloquear qualquer forma de mudança desse seu status, é o que tem que pautar. É entender que a mulher tem direito sobre si, suas escolhas, seu corpo, que a mulher precisa estar em um espaço de poder. A gente precisa responder isso a partir do apoio. Uma mulher tem que fortalecer outra mulher, não competir com ela, não pode ser essa lógica. O homem não dorme, ele está ali o tempo todo tentando convencer a gente que nós somos menores”, ressaltou.

A comandante contou que a polícia nunca foi seu sonho vocacional, pois a psicologia ocupava esse lugar. No entanto, ela só foi estudar a área depois de estar dentro da Polícia Militar, com uma estabilidade econômica e profissional. A partir disso, a Major aplicou a nova formação na Ronda Maria da Penha.

“Quando a gente vai para o jogo do espelho, um jogo que eu criei, tem muito do processo de espelhamento. A partir do momento que aquela mulher se enxerga, ela consegue entender onde estão suas dores e também se posicionar na mudança ou no incremento daquela dor. Elas começam a perceber os tipos de violência que elas vão sofrendo no cotidiano e que às vezes é julgada como brincadeira, às vezes é julgada como algo que que é inofensivo, mas que nos adoece”, disse.

Mesmo com a força da Ronda, a oficial destacou que ainda há uma necessidade de capacitar homens das corporações policiais para atender às vítimas. “O que a gente precisa fazer é capacitar esses profissionais de segurança pública, seja a Polícia Militar, a Polícia Civil, Polícia Técnica. Para mim, profissionalmente ou pessoalmente, as pessoas têm que entender que a única coisa que uma alma humana tem que dar a outra alma humana é o respeito. A partir daí as suas escolhas, as suas orações, não podem ser algo que me incomode ou que eu vou impor, é só respeitar”, concluiu.

Saúde mais representativa

Maria Odília Teixeira (ao lado do marido) foi a primeira médica negra do Brasil
Maria Odília Teixeira (ao lado do marido) foi a primeira médica negra do Brasil | Foto: Reprodução

Mesmo longe dos campos de batalha, outras lutas se travavam no passado, agora na área da saúde. Mais de 110 anos se passaram desde que o Brasil formou sua primeira médica negra, a baiana Maria Odília Teixeira. Nascida em 1884, em São Félix, no Recôncavo, ela acumula marcos impressionantes: concluiu o curso na Faculdade de Medicina da Bahia apenas 21 anos depois da sanção da Lei Áurea, que marcou o fim da escravidão no país; foi bacharela em Ciências e Letras; e dominava diversos idiomas, entre eles, francês, grego e latim.

“Maria Odília teve uma carreira acadêmica crescente e promissora, foi a única mulher da sua turma e já no final do curso de medicina desenvolveu uma tese sobre um tema pouco investigado pela comunidade médica da época, a cirrose. Seu estudo foi considerado pioneiro, pois rompia com o racismo científico que era comumente empregado naquele período. Além de tencionar teoricamente com o racismo, sua própria trajetória de vida e carreira e seu corpo, ocupando lugares pouco imaginados para mulheres negras, solapar a estrutura sexista, machista e racista daquela sociedade”, explica Jamille Macedo.

Maria Odília Teixeira pavimentou caminhos para que diversas mulheres pretas pudessem escrever seus próprios marcos na área de saúde. Uma delas é a médica Patrícia Maria Almeida, especialista envolvida na pesquisa da vacina nonavalente contra o HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), que chegou ao Brasil neste final de semana.

Nascida em Salvador, ela trilhou uma formação parecida com a de Odília, como ginecologista e obstetra. Dentro da área, ela experimentou diversas possibilidades, entre elas, a prevenção do câncer de colo de útero, o atendimento a vítimas de violência doméstica e sexual, o cuidado com mulheres positivas para o HIV-AIDS e a atenção à população trans.

Médica Patrícia Maria Almeida é uma especialista envolvida na pesquisa da vacina nonavalente contra o HPV
Médica Patrícia Maria Almeida é uma especialista envolvida na pesquisa da vacina nonavalente contra o HPV | Foto: Olga Leira | Ag. A Tarde

Patrícia também integrou um dos grupos responsáveis por estudar a aceitação da vacina nonavalente do HPV em pré-adolescentes e adolescentes, durante a fase III de testes que aconteceram no Hospital Santo Antônio, em Salvador. O novo imunizante, que protege contra nove subtipos de HPV, que podem causar câncer e verrugas genitais, pode chegar a até 90% de proteção. A versão da vacina utilizada até então cobria apenas quatro subtipos, com proteção de 70%.

Em meio ao trabalho com a vacina, Patrícia participou ainda da implantação do ambulatório que atende travestis, transexuais e pessoas não binárias do Centro Estadual de Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap). O local, que passou a funcionar em dezembro de 2015, tinha, até janeiro deste ano, 757 pacientes cadastrados, entre eles, 278 mulheres trans, 349 homens trans, 61 travestis, 44 não-binários, além de 10 meninos trans e 15 meninas trans (de 07 a 17 anos).

“A luta agora é fazer capacitação das redes, sobretudo para o interior, para tentar descentralizar, conscientizar da não discriminação e garantir o atendimento desse público que tem útero e vagina, mas que não são mulheres e sim homens. E ao mesmo tempo, é travesti e mulheres trans e travestis [..] Já tivemos muitos avanços, hoje a gente consegue atender a um grande número de pessoas, já temos famílias sendo atendidas, homens trans que engravidaram, que são corretamente acompanhados. É isso que motiva fazer medicina”, pontua.

Mas a história de Maria Odília não se conecta apenas simbolicamente com a de Patrícia. Enquanto a primeira médica negra do Brasil nasceu em São Félix, os pais da pesquisadora vieram de bem pertinho, Cachoeira. Patrícia diz que sabe pouco sobre a história da pioneira, mas diz que quer aprender.

“Já ouvi falar. Mas sei pouco da vida dela. Estou engatinhando um pouco nas pautas raciais, sou estudante em formação da psicanálise hoje e fui provocada a falar sobre isso [...] Tenho que estudar essa história de Maria Odília aí, entender a minha ancestralidade”, finaliza.

Legado de amor

Irmã Dulce acolheu, ajudou e supriu as necessidades dos pobres
Irmã Dulce acolheu, ajudou e supriu as necessidades dos pobres | Foto: Arquivo A TARDE

Renúncia. Palavra forte, sinônimo, muitas vezes, de mudanças radicais. O significado, no entanto, não pareceu assustar a menina Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, que decidiu largar a vida de classe média para se dedicar às pessoas doentes e com poucas condições financeiras. Suas ações eternizaram a figura de Irmã Dulce dos Pobres, primeira santa brasileira e fundadora das Obras Sociais (Osid) que levam o seu nome, uma das maiores redes assistencialistas do Brasil.

Para a historiadora Jamille Macedo, o fato de Irmã Dulce ter sido mulher aumentou ainda mais o impacto do seu nome no imaginário popular. “Sua trajetória, desde sua juventude, dedicada a aliviar o sofrimento humano de pobres e doentes a fez ser conhecida, reconhecida e amada por muitos baianos e também por importantes figuras da Igreja Católica, como o papa João Paulo II que fez questão de visitá-la quando esteve no Brasil [...] A história de vida dessa mulher também reitera o protagonismo feminino em diferentes espaços”, afirma.

A poucos metros da Obra construída por Dulce e bem pertinho da igreja-lar do Senhor do Bonfim, também na Cidade Baixa, uma outra ‘Irmã’ se dedica a conseguir doações para acolher pessoas em situação de vulnerabilidade social. É Violeta Schindler, brasileira de origem alemã, nascida e criada na região, uma contemporânea do “Anjo Bom da Bahia”.

Apesar de ser conhecida como ‘Irmã Violeta’ e de usar vestes semelhantes ao hábito religioso, ela não é freira, como muitos acham. “Nunca passei por um convento. Sou apenas uma discípula de Jesus”, explica ela. No entanto, a renúncia, aquela palavra forte na vida da Santa Dulce dos Pobres, não deixa de estar presente também em sua trajetória.

Irmã Violeta se dedica a pessoas em situação de vulnerabilidade social
Irmã Violeta se dedica a pessoas em situação de vulnerabilidade social | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Violeta era professora de inglês, já morou fora do país e foi até casada por nove anos. Com o ex-marido, ela também teve um filho, o médico Kurt Wolfgang. Hoje ela tem muitos outros, afinal, considera todos os acolhidos em sua ‘Casa de Encontro e Oração’, seus filhos. A prole é grande: são quase 200 os atendidos no local, que funciona das 7h30 às 12h, e oferta, além de café da manhã e almoço, atividades educativas para mulheres e conforto espiritual por meio das orações.

“Antes, quem frequentava a Casa eram apenas pessoas em situação de rua ou dependentes químicos, mas com a situação piorando, fome e desemprego, estão vindo das mais variadas situações [..] Para mim, eles não são assistidos nem acolhidos. Eles são meus filhos e filhas. Amo cada um com amor de mãe, trato cada um com a sua particularidade [...] Minha vocação é essa, de mãe”, pontua.

Sobre as dificuldades em manter sua obra, Irmã Violeta diz que o maior desafio é atender todos os filhos que sofrem. E se a colocação parece familiar, é porque é mesmo. “Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura", já dizia Irmã Dulce.

De todo modo, a Irmã Violeta não se incomoda com as comparações com a Santa baiana. Tratando Dulce como instrumento divino, ela diz querer seguir o exemplo. “Desejo ser instrumento de paz, levar o amor de Deus, testemunhar o amor de Jesus para as pessoas. E se isso acontece, eu fico feliz”, declara.

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