CENSO 2022
Recenseadores relatam dificuldades e causos durante ação
Andanças, perrengues e anedotas fizeram parte do cotidiano dos funcionários do IBGE
Por Priscila Dórea
De porta em porta, uma história por vez. Os recenseadores são a força motriz do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e por isso o foco da terceira reportagem da série de A TARDE sobre o Censo 2022. A caminhada foi longa – de agosto de 2022 até junho de 2023 –, e entre entradas e saídas, o Censo 2022 na Bahia teve 13.877 recenseadores. Desses, 2.797 percorreram Salvador e o ‘Centenário’ traz hoje a história de três dos últimos recenseadores que coletaram dados na capital baiana: Edson, Elcio e Elza.
"Foi uma senhora andança", relata o recenseador Edson Cerqueira Maltez Junior, que realizou 2.300 entrevistas. Com 52 anos, essa já é a segunda participação de Edson na construção do Censo Demográfico: no Censo de 2010 ele foi supervisor. "Dessa vez mudei a perspectiva e foi realmente maravilhoso. Comecei com a pretensão de cobrir apenas três setores, mas no fim havia recenseado 43. Um dos momentos mais marcantes foi quando, depois de falar com meus superiores, realizei uma palestra para moradores de um prédio em que a recusa era muito grande", conta.
Após a palestra, Edson foi aplaudido e a fila de moradores para responder ao Censo foi formada. Apenas 5% dos mais de 70 domicílios do prédio se recusaram. Episódios como esse – e muitos outros antes e depois –, fizeram com que Edson se tornasse uma espécie de Rei de Desfazer Recusa. “Inclusive, quando estava para finalizar meu contrato, fui chamado junto com Elcio e Elza para realizar o recenseamento do Salvador Prime, onde a recusa dos moradores ficou bem conhecida. Me foram designados um pouco mais de 200 domicílios lá e consegui entrevistar por volta de 110”, lembra.
Já no caso Elcio de Andrade, de 54 anos, ser recenseador era um sonho antigo que ele realizou em grande estilo: ele teve, aproximadamente, 2.400 entrevistas registradas no sistema. “A minha primeira visita já me marcou bastante, pois foi em uma casa onde moram uma mãe com cerca de 90 anos e a filha, na casa dos 60, ambas aposentadas e já estavam com toda a documentação pronta quando bati na porta delas. Fui recebido com tanto carinho e atenção que sempre que enfrentava alguma dificuldade, lembrava delas para seguir em frente”, conta.
Outra visita que o marcou bastante foi a feita em um prédio com cerca de 60 domicílios, onde o síndico foi extremamente atencioso e organizou as entrevistas no salão de festas, acompanhando tudo de perto. “O momento da entrevista acabou se tornando uma animada e divertida reunião de condomínio”, lembra Elcio, que ainda explica que o Censo 2022 teve início com as pessoas ainda um pouco confusas sobre o objetivo dos recenseadores.
Por 2022 ser ano eleitoral, muitos confundiam Elcio com alguém que estava fazendo pesquisa para as eleições. Já no caso da recenseadora de 60 anos, Elza Maria de Oliveira, com frequência achavam que ela estava ali para resolver questões relacionadas ao atraso de cirurgias ou problemas com o Bolsa Família, o que a fez precisar explicar sobre o Censo e o IBGE algumas vezes. Ela realizou mais de 1.100 entrevistas em bairros periféricos.
“Quando as pessoas entendiam sobre o Censo, respondiam com a maior satisfação e chamavam os vizinhos para responderem também. Foi realmente muito satisfatório e uma verdadeira lição de vida passar por onde passei. Apesar de minha coleta ter sido em locais perigosos, onde indivíduos armados me abordavam às vezes, as pessoas eram muito carismáticas, generosas e com o astral lá em cima, apesar das dificuldades evidentes do dia a dia”, afirma Elza.
Idade
O Censo de 2022 foi o mais tecnológico da história e dada a grande variação de idade entre os recenseadores, houve certa preocupação no início acerca da adaptação e do rendimento deles. preocupação essa que se mostrou infundada, aponta o superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia. “O desempenho de grande parte dos recenseadores mais velhos foi fantástico e alguns foram essenciais na resolução de problemas em alguns lugares, inclusive. Acho que muito disso vem da própria figura deles, que passa segurança por causa dos anos de experiência”, reflete.
E para além disso, o papel da população incentivando os vizinhos e dos funcionários dos condomínios – especialmente os porteiros, destaca o superintendente –, também foram fundamentais para que esses dados fossem coletados. E isso exemplifica muito bem algo dito pelo chefe do ex-Agente Censitário Municipal (ACM), Guilherme Souza de Jesus, que hoje trabalha no setor de Pesquisa de Pós-enumeração (PPe) do Censo, verificando a qualidade do mesmo.
“Ele dizia que quem faz o censo é a população, a gente faz só a coleta dos dados. Para mim, participar disso foi a coisa mais gratificante e mais difícil da minha vida, agradeço muitos aos profissionais que participaram comigo. O Censo me ajudou a crescer como pessoa e me deu um norte para o profissional que quero ser”, relata Guilherme, que afirma que irá guardar muitas memórias do Censo 2022: das amizades com recenseadores e supervisores, até as idas em grupo a campo para tentar convencer um morador a dar a entrevista.
“Assim como os momentos de cansaço embaixo do sol, e situações que fazem a gente duvidar se vale a pena estar ali. Mas junto a isso há o suporte e dedicação de meus superiores, e principalmente a colaboração dos moradores que me deram comida, água, me trataram bem. Eles não só forneceram seus dados, mas ajudaram a encontrar e convencer outros moradores”, recorda Guilherme.
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