SÃO JOÃO
Festa diversa marca celebração na capital
Palcos espalhados pela cidade e eventos para todos os gostos garantem alegria de quem não vai para o interior
Por Priscila Dórea
Olha o São João aí gente! Nos bairros, grandes palcos, praças e até na porta de casa… Com programações diversas por toda Salvador – hoje mesmo dá tempo de fazer um esquenta no forró de sua rua, arrastar o pé no início da tarde no Pelô e depois descer pro Parque, viu? –, não é difícil perceber que o São João de Salvador é diversificado o suficiente para atender todos os gostos. E apesar das características únicas que indicam logo que o patrono da festança é São João, todas essas festas são únicas e mostram o quanto nossa Bahia é rica.
“A verdade é que nós temos sorte em ter nascido na Bahia, uma terra cultural e de cultura. Juntar africanos, indígenas e portugueses, nesse sentido, nos deu uma mistura boa. E as festas de São João em todo o estado mostram isso”, aponta o pesquisador, percussionista e compositor, Jorjão Bafafé. Fundador do bloco Ókánbí, Jorjão é um dos precursores do Samba Duro Junino, que embala o São João do Engenho Velho de Brotas a décadas. “O São João para mim é uma festa que fala muito de minha casa, pois tudo começou com a minha avó organizando o samba no terreiro e agora temos até um festival”, aponta.
O 46º Festival de Samba Duro Junino do Engenho Velho de Brotas - que tem um concurso em sua programação - começa hoje, 23, na Praça dos Artistas, com apresentações ainda nos dias 24, 28 e 29 de junho, com premiações para diferentes categorias. “A gente tem samba junino o ano todo, não é à toa que sou completamente apaixonada, mas fica ainda melhor nessa época, né? A cidade está cheia de festas, mas para mim o samba junino ganha de todas”, afirma a moradora do Engenho Velho de Brotas, Ceridalva Silvério de Jesus.
E enquanto Cerivalda não sai do seu bairro para nada nessa época, a microempresária Layna Rocha sempre volta para a cidade dela em todo São João, sua amada Cruz das Almas, há 150 km de Salvador, onde mora. “Moro em Salvador desde os 15 anos, mas nasci em Cruz das Almas e para mim é o melhor São João da Bahia, principalmente por ser regido exclusivamente pelo forró e sertanejo, que são os estilos de músicas pertinentes à festa! Ano passado trabalhei e não pude sair de Salvador, mas esse ano ficarei os cinco dias de festa lá em Cruz”, garante Layna.
Quem também vai passar por Cruz das Almas é a comunicadora e influenciadora digital Amora Mota (@amoramota), mas seus planos não terminam aí. “Esse ano quero desbravar tanto o São João de Salvador, quanto do nosso interior, onde a gente tem cultura para dar e vender, então, além de Cruz, quero passar por Santo Antônio de Jesus também. Tenho vindo alguns dias para o São João do Pêlo e do Parque de Exposições, e até para o São João do Santo Antônio Além do Carmo eu fui. Realmente amo a proposta única de cada um desses lugares, não é por menos que temos o maior São João do mundo”, afirma.
Festas gratuitas
“Para mim é um privilégio morar numa cidade tão rica culturalmente e que oferece tanto entretenimento de forma gratuita. Acho que é difícil você ter algum lugar no Brasil que una essas duas partes”, afirma o artista visual carioca Marcus Valerius Oliveira, que mora em Salvador desde o final de 2022. “Digo que sou soterioca, mas mais sotero”, brinca. Ele cogitou passar um tempo em Cachoeira, “mas não garanto, pois o Pelourinho é sedutor demais, está muito bonito e com uma grande programação. Isso é algo que me fascina nas festas daqui: a preocupação em oferecer cultura em uma festa mágica e de qualidade, com conteúdo. Isso faz toda a diferença”, explica.
E todo esse conteúdo presente na festa de São João, afirma o presidente da quadrilha junina Buscapé, Cléber Borges, gera muito aprendizado sobre a nossa culinária, música, vestuário e história como um todo. Nesse contexto, as quadrilhas juninas são um dos grupos culturais que melhor disseminam esse conhecimento, “principalmente por causa das pesquisas que fazemos para reproduzir nossos temas nas arenas juninas espalhadas pela Bahia”. A Buscapé, por exemplo, que não se apresentava há 23 anos, voltou em 2024 com um projeto itinerante que tem como foco levar um pouco desse conhecimento para a comunidade onde nasceu, o Engenho Velho de Brotas.
“Estamos em um momento muito crítico, pois não existe um olhar clínico e sensível sobre uma melhor estruturação dos grupos juninos, daí a escassez de grupos para abrilhantar o São João da capital de uma forma ampla. Mas retornamos na cara e na coragem a fim de mostrar à comunidade e toda Salvador o quanto é relevante a contribuição de uma quadrilha junina para todos”, explica Cleber. E a Junina encontrou o tema ideal para fazer isso acontecer: Cordel Itinerante - Quem conta um conto aumenta um ponto.
Quadrilheira há mais de 30 anos, Edleusa Silva Santos ficou muito feliz com a volta da quadrilha, pois foi na Buscapé que ela descobriu seu amor pelas Juninas. “Dancei em outras quadrilhas enquanto a Buscapé estava sem atividade, mas tudo começou nela em 1993, quando uma amiga me levou para assistir ao ensaio. De lá pra cá o São João para mim só é bom se estiver dançando quadrilha junina. Ser quadrilheira é viajar muito para as apresentações, então é maravilhoso que a Bahia tenha tantas festas diferentes, pois acabamos aproveitando muito”, explica.
Samba Junino é destaque e Patrimônio Cultural
Com origens estreitamente ligadas ao candomblé e festas de caboclo, o Samba Junino - que é Patrimônio Cultural de Salvador - nasceu na Bahia entre as décadas de 1970 e 1980. Dentro desse universo, há o Samba Duro Junino, que surgiu no Engenho Velho de Brotas, no Terreiro de Jagum, onde o samba era tocado noite adentro depois das rezas para São Pedro e Santo Antônio. “Mas o samba cresceu tanto, que não dava para manter dentro de casa E quando minha avó não pôde mais organizar, os mais novos, como eu, tomamos a frente”, conta Jorjão Bafafé, percussionista, compositor e Ogã do Terreiro de Jagum.
Um dos precursores do Samba Duro Junino - que possui esse nome pois os homens não dançavam enquanto tocavam -, Jorjão conta que o samba então começou a seguir de porta em porta pelo bairro. “Mesmo os vizinhos sem candomblé se uniam e todo o Engenho Velho de Brotas, e até gente de bairros vizinhos, envolvidos no nosso samba durante o São João. Não temos sanfona, mas sim tambores e atabaques, e o movimento cresceu bastante, mas não tínhamos voz, por isso criamos o concurso e festival em 1978”, explica.
Hoje, o Festival de Samba Duro Junino do Engenho de Brotas está em sua 46ª edição, com premiações diversas para diferentes categorias. “Além do Festival, hoje já temos a salvaguarda dele ser Patrimônio Cultural, e já é tocado no Pelô, por exemplo. Criamos a Federação do Samba Duro Junino para que possamos cuidar dessa manifestação cultural, assim como a Associação Cultural União, tudo para que a gente se mantenha organizado e seja reconhecido pelo poder público, enquanto levamos boa música e cultura para todos”, afirma Jorjão.
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