BAHIA
Romaria relembra a guerra de Canudos e a figura de Conselheiro
Por Cristina Laura, da Sucursal Juazeiro
“Acredito que sou a reencarnação de Conselheiro”, diz o artesão José Afonso da Cunha Martins, 59 anos, há dez participando das romarias realizadas no município de Canudos (413 quilômetros de Salvador), no sertão baiano, em lembrança ao massacre que totalizou 25 mil mortos entre militares e seguidores de Antônio Conselheiro, em 1897.
Ostentando uma longa barba branca, corpo magro numa figura alta, o artesão se envolve nas características do peregrino cearense que entrou para a história como líder de milhares de pessoas que resistiram até a morte na esperança de dias melhores no início do Brasil república.
É nesse clima de reverência que é realizada a 20ª romaria com tema “Canudos: Memória e Missão”. A intenção, segundo o padre Livio Piccolin é “manter a lembrança viva para que as pessoas não esqueçam a importância da história de Canudos, da guerra e da simbologia religiosa e social”. Ele diz que as Romarias servem para avivar a reflexão em torno “do que foi Canudos. Como viveram as famílias que seguiram Conselheiro, com a preocupação de rever tudo não apenas sob a ótica dos que acreditam terem vencido a guerra”.
Os 110 anos do massacre de Canudos são lembrados com religião, arte e circulo de debates. Já houve palestra sobre literatura de cordel, lançamento de livro, mostra de vídeo e debates. O bispo Luiz Cappio também está presente como palestrante, falando sobre ecologia e o rio São Francisco.
Em barracas montadas no centro da cidade, foi montada uma exposição de livros, mapas, fotos e artefatos que lembram a história de Canudos. Visitantes que lotam os três hotéis da cidade participaram do seminário “Canudos: Memória e Missão” tendo à frente o padre José Wilson Andrade, que também é um dos fundadores do Instituto Popular Memorial Canudos (IPMC), criado em 1993, a partir da necessidade da população em ter “um organismo para documentar os acontecimentos e preservar o material existente, valorizando a história sob o olhar do povo”.
Na sede do IPMC estão expostas fotos e quadros, relatos e a carta de Marlene Rosa Roriz onde registra a doação de exemplares da madeira e duas portas que seriam destinadas à construção da Igreja de Canudos, ainda na época de Conselheiro.
Madeira essa que deu origem ao mal entendido entre Antônio Conselheiro e o comerciante João Evangelista que acabou trazendo a guerra. Numa capela, ao lado do Instituto, cerca de 25 troncos de uma madeira hoje cuidada pelo IPMC contra a ação do tempo e cupim, são guardadas pela cruz que ficava entre a igreja velha e a nova, com os buracos das balas deixadas pela guerra que durou quatro anos.
A programação se estende até este domingo, com uma celebração eucarística em frente ao Instituto e depois os participantes seguem até o Parque Histórico de Canudos, mantido pela Universidade do Estado da Bahia desde 1997, onde acontece uma caminhada com duas paradas previstas: a primeira com o tema ‘Memória’ e a segunda ‘Missão’.
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