ENTREVISTA – GENERAL ANDRÉ LUIZ RIBEIRO
"O Exército manterá as diversas operações de apoio à sociedade"
Comandante da 6ª Região Militar explica, em entrevista exclusiva ao, as ações da Força Armada no estado
Por Divo Araújo
O novo comandante da 6ª Região Militar, o general André Luiz Aguiar Ribeiro volta a morar em Salvador depois de 30 anos e com uma série de desafios pela frente. Dentre eles está o de manter o espírito funcional, a proatividade e o bem-estar dos integrantes do Exército. “Nós temos um público interno constituído por oficiais, tenentes, sargentos, cabos e soldados, que são o nosso principal ativo. E dou um destaque todo especial ao fato que a maioria é oriunda da sociedade soteropolitana”, pontuou o general, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE.
Mais do que isso, conforme explicou o comandante que tomou posse em dezembro, a 6ª Região Militar tem a missão de continuar apoiando a população baiana, seja através de operações emergenciais como ocorreu no final de 2021, quando fortes chuvas atingiram o sul do estado, seja no apoio permanente a população do semi-árido com a distribuição de água através de carros-pipa. Conheça mais sobre essas atividades na entrevista que segue.
O senhor assumiu em dezembro o comando da 6ª Região Militar, cuja visão é ser reconhecida “pelo elevado nível de capacitação operacional, logística e administrativa, pela imagem positiva na comunidade local, pelo espírito profissional, proatividade e bem-estar de seus integrantes”. Como trazer essa visão para o dia-a-dia da instituição?
Essa visão é materializada a partir do momento que nós chegamos à unidade e naturalmente quando nós retornamos para nossas residências. Eu preciso falar sobre alguns aspectos que são importantes até para compreensão do que essa visão da 6ª Região Militar. Temos um comando sediado na capital soteropolitana, temos 15 organizações militares de combate e de apoio ao combate, temos 18 tiros de guerra (instituição militar encarregada de formar reservistas). Desse montante, 14 organizações militares estão situadas na Bahia. E 16 dos 18 tiros de guerra também estão na Bahia. Isso nos dá um efetivo de aproximadamente 5.300 militares da ativa. Nós temos organizações militares aqui em Salvador, em Feira de Santana, Paulo Afonso, Barreiras, Ilhéus e em Aracaju (Sergipe), para citar alguns lugares. Falando agora especificamente sobre como materializamos essa visão. A visão é ser reconhecido no âmbito do Comando Militar do Nordeste pelo elevado nível de capacitação operacional, logística e administrativa, que na realidade nós já temos. Isso é fato. Nós procuramos sempre estabelecer metas mais alvissareiras e manter a imagem positiva que nós temos perante a sociedade, não só da Bahia, mas também de Sergipe. E manter o espírito funcional, a proatividade e o nosso principal ativo, que é o bem-estar de nossos integrantes. Nós temos um público interno constituído por oficiais, tenentes, sargentos, cabos e soldados, que são o nosso principal ativo. E dou um destaque todo especial ao fato que a maioria é oriunda da sociedade soteropolitana. Eles trazem consigo – excetuando oficiais e sargentos de carreira, que nem todos são de Salvador - uma carga da sociedade que, junto aos valores, aos princípios, à ética militar, nos permitem chegar a essa zona futura. A cada período, a cada renovação de comando, a cada chegada de um novo comandante, essa visão de futuro vai sendo consubstanciada.
Dentre as atribuições da 6ª Região, estão as chamadas atividades de Preparo e Emprego, que são atividades fim do Exército. Queria que o senhor fizesse um balanço dessas atividades?
A minha preocupação, ao falar de Preparo e Emprego, é fazer isso de uma forma que fique compreensível. A atividade de preparo e emprego é toda atividade que visa transformar o nosso principal ativo não só num eficaz instrumento de combate, mas também para participar das nossas atividades com as suas subsidiárias. Nós temos um Centro de Coordenação de Preparo e Emprego chefiado por um coronel que tem essa incumbência. Eu falei na transformação da tropa num eficaz instrumento de combate, mas também na realização das diversas operações de apoio à sociedade, que comumente chamados da Mão Amiga. Ainda nesse viés, as unidades que são subordinadas a 6ª Região Militar estão permanentemente se preparando no tocante a instrução individual, ao adestramento, a nossa atividade fim muito bem definida, nas missões de defesa da pátria e permanentemente também em condições de cooperar com o desenvolvimento nacional e a nossa defesa civil. Vou passar algumas experiências nos últimos anos que tivemos principalmente no tocante ao emprego. Nós fomos empregados para diversas situações na Bahia e também fora do estado. Por exemplo, em 2014, nós empregamos uma unidade para evitar o conflito entre indígenas e agricultores no extremo sul do estado. Tivemos participação no Rio de Janeiro na pacificação do Complexo da Maré. Com a Polícia do Exército, em 2017, quando eu era chefe de um centro de coordenação do preparo emprego, estivemos em Pernambuco na ocasião de greves dos órgãos de segurança pública. Participamos da Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016. Apoio à defesa civil durante a enchente no sul da Bahia, no final de 2021. Tudo isso com a preocupação latente de cumprir a missão, mas não esquecendo que, nessas ocasiões, nós estávamos em contato com a sociedade local. É uma amostra muito significativa de atividades relacionadas ao preparo.
Ainda nesta seara, a 6ª Região Militar tem apoiado a Defesa Civil do Estado em operações como de carro-pipa, por exemplo. Como se dá essa parceria?
Todas essas participações estão na vertente da Mão Amiga. Eu vou passar algumas experiências e vou deixar a resposta específica sobre as operações com carro-pipa por último, mas não por isso menos importante. Na vertente Mão Amiga nós temos a participação da 6ª Região Militar contribuindo, por exemplo, com obras de infraestrutura, na formação de mão de obra qualificada, estimulando a cultura e o desporto. Nós temos a participação, não só da 6ª Região, mas do Comando Militar do Nordeste como um todo, na promoção do respeito à natureza, na redução de carências sociais, em parceria com agências governamentais, no combate aos efeitos da seca na Bahia e também em outros estados. Temos alguns exemplos clássicos. No final de 2021, início de 2022, nós tivemos cerca de 500 militares pertencentes a diversas organizações militares atuando no sul do estado para minimizar os danos das fortes chuvas que atingiram a região. Tivemos, na operação, militares de Feira de Santana, Barreiras, Paulo Afonso. Lá nós tínhamos também elementos de fora da Bahia, tínhamos aeronaves que vieram de Taubaté, do Batalhão de Aviação do Exército. Nós tivemos cerca de 50 viaturas participando desta operação. Tivemos escavadeiras, retro-escavadeiras, carregadeiras e outros equipamentos que são característicos de mobilização militar de engenharia. Essas tropas foram empregadas no resgate e alocação de pessoas desabrigadas. Tudo com a intenção de minimizar o sofrimento de milhares de cidadãos baianos. Tivemos parcerias muito exitosas com a Defesa Civil em Salvador. E o mais importante é o fortalecimento das instituições. Porque na realidade, é o intercâmbio que traz oportunidades de crescimento para ambas as partes. Vou falar agora especificamente da operação carro-pipa. Nós somos um dos atores dessa operação. Mas não temos a atribuição de definir os municípios que serão efetivamente aquinhoados pelo abastecimento dos nossos carros-pipa. Nós realizamos, sim, a coordenação da entrega por intermédio dos pipeiros. Nós temos uma fiscalização muito intensa para ter certeza que o serviço está sendo realizado, porque nosso compromisso maior é com a população. A participação do Exército nessa operação carro-pipa vem de uma ação que perdura por mais de 20 anos. Por que será? Compromisso pela confiabilidade que nós temos enquanto instituição. E pelo compromisso que temos com a sociedade.
Ainda falando em parcerias, sei também que a 6ª Região Militar desenvolve ações na área cultural...
Quando você conhece Salvador e tem a oportunidade de retornar, como é meu caso agora, à frente de um grande comando administrativo, fica mais facilitada à parceria em relação aos aspectos da cultura. A cultura é rica, esplendorosa. Em todos os cantos que passamos nós encontramos vestígios ou materialização da história através da cultura. Temos algumas parcerias em andamento com a prefeitura de Salvador, muito significativas e exitosas, particularmente pela questão do intercâmbio. Há ganhos para ambas as instituições. Aí destaco o Forte de Santa Maria e o Forte de São Diogo. E nós temos a intenção de estender essa parceria para o Forte de Monte Serrat. O pôr-do-sol no Farol da Barra é maravilhoso. Já se tornou um cartão-postal para os turistas que visitam Salvador. Mas arrisco a falar que o pôr-do-sol no Forte Monte Serrat, que é controlado por nós, é tão belo e atrativo. Dito isso, faço o convite para sentarmos e conversarmos com instituições para viabilizarmos outras parcerias em relação a essas fortalezas, em particular o Forte de Monte Serrat.
O senhor iniciou sua gestão agora em dezembro. Quais são os maiores desafios do senhor à frente do Comando da 6ª Região Militar?
O próprio exercício do cargo de comando é um grande desafio, mas temos alguns compromissos. Primeiro o de dar continuidade ao trabalho de excelência realizado por meu amigo, General Marcelo Guedon, a quem tenho muito apreço e tive oportunidade de trabalhar em diversas oportunidades. Poderia falar também do fato de ter iniciado minha carreira profissional aqui em Salvador, após minha formação na Academia. Isso me dá uma responsabilidade muito grande porque sei que, na cidade, há inúmeras pessoas – ex-subordinados, sargentos, soldados, amigos constituídos naquele período – que de certa forma depositam em mim uma esperança muito grande. Eu tenho hoje no quadro de oficiais, ainda que na reserva, coronéis que foram meus orientadores quando cheguei aqui como aspirante a oficial. Tenho responsabilidade também com essas pessoas. E minha responsabilidade com a instituição que me confiou o cargo de comandante da 6ª Região Militar. Mas tenho convicção que tudo isso vai acontecer de maneira muito natural como todas as missões que desempenhei ao longo da vida. Mas diria que meu maior desafio é continuar cumprindo esta missão de comandante exatamente da mesma forma que cumpri as anteriores, mas naturalmente com uma responsabilidade muito maior.
Ao assumir o comando da 6ª Região, o senhor volta a morar em Salvador depois de 31 anos, terra natal de sua esposa. Como foi esse retorno e qual a relação do senhor com Salvador e a Bahia?
Você tocou num aspecto interessante. Uma brincadeira que existe na caserna é que a esposa do militar está sempre a um posto ou uma graduação acima. Então, minha esposa é mais antiga do que eu. A família do militar de maneira geral sofre algumas consequências em razão de nossas movimentações que são permanentes. Não vou falar em prejuízo, mas em situações que, de certa forma, trazem algum desconforto. Nossos filhos, por exemplo, mudam o tempo todo de estabelecimento de ensino e isso compromete substancialmente a continuidade das atividades de ensino. Falando especificamente de minha esposa, que conheci aqui em 1992. Ela saiu de Salvador para a Academia Militar das Agulhas Negras (Rio de Janeiro), onde fui instrutor. Voltei em 1996 para casar na Igreja do Bonfim. Retirei uma cidadã soteropolitana de Salvador, e depois ela nunca mais voltou a cidade para morar. Então, você imagina a satisfação, depois de tanto tempo, de voltar para a cidade, para cultura dela e muito particularmente para o berço da família. É um momento de muita felicidade familiar e naturalmente tem um impacto direto no desempenho profissional. Se já sou muito feliz e realizado profissionalmente, esse retorno para mim, pelo momento familiar, não tenha dúvida que é um total alinhamento dos astros. Tem tudo para contribuir no meu desempenho à frente do Comando da 6ª Região Militar.
Existem dois estabelecimentos de ensino do Exército na cidade – o Colégio Militar de Salvador e a Escola de Saúde Formação Complementar do Exército. Os resultados das unidades são satisfatórios?
Eu não fui oriundo do colégio militar, o que não aconteceu com os meus filhos. Meus dois filhos mais velhos estudaram no colégio militar. Eu vou passar algumas informações para descortinar as possibilidades para aqueles pais que, assim como os meus, não tinham conhecimento sobre o colégio militar. Até para saberem que existe uma possibilidade de acesso. O nosso Colégio Militar de Salvador é uma referência no âmbito da Força e é uma referência em relação ao ensino público, não só da Bahia, mas do Brasil. Gostaria de destacar, por exemplo, que em 2022 a taxa de fracasso escolar no Colégio Militar de Salvador girou em torno de 1%. Em 2023, nem 1%. Na premiação de qualidade do sistema colégio militar do Brasil, ele recebeu o Troféu Thomaz Coelho em 2022 e 2023 por ser o primeiro colocado entre os 15 colégios militares. Há de se destacar também que, na prova centralizada do Ensino Fundamental, obteve a segunda colocação. Ficou em quarto na prova centralizada do Ensino Médio. Em relação ao Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico, o Ideb, nosso Colégio Militar de Salvador obteve a média de 6,8. Foi o primeiro lugar na Bahia e ficou em segundo no sistema de colégios militares do Brasil. É décimo lugar entre as escolas públicas de todo o Brasil. No que tange ao Enem, obteve a média de 651.3. Foi a primeira escola pública do estado da Bahia. Faço destaque em relação as olimpíadas de conhecimento, com 455 condecorações em 2022. Em 2023 nós já temos um escore parcial com 478 premiações. Aí pergunto: qual pai, qual mãe não buscaria ter o filho num estabelecimento de ensino com essas referências? Tudo isso tem sido possível, não só pelo comprometimento do corpo docente e discente, mas muito particular pelas parcerias que têm sido realizadas com outros estabelecimentos de ensino daqui de Salvador. Este intercâmbio tem sido fundamental para a obtenção desses índices. Para os pais e responsáveis, que estão lendo, podem ter certeza. Existe a possibilidade de ter acesso através de processo seletivo público e outras informações podem ser obtidas no Colégio Militar ou ainda aqui por intermédio do Comando da 6ª Região. Sobre a Escola de Saúde Formação Complementar do Exército, gostaria de destacar que ela é a única Escola de formação de oficiais no Nordeste com essa característica. Ela é uma junção da antiga escola de saúde, que estava situada no Rio de Janeiro, com a escola de formação complementar do Exército que já existia aqui na capital soteropolitana. Alguns dados importantes sobre essa escola. Ele formou recentemente 110 novos oficiais de carreira recentemente, sendo 48 médicos, cinco dentistas, 10 farmacêuticos, três capelães militares e 44 integrantes do quadro complementar de oficiais. Para este ano, há a meta de superar esses números que acabei de destacar.
Na área da saúde, o Exército vem trabalhando na reforma e ampliação do Hospital Militar. Como está este trabalho?
De fato a Força vem realizando um grande investimento na revitalização do Hospital Geral de Salvador, que é uma organização militar de saúde centenária. Esta organização militar de saúde tem sua origem na antiga enfermaria dos Jesuítas, em 04 de outubro de 1799, no então Hospital da Cidade, situado no Terreiro de Jesus. Lá funcionou também a primeira escola de medicina do Brasil. Foi denominada Escola de Cirurgia da Bahia até a aquisição do Solar do Barão do Castro Neves, no Alto das Pitangueiras, em Brotas, onde nosso Hospital Geral de Salvador está até hoje. Esse hospital atende pacientes da Bahia e também de Sergipe. São servidores civis do Exército, militares da ativa, veteranos, pensionistas, ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira e milhares de jovens recrutas, normalmente oriundos de comunidades carentes, o que de certa forma também desonera o Sistema Único de Saúde. Essa grande reforma de adequação e ampliação das instalações prevê a construção de um novo edifício hospitalar, que chamamos de edifício-âncora, e terá adequações e revitalização daquelas instalações que são mais antigas. Tudo em consonância com normas de sustentabilidade e preservação do meio ambiente.
Para concluir general, o senhor vem de origem humilde. Queria que o senhor falasse um pouco da importância da família do senhor para chegar onde chegou?
Fala-se muito da origem do comandante da 6ª Região Militar. Minha origem realmente é muito humilde, naturalmente com valores e educação eivada em princípios muito basilares. Meu pai era um assalariado, oriundo do Rio de janeiro, também cidade de minha mãe. E realmente ele só sabia escrever o nome dele e mais nada. Minha mãe estudou um pouquinho. Mas esse pouquinho mais é até a antiga segunda série do terceiro ano. Mas isso de maneira nenhuma teve o comprometimento da educação familiar minha e de uma irmã que ainda reside no local de minhas origens. Respondendo objetivamente: a minha educação, apesar da simplicidade dos meus pais, foi uma educação cartesiana, eivada de princípios, que só veio encontrar uma total união com os valores, os princípios e a ética militar. Aproveito para fazer um destaque: o Exército brasileiro, a instituição a quem devo quase tudo, mas não veio nada de grátis, porque tenho meus méritos próprios, me abraçou, me deu oportunidade, que dificilmente teria em outra instituição. Não perguntou de onde eu vinha, não perguntou a origem dos meus pais, a minha religião. Simplesmente como acontece com todos os integrantes do Exército brasileiro identificou em mim méritos e permitiu me tornar a situação de oficial general comandando hoje uma região militar da grandeza e da estatura da nossa Região Marechal Cantuária.
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