BAHIA
Número de colisões de veículos em postes cresce 8% no primeiro semestre na Bahia
Ocorrências com motocicletas, em 2024, causaram 881 mortes superando as 743 vítimas de casos com carro
Por Ana Cristina Pereira

A violência do trânsito continua envolvendo condutores, pedestres e instituições públicas em uma equação de difícil resolução: como fazer o número de sinistros, mortes e internações diminuir, com o aumento do número de veículos circulando? Sobretudo de motocicletas, que no ano passado foi responsável por 881 mortes na Bahia, superando as 743 vítimas de acidentes de carro.
Um balanço divulgado pela Neoenergia Coelba ajuda a entender a gravidade dos números: a companhia registrou 1.899 colisões de veículos em postes no primeiro semestre no estado, um aumento de 8% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 1.748 ocorrências.
Feira de Santana, Salvador e Vitória da Conquista lideram o ranking, mas foi a presença de Luís Eduardo Magalhães no quarto lugar que chamou atenção, uma vez que a cidade do Oeste baiano é apenas o 17º município mais populoso do estado.
“Essa é uma região de pujança econômica, ligada às exportações agrícolas e com grande fluxo de veículos pesados”, explica Ricardo Bastos, gerente de operações da empresa, acrescentando que é preciso ter uma estratégia voltada para o interior do estado.
Além dos transtornos e prejuízos com a interrupção do fornecimento de energia elétrica, essas colisões acabam impactando a segurança tanto dos condutores quanto das pessoas expostas à rede eletrificada.
Apesar do crescimento dos números, o gestor destaca que apenas 32% dos casos provocaram impacto no fornecimento de energia, pois o uso de tecnologia permite o isolamento de trechos da rede elétrica e o religamento automático do sistema.
A orientação da Neoenergia é que as pessoas permaneçam dentro do carro, sem tocar nas partes metálicas, não se aproximar dos cabos e ligar para o 116 ou para o Corpo de Bombeiros (193) .
Segundo Ricardo, a substituição dos postes danificados e o restabelecimento da energia exigem um trabalho técnico complexo e que, muitas vezes, só pode ser iniciado após a liberação da perícia policial.
Sem falar nos custos, de cerca de R$ 6 mil por cada poste trocado, que pode ir parar na conta do infrator, se for registrado um boletim de ocorrência e ele for condenado judicialmente.
Álcool e velocidade
Como em outros acidentes de trânsito, no caso das colisões em postes os vilões são o excesso de velocidade, a ingestão de bebidas alcoólicas e a imprudência causada por vários motivos, como o uso do celular ao dirigir.
O primeiro semestre termina, segundo a Polícia Rodoviária Federal na Bahia, com 209 mil infrações e 1.956 sinistros nas estradas federais que cortam o estado.
Nos dados parciais do Detran-Ba, referente ao mês de janeiro e baseados nos registros da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), foram 413 mortes e 366 internações na rede hospitalar pública.
Números que confirmam a tendência de crescimento que fez de 2024 o ano com
mais mortes no trânsito da última década, com um total de 2.887 casos. “Quase 3 mil pessoas perderam a vida, sendo que 90% destas mortes poderiam ser evitadas com o respeito à sinalização e às regras de não ingerir álcool e não falar ao celular”, reforça Rodrigo Pimentel, diretor-geral do Detran na Bahia.
Os números altos colocam o Brasil como o terceiro no ranking mundial de mortes de trânsito e, segundo Rodrigo, refletem uma aceitação quase natural da sociedade em relação a este tipo de morte. “É uma questão histórica e cultural”, acredita Rodrigo, que faz uma comparação aos acidentes aéreos, que costumam causar uma grande comoção na sociedade.
Para transformar
Mexer nesse cenário é o desafio das autoridades responsáveis pelo setor e foco de campanhas como a Semana Nacional do Trânsito, mobilização nacional que acontece em setembro. Segundo Rodrigo, a abordagem será educativa e voltada para crianças e jovens.
“Os países que tiveram sucesso investiram na formação das novas gerações para que elas cresçam obedecendo às regras”. O público adulto, pondera, só costuma responder com fiscalização e imposição de multas.
Um grupo que tem merecido atenção são os motociclistas, que hoje representam 50% da frota motorizada do estado. Rodrigo cita o programa Condução Decente, uma capacitação para motociclistas que trabalham na condução de pessoas e de mercadorias e envolve vários órgãos do estado.
Nesta primeira rodada serão 6,5 mil profissionais, em 75 cidades. Quem completar o curso, que é gratuito, receberá no final um kit de EPIs com colete, capacete, antena de proteção, joelheiras, cotoveleiras e bags.
Em Salvador, afirma Marcos Reis, Gerente de Trânsito da Transalvador, o número de acidentes envolvendo motos é realmente uma preocupação, com consequências tanto para condutores quanto para passageiros. No ano passado, das 176 mortes registradas, 50% envolveram motociclistas.
“Nossa gerência de educação tem trabalhado em campanhas em prol da redução da velocidade, uso de equipamentos se segurança e formalização, com a aquisição da CNH”, cita Marcos, acrescentando que o objetivo é mitigar e reduzir os sinistros. Neste primeiro semestre, a Transalvador contabilizou 60 acidentes com mortes e 1768 com feridos - em 2024 foram 69 e 1712, respectivamente.
Uma das ações implementadas pelo órgão foi a instalação, em março, de uma motofaixa exclusiva na Av Bonocô. “Em breve vamos divulgar os dados desta fase experimental”, informa Marcos, acrescentando que a equipe de projetos está desenvolvendo estudos para expandir as motofaixas para outras avenidas de grande circulação da cidade.
“Nós atuamos avaliando locais e horários com maior incidência de sinistros, para adotarmos medidas como instalação de redutores de velocidade, fiscalização e câmera de monitoramento”, detalha Marcos, citando as avenidas Paralela, ACM e Octávio Mangabeira como as campeãs de acidentes da cidade. “O trânsito seguro é um direito de todos e nós temos que ter consciência, como cidadãos, de respeitar o outro e obedecer as regras”.
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