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PUBLICADA EM LIVRO

Pesquisa destaca a relação entre desigualdade, racismo e saúde

Registro de internação hospitalar da população negra é 787% maior

Por Maurício Viana*

02/08/2023 - 7:15 h | Atualizada em 02/08/2023 - 9:30
Resultados buscam gerar dados da população que se tornem base para criação e implementação de políticas públicas para reduzir desigualdades
Resultados buscam gerar dados da população que se tornem base para criação e implementação de políticas públicas para reduzir desigualdades -

De acordo com a pesquisa “Morbidade hospitalar e fatores associados segundo a raça/cor”, capítulo dois do livro “Negligências e vulnerabilidades: aportes epidemiológicos para a saúde da população negra no Norte-Nordeste do Brasil (volume II)”, as internações hospitalares de população negra foram 787% maiores que as da população branca na Bahia entre 2008 e 2018. Além da pesquisa, o livro aponta a relação da desigualdade e do racismo como mais impactantes na saúde da população negra.

O estudo traz que, entre as doenças que mais afetam a população negra, estão as crônicas, tais como diabetes e hipertensão, cardiovasculares e respiratórias de forma que as mais prevalentes no período, segundo dados do SUS, foram: as doenças do aparelho respiratório (1.168.789 internações); algumas doenças infecciosas e parasitárias (1.044.296 internações); doenças do aparelho digestivo (856.265 internações); doenças do aparelho circulatório (782.732 internações); e lesões, envenenamentos e outras causas externas (695.401 internações).

A professora do programa de pós-graduação de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Edna Araújo, relata que o artigo foi um dos produtos de dissertação de mestrado de sua orientada Ionara Magalhães, com o apoio na coautoria de Nelson Fernandes, Felipe Souza Nery, Carlos Alberto Lima e Mona Gizelle Nery.

“Nós vemos que, por exemplo, as doenças infecciosas e parasitárias apareceram com grande número de internações. Não era esperado que ainda gerasse tanta internação porque são consideradas doenças da pobreza, como a tuberculose, a hanseníase e as vermes. Isso significa uma exposição demasiada desta população a este tipo de adoecimento. Além disso, as internações do aparelho respiratório na população negra foram oito vezes maior que a população branca”, comenta Edna.

Como causas, ela traz a condição de vida às margens do povo negro. “Essas doenças ocorrem mais predominantemente onde não há um esgotamento sanitário e uma estrutura adequada. Locais que, infelizmente, moram em grande parte a população negra”.

A pesquisadora complementa que existe uma relação, que é um dos principais focos de hipótese dos artigos do livro, entre a desigualdade, o racismo e as saúde. Por isso, os resultados das pesquisas buscam não apenas gerar apenas dados explícitos da atual situação do estado, mas que se tornem base para criação e implementação de políticas públicas para diminuir as desigualdades sociais e raciais no estado e no país.

“Nós sabemos que depois da pandemia ficou mais evidente o quanto o racismo impacta a vida das pessoas, não apenas quando uma discrimina diretamente a outra, mas de uma estrutura e um sistema racista que faz com que as pessoas negras, indígenas e quilombolas tenham menos acessos a serviços de saúde, emprego e renda. Quando fazemos uma comparação com o gênero, as mulheres negras sofrem ainda mais”, afirma.

A professora titular do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), coordenadora do programa integrado Família, Comunidade e Saúde (Fasa) e coautora do livro, Leny Trad, acrescenta, relacionando com sua área mais próxima às ciências sociais, que a doença infecciosa mais prevalente foi a leishmaniose. Ela coordena uma pesquisa no baixo sul da Bahia sobre empoderamento comunitário e estigmas de tratamento.

“É impressionante quando você olha essa área de leishmaniose cutânea, com muita concentração de casos, e encontra situações de precariedade nas moradias e na infraestrutura, inclusive, nos territórios quilombolas da região. Nós identificamos uma relação com uma doença considerada negligenciada, melhor, pessoas e territórios negligenciados, e o perfil delas. Mais de 80% da população, é composta por pretos e pardos, repetindo as mesmas mazelas de outros espaços”.

Livro

O segundo volume do livro, lançado nesta semana, reúne sete artigos científicos de pesquisadores do Norte e Nordeste do país, da Universidade Federal do Pará (Ufpa), Ufba, Uefs, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e Universidade Estadual do Pará (Uepa).

São abordadas questões relacionadas à saúde da população negra no Brasil, incluindo também o impacto da Covid-19 em comunidades quilombolas, tuberculose infantil, mortalidade por homicídio e a relação entre racismo, violência e saúde mental dos jovens negros.

A obra visa contribuir para a compreensão das condições de vida e saúde nessas regiões, reforçando a importância da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no país.

A pesquisadora Leny explica que as duas publicações, com a primeira mais voltada para as ciências sociais e a segunda para os dados da saúde, foram derivadas de inciativa do Programa de Cooperação Acadêmica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Procad/Capes).

Temáticas

O primeiro volume da publicação, lançado em dezembro de 2021, era denominado “Saúde-doença-cuidado de pessoas negras: expressões do racismo e de resistência”, enquanto o segundo foi a partir de uma rede multicêntrica de pesquisa e formação na temática da vulnerabilidade, da negligência e repercussões para a saúde.

*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira

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