Pai que agrediu filhas na praia em Salvador é ouvido pela polícia

O homem flagrado em um vídeo agredindo as duas filhas, de 7 e 10 anos, no último domingo, 1º, na praia de Itapuã, se apresentou nesta terça-feira, 3, à Polícia.

Ângelo Manoel Miranda, de 28 anos, foi ouvido no final da tarde, no Complexo de Delegacias do bairro Sobradinho, em Feira de Santana, cidade onde reside a família do investigado.

Segundo as informações policiais, durante o depoimento à delegada Danielle Mattias, ele confirmou o que já havia dito em um vídeo, postado pela manhã. O homem admitiu ter errado e que tudo aconteceu em um momento de desespero, já que uma das filhas havia sumido. Atordoado, a ação teria acontecido no calor do momento. Após ser ouvido, ele foi liberado.

Já as duas crianças, devem ser ouvidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Feira de Santana. Em seguida, o procedimento será encaminhado para a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), considerando que o caso ocorreu na capital baiana. O Conselho Tutelar também está em contato com a Polícia Civil, com o objetivo de contribuir com a apuração dos fatos.

Identificação e repercussão

A Polícia Civil tomou conhecimento e conseguiu identificar Ângelo Manoel graças a um vídeo gravado por um banhista, na praia de Itapuã, em Salvador.

As imagens são chocantes e logo viralizaram na internet. Nelas, o homem aparece, sem camisa, dando uma sequência de chineladas nas crianças. Depois, ele levanta uma delas e a joga ao chão. “Cadê os caras para arregaçar ele?”, perguntou uma mulher que presenciou a cena.

A repercussão do vídeo foi tão grande que até a cantora Ludmilla compartilhou em sua conta no Twitter e cobrou providências.

"Não existe contexto que justifique essa violência. O que mais me deixa indignada é que ninguém fez nada. Bora fazer alguma coisa Ministério Público da Bahia", dizia na postagem que, inclusive, marcava o MP-BA.

MP apura

Procurado pelo Portal A TARDE o órgão se manifestou. "O Ministério Público estadual tomou conhecimento nesta terça-feira, dia 3, dos fatos apresentados em vídeo que circula nas redes sociais, com um homem agredindo crianças em uma praia. O Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim) determinou a distribuição do material a uma Promotoria de Justiça para a devida apuração e tomada das medidas cabíveis contra o agressor e de proteção das crianças. O MP repudia qualquer ato de violência contra crianças e adolescentes".

Pai tentou se explicar

Pela manhã de terça, um vídeo no qual Ângelo 'justifica' a ação e diz ter 'errado', começou a ganhar a internet.

"Eu errei? Errei! Passei do limite, mas eu não matei as minhas filhas. Elas estão aqui comigo, tudo comigo, sob os meus cuidados. Eu que cuido e levo para escola. Minha vida é baseada nas minhas filhas", diz um trecho. Porém, ele continua a se justificar no vídeo. "Já não aguentava mais reclamar e explodi, estourei, eu errei, mas eu sou um pai e não um monstro, sempre cuidei bem".

Nas suas justificativas, ele ainda relata o que uma das filhas falou logo após o episódio."Ela ainda me disse: 'meu pai, o senhor errou, mas eu te amo. Eu não quero ver o senhor morrer. Eu dependo do senhor para tudo'".

Apesar da repercussão negativa, ele diz que recebeu apoio de algumas pessoas no local. "Muitos ali falaram: 'pai, o senhor tá certo, o senhor passou do limite, mas tem que educar".

Já pela tarde, foi a vez da filha mais nova, que aparece no vídeo sendo jogada ao chão, se pronunciar. Ao lado do pai, a criança diz que "ele não bate em criança, ele só bateu para educar a gente. Ele é um homem trabalhador, bota comida dentro de casa, é ele que faz tudo, que trabalha, que pega madeira. Ainda vocês fica fazendo isso com ele".

A menina ainda continua. “Foi de forma errada, mas não foi por perversidade e nem por maldade não”.

O que pode acontecer

Baseado na análise do vídeo, o advogado criminalista Alan Mata fez uma breve explicação do caso e de possíveis consequências.

"Ele transgrediu os limites físicos da criança. Inclusive, ele arremessa uma delas ao chão. Pelo código penal, ele pode responder pelo artigo 136 (Maus-tratos) e o artigo 129 que é lesão corporal. E por ser menor de 14 anos, aumenta a pena em 2/3".

De acordo com a lei brasileira, a pena para maus-tratos é de 2 meses a 1 ano de prisão e multa. Já para lesão corporal, é de detenção, de três meses a um ano.

Segundo o Mata, ele pode até ter a guarda das crianças suspensas, porém, "isso depende de alguns elementos".

O advogado aproveita ainda para salientar o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente. "É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor", diz a letra da lei.