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ENTREVISTA – SUELY TEMPORAL

‘Ninguém defenderá a liberdade de imprensa em nosso lugar’

Nova presidente da ABI destaca a necessidade de união dos jornalistas para fortalecer a liberdade de imprensa

Divo Araújo

Por Divo Araújo

15/09/2025 - 6:00 h
Suely Temporal, presidente da  Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
Suely Temporal, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) -

Primeira mulher a presidir a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) em 95 anos, Suely Temporal assume a entidade com a missão de preparar o centenário e enfrentar os novos e antigos desafios do jornalismo.

“Esperamos que o jornalista abrace a ABI e venha para dentro da entidade”, afirma ela, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE. “A Associação é absolutamente necessária, porque o propósito dela é defender a liberdade de imprensa. E só faremos isso se estivermos unidos”, acrescenta.

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Dois dias após a posse, Suely destacou como prioridade resolver o impasse de quase uma década com a prefeitura sobre o aluguel do edifício da ABI na Praça da Sé, que também abriga órgãos municipais. “Meu projeto número um é resolver essa pendência. Sem isso, não conseguiremos avançar com as outras iniciativas.” Saiba mais na entrevista a seguir.

Você é a primeira mulher a presidir a ABI em 95 anos. Que simbolismo esse marco traz para o jornalismo baiano e, especialmente, para as jornalistas que atuam na área?

Isso é uma consequência da caminhada que a própria ABI tem feito nos últimos anos. Eu acompanho a entidade há algum tempo, desde que ingressei como associada, há cerca de 10 anos, ainda na gestão do doutor Walter Pinheiro. Depois, na primeira gestão de Ernesto Marques, fui conselheira. Na segunda gestão, fui segunda vice-presidente e agora sou presidente. Desde então percebo que há um movimento da própria ABI de estar em sintonia com os tempos atuais. E, hoje, as mulheres têm um papel relevante na imprensa. Elas são maioria, embora não haja uma pesquisa nesse sentido. Mas, visivelmente, podemos dizer que as mulheres são maioria no mercado de trabalho da imprensa baiana, nas assessorias, nos veículos, nas redações. A minha chegada à presidência da ABI é uma consequência disso. É uma consequência do mercado e da trajetória que a ABI vem trilhando no sentido de se manter em consonância com os tempos atuais.

Diante desse cenário, você considera necessário que a ABI adote políticas de equidade de gênero ou isso já faz parte da própria dinâmica do mercado?

Isso é uma coisa que eu venho sempre discutindo. Na diretoria passada nós tínhamos sete mulheres que faziam parte da diretoria, e até brincávamos que era a casa das sete mulheres. Então, criamos um grupo de discussão e falávamos muito sobre isso. Ah, vamos fazer uma comissão de mulheres. E eu fui contra, porque entendo que a pauta da equidade de gênero não é exclusiva das mulheres. Não é uma luta, ou não deve ser uma luta exclusiva das mulheres. Deve ser uma luta das mulheres e dos homens. Deixar a questão de gênero dentro de uma caixinha me incomoda. Porque ali ficam só as mulheres discutindo os problemas das mulheres com as mulheres, sem envolver os homens. E eu acho que toda luta social precisa ser travada pela sociedade como um todo. Tem que haver um engajamento coletivo, e não ficar dizendo que isso é coisa de mulher. Não. Essa pauta, essa luta, essa questão da equidade de gênero é uma luta da sociedade. Porque quando você promove a equidade de gênero, você consegue uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais humana.

Em seu discurso de posse, você afirmou que a ABI deve ser uma casa aberta, pulsante e plural, capaz de unir passado e presente para construir o futuro. Quais iniciativas concretas pretende adotar para fortalecer o papel da imprensa nesse cenário contemporâneo?

A Associação Bahiana de Imprensa sempre foi uma casa aberta ao debate. A ABI não é um sindicato, não é um poder fiscalizador. Qual é o papel da entidade? A ABI é um espaço de promoção da reflexão e do debate. Então, acho que, para atingirmos esse objetivo, precisamos continuar cumprindo esse papel de promover debates com a sociedade, com os jornalistas, com os intelectuais, chamando-os para discutir os assuntos que estão aí prementes. Não só a questão da equidade de gênero, mas também a inclusão e a formação dos jovens jornalistas. Quero muito atrair os jovens jornalistas para a ABI, até para garantir a perpetuidade da entidade. Também é fundamental dar continuidade ao trabalho que já vem sendo feito, como o projeto da Revista Memória da Imprensa e a Série Lunar, que é um projeto cultural. Além disso, envolver cada vez mais outras entidades, trazer a ABMP (Associação Brasileira do Mercado Publicitário), o Sinapro (Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia),a ANJ (associação Nacional dos Jornais), e promover esse movimento de intercâmbio. Também quero fortalecer as parcerias com as universidades, algo que já vem sendo feito e que pretendo ampliar.

Você já mencionou o público jovem e as parcerias. O que mais pode ser feito para atrair novos associados à ABI?

No ano passado, fizemos um protocolo de feminicídio. Criamos uma cartilha, por inspiração da nossa colega Suzana Alice, que é um manual de boas práticas para jornalistas na apuração e redação de matérias, envolvendo feminicídio e violência contra a mulher. Porque muitas vezes, ao fazer uma reportagem sobre feminicídio, alguns erros acabam sendo cometidos e penalizam a vítima. Como dizer que ela morreu porque o marido era ciumento, porque usava roupa curta ou porque traiu o marido. E a gente não pode banalizar essa questão. Quando lançamos esse protocolo, começamos a visitar as redações, um trabalho corpo a corpo que pretendo ampliar. Também temos buscado mostrar que é fácil se associar à ABI. Inclusive online: basta acessar o site, clicar em “associe-se”, preencher o formulário e anexar os documentos necessários. O pedido será encaminhado para a comissão de novos sócios, que analisa e depois submete à diretoria para aprovar ou não o ingresso do profissional. É importante destacar que a ABI é uma entidade plural. Você não precisa ser jornalista para participar, mas é necessário comprovar militância na imprensa. Hoje a comunicação se dá de diversas formas: jornais de bairro, jornalismo comunitário, novas plataformas. Queremos nos aproximar desse novo mundo, dessa nova forma de fazer jornalismo — claro, sempre respeitando a ética e a responsabilidade — e trazer essas pessoas para dentro da ABI.

Diante do aumento de agressões a jornalistas na Bahia, a ABI e o Sinjorba criaram a Rede de Combate à Violência Contra Profissionais de Imprensa. Como essa rede vai articular veículos de comunicação, órgãos públicos e instituições de justiça para garantir proteção efetiva aos profissionais?

Essa rede é muito importante, porque não podemos normalizar a violência em nenhum nível, muito menos contra a imprensa. O que acontece atualmente é inadmissível. Existe violência contra os jornalistas em diversos níveis. A violência judicial, quando se usa a justiça para punir ou perseguir um jornalista. A violência verbal, a agressão verbal. E há também a violência física, que muitos jornalistas sofrem. Isso não é uma coisa nova, já acontece há muitos anos, mas hoje está mais exacerbado por conta de diversas questões que vivemos nos últimos anos, que levaram o jornalismo a passar por um momento de descrédito perante a opinião pública.

Vivemos hoje um cenário marcado pela proliferação de fake news e pelo enfraquecimento das empresas jornalísticas. Como a ABI enxerga esses desafios contemporâneos e de que forma pretende se posicionar em relação a eles?

É importante dizer que aqui quem fala é a presidente da ABI, não a ABI. Porque a entidade tem um pensamento plural. Nós temos na diretoria e no nosso quadro de associados pessoas que pensam das mais diversas formas, e que inclusive podem discordar de mim. Então, posso dar a minha opinião enquanto presidente da ABI. As fake news são um verdadeiro câncer na sociedade hoje. Elas atingem não apenas o jornalismo, mas, sobretudo, a sociedade. Porque a desinformação é algo que mata a democracia, que ajuda a destrui-la. Nós sempre tivemos essa preocupação de fomentar o debate. De novo: a ABI é uma casa aberta ao debate. Estamos sempre buscando realizar eventos que discutam essas questões. Já realizamos debates envolvendo fake news. Por exemplo, em cada lançamento da Revista Memória da Imprensa é realizado um fórum, um evento de debate sobre o tema da edição. Em uma delas, debatemos exatamente isso. Também já discutimos inteligência artificial e questões de segurança. Na verdade, estamos vivendo um mundo absolutamente novo. A ABI foi criada quando existiam apenas os jornais impressos. Hoje, não só a ABI, mas a sociedade como um todo está correndo atrás da tecnologia, que a cada dia reconfigura o cenário. E nós, como jornalistas e integrantes da ABI, temos esse papel de estar sempre discutindo essas novas questões que nos desafiam.

O impasse no contrato de locação do Edifício Ranulfo Oliveira com a prefeitura de Salvador já dura quase 10 anos e comprometeu projetos estratégicos da ABI, como o Museu de Imprensa. Que caminhos a nova gestão pretende adotar para destravar essa negociação?

As pessoas têm me perguntado muito, nesses dias, quais são meus projetos e objetivos atuais. O meu projeto número um é resolver essa pendência com a prefeitura. Sem isso, não conseguimos avançar com as outras iniciativas que temos. É importante dizer que não existe um problema político com a prefeitura, nem um rombo nas finanças da ABI. O que existe é uma dificuldade porque o aluguel está defasado há dez anos. Por conta disso, tivemos que reduzir nossas atividades para evitar déficit. Tivemos que demitir funcionários, fechar a biblioteca e o Museu da Imprensa, e não podemos tocar o projeto do Museu da Casa da Palavra, dedicado a Ruy Barbosa, que foi planejado pelo Gringo Cardia. O prédio da ABI é todo nosso. O Edifício Ranulfo Oliveira, inclusive o sexto e sétimo andar, abrigou o plenário da Assembleia Legislativa antes dela se mudar para o Centro Administrativo. A ABI ocupa o segundo andar, que é a nossa sede e abriga a biblioteca, e o oitavo andar, que é nosso terraço, onde fica o Auditório Samuel Celestino. Todo o restante é ocupado por órgãos da prefeitura. A receita desse prédio é o que mantém a ABI. Por causa da defasagem no aluguel, tivemos que buscar outras fontes de receita, iniciativa que atribuo muito a Ernesto Marques, um gestor incrível, que criou novas fontes de receita para que a ABI pudesse se manter. Mas isso é uma asfixia: novas receitas sem pessoal suficiente sobrecarregam a equipe. Por isso, minha prioridade é resolver essa questão.

Está otimista em relação à negociação com a prefeitura?

Não há mais por que prolongar isso. Eu já participei de várias reuniões como vice-presidente, acompanhando o presidente Ernesto Marques. Então, acredito que está mais perto do que longe. Estou otimista. Eu sou uma pessoa otimista sempre.

Você já mencionou a Revista Memória da Imprensa como uma iniciativa a ser fortalecida. Como pretende ampliar a relevância da publicação?

Essa revista realmente caiu no gosto das pessoas, porque se falava muito, ah, a revista morreu e ninguém mais quer saber de revista. Ao contrário, estamos com um produto que está sendo muito bem recebido, tanto do ponto de vista publicitário quanto de conteúdo. É uma das novas fontes de receita, e pretendemos continuar investindo nela. Vamos planejar ainda mais: temos um novo diretor de comunicação, Yuri Almeida, em quem tenho muitas expectativas, porque ele realmente entende do assunto. Todos da diretoria têm suas funções, e cada um contribui de forma específica. Temos o diretor de comunicação, nosso site, nosso perfil no Instagram, e a assessora de comunicação Josiane Guedes, que trabalha incansavelmente e ajuda muito. Também contamos com o diretor de diversidade e inclusão, e pretendemos discutir várias iniciativas nessa área, que ainda não posso detalhar, mas serão prioridades. Agora, a prioridade zero é resolver a questão com a prefeitura, pois a partir daí tudo poderá avançar. Renata Vidal, secretária de Comunicação de Salvador, esteve na minha posse; é uma pessoa bastante razoável e próxima, e sei que com a ajuda dela conseguiremos avançar. O secretário Cacá Leão não pôde estar presente, mas mandou seu assessor de comunicação para representá-lo. Estamos muito animados para tentar chegar a um bom termo.

A Série Lunar já é um evento consolidado na programação cultural da ABI. Há planos de expandir essa iniciativa para aproximar ainda mais a entidade da sociedade?

Esse é um projeto muito bacana, sempre realizado às quartas-feiras, uma vez por mês. Existe uma parceria com a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, na qual os alunos fazem apresentações na sempre primeira quarta de lua cheia, no Auditório Samuel Celestino. Temos muito orgulho e prazer em manter essa parceria. O evento é gratuito, até a lotação do espaço, mas é preciso chegar cedo para garantir lugar, porque atrai muito interesse. A cada mês, o programa é diverso: tem música clássica, chorinho, tem música barroca, e já tivemos até um concerto de harpa. Nossa diretora de cultura, Yara Vasco, continuará dando seguimento a esse projeto.

O prédio Ranulfo Oliveira tem uma localização privilegiada no Centro Histórico de Salvador. Como a ABI pretende aproveitar esse espaço e se integrar ainda mais à vida cultural da cidade?

O prédio Ranulfo Oliveira está dentro do sítio histórico da Praça da Sé e do sítio histórico de Salvador. Pretendemos nos envolver cada vez mais nos eventos relacionados a esse local. Queremos participar da Flipelô, dos festivais promovidos pela prefeitura e dos eventos promovidos pelo governo do Estado. Queremos estar inseridos nesse contexto, pois temos um lugar belíssimo. Você já conhece o terraço, nosso auditório Samuel Celestino? Temos uma varanda maravilhosa, com vista de 180 graus para a Baía de Todos-os-Santos e para a cidade. Do lado esquerdo, você vê a Baía de Todos-os Santos; e do lado direito, quase toda a cidade. É um local muito bonito e bem preservado, porque cuidamos do nosso prédio e do nosso patrimônio na medida do possível. Queremos nos envolver cada vez mais nesse contexto do centro histórico.

O que os profissionais de comunicação podem esperar da nova direção da ABI nos próximos anos?

Eu acho que mais do que esperar da direção, é o que esperamos do jornalista. Esperamos que o jornalista abrace a ABI, que venha para dentro da entidade. A Associação é absolutamente necessária. Por quê? Porque o propósito da ABI é defender a liberdade de imprensa. Nós, profissionais de imprensa — jornalistas, radialistas, empresários da comunicação — precisamos nos unir justamente para defender essa liberdade. Ninguém fará isso por nós; quem fará somos nós mesmos. Conclamo a todos que têm interesse em defender a liberdade de imprensa a se unir à ABI nessa trajetória. E rumo ao centenário. Assumo a ABI aos 95 anos da entidade, e tenho a responsabilidade de preparar o centenário. Mas, como disse, primeiro precisamos resolver as pendências financeiras. Depois disso, aí sim poderemos conversar sobre o centenário da ABI. Já existem várias ideias, mas tudo depende de recursos. Sem dinheiro, não conseguimos realizar nada.

Raio-X

Suely Temporal é jornalista formada pela UFBA, com especialização em Marketing e Propaganda e em Convergência Midiática. Chefiou o Departamento de Jornalismo da TV Band/Bahia e liderou as equipes de reportagem do Jornal da Bahia e do Correio. Atuou como assessora de imprensa em diversas instituições, incluindo a Câmara Municipal de Salvador e a Assembleia Legislativa da Bahia. Há 26 anos, fundou e dirige a AT – Comunicação Corporativa, pela qual assessora empresas nacionais e internacionais na área de comunicação. É também fundadora e gestora do perfil De Repente Sessentona, dedicado a debater o envelhecimento de forma leve e sem sofrimento.

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#CentenárioABI #EquidadeDeGênero #JornalismoBaiano #JornalistasUnidos #LiberdadeDeImprensa #SuelyTemporal ABI

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