AGRICULTURA FAMILIAR
Secretaria de Desenvolvimento Rural impulsiona produção
Capacitação, investimentos, variedade e sustentabilidade geram renda no campo
Por Alan Rodrigues
Há sete anos a criação da Secretaria de Desenvolvimento Rural inaugurou um novo momento para a agricultura familiar na Bahia. A nova pasta passou a concentrar todos os órgãos e políticas públicas para o setor rural, buscando parcerias nos municípios e com foco na atuação no campo.
Entre os organismos integrados à secretaria, a Bahiater, Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural, substituiu a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EDBA) e, juntamente com a Companhia de Desenvolvimento e Açaõ Regional (CAR), iniciou um processo de qualificação e certificação da produção, aliado a investimentos em maquinário e escoamento da produção.
Hoje, 136 escolas técnicas atuam na formação der mão-de-obra local. São 759 ACR´s (agentes comunitários rurais) contratados pela secretaria, em grande parte oriundos de escolas familiares agrícolas Através de consórcios públicos firmados com os municípios e com entidades executoras de Ater (assistência técnica rural), 2299 técnicos de campo atuam nem 323 municípios baianos.
Outro diferencial é o estímulo e a assistência para a formação de cooperativas, que organizam os trabalhadores e concentram a produção, gerando escala, eliminando intermediários e, por consequência, aumentando o poder de negociação e o retorno para os agricultores.
Pecuária sustentável
Um dos exemplos dessa organização é a bovinocultura leiteira. O gado, criado em piquetes, no sistema de pasto rotacionado, permite uma produção sustentável em pequenas propriedades.
O Governo do Estado, por meio do projeto Bahia Produtiva, destinou recursos da ordem de R$ 63 milhões para a aquisição de máquinas agrícolas e equipamentos, dertinados à produção de ração.
Os investimentos são aplicados ainda em logística e na aquisição de tanques resfriadores e caminhões para a coleta de leite, que permitem a coleta e armazenamento do leite, processado em laticínio próprio.
A Coopag, de Várzea Nova, possui uma linha de produtos laticínios tradicionais, como queijo, manteiga e bebida láctea, mas se destaca na produção de iogurtes, com sabores oriundos dos biomas baianos.
Entre eles, iogurtes especiais de licuri, umbu, café e abacaxi, além dos tradicionais de ameixa, coco, salada de frutas e morango e bebidas lácteas de ameixa e morango.
Atualmente, o leite beneficiado pela Coopag é entregue por 120 agricultores e agricultoras, mas a atividade envolve, no total, cerca de 400 famílias, tanto com a mão de obra da família, do vaqueiro, do que entrega o leite na agroindústria, das pessoas que beneficiam, que vendem e que entregam.
A cooperativa tem ainda em seu portifólio de produtos os queijos: mussarela, coalho, lanche, minas frescal, ricota e os condimentados, além da manteiga, entre outros.
No município de Lagoa Real e municípios vizinhos, agricultores familiares da Cooperativa dos Produtores de Leite e Cereais de Lagoa Real estão colhendo os frutos dos investimentos. Foram R$ 3,2 milhões destinados para o melhoramento genético do rebanho, com inseminação artificial e a melhoria na estrutura para a higiene, ordenha e alimentação do rebanho.
Com apoio do projeto assistência técnica e extensão rural (Ater), assistência técnica em gestão (Ateg) e aquisição de equipamentos, com novas tecnologias, a cooperativa produz não só leite pasteurizado, mas também iogurte, queijo e manteiga.
Grãos diferenciados
Entre as várias culturas desenvolvidas a partir da assistência técnica rural, o café e o cacau se destacam. O chocolate produzido a partir da amêndoa cultivada na Bahia já é famoso há muito tempo. E, agora, vem ganhando espaço num mercado extremamente exigente.
Na Bahia, 12.500 famílias agricultoras são beneficiadas, de forma direta ou em parceria com consórcios públicos. São 75 projetos com um total de R$ 38,7 milhões de reais aplicados em melhorias no cultivo e manejo da produção do cacau além do acesso ao mercado.
Na Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bacia do Rio Salgado e Adjacências (Coopfesba), dos chocolates Bahia Cacau, em Ibicaraí, no território identidade Litoral Sul, funciona a primeira fábrica de chocolate da Agricultura Familiar do Brasil.
Vêm de lá os lançamentos de dois produtos: o chocolate branco com nibs (grãos torrados com sabor de chocolate amargo) e o chocolate diet 75% cacau. A Cooperativa conta com investimentos no valor de R$3,8 milhões para construção e equipamentos para agroindústria do cacau e casa de extração de mel, kits produtivos, Ater e implantação de energia solar.
A marca Natucoa, da Cooperativa de Serviços Sustentáveis da Bahia (Coopessba), em Ilhéus, também no Litoral Sul, tem três lojas próprias, comercializa no mercado estadual e nacional chocolates veganos.
Tão procurado quanto o cacau, o café da Bahia também vem ganhando lugar de destaque no mercado. O estado é o quarto maior produtor de café do país e o município de Barra do Choça é o maior produtor individual de café arábica do Norte e Nordeste do Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE (2019).
Lá, está localizada a Cooperativa Mista dos Cafeicultores de Barra do Choça (Cooperbac), referência na produção de café no estado. Os avanços, serviços e produtos ofertados pela Cooperbac geram emprego e renda para cerca de nove mil pessoas, direta e indiretamente, fortalecendo a economia local.
O Bahia Produtiva já destinou R$5,4 milhões para a Cooperbac na base de produção, aquisição de estufas, equipamentos, assistência técnica e extensão rural (Ater), implantação da unidade de processamento e torrefação de café, incluindo o desenvolvimento de embalagens e rótulos e outras estratégias para o acesso a mercados.
Na cooperativa também foi implantado o Laboratório de Classificação Sensorial de Café, onde são certificados e emitidos laudos técnicos, que habilitam o produto da Cooperbac para a comercialização junto a grandes marcas nacionais de café.
O resultado pode ser conferido em números. Até 2017, a Cooperbac produzia 7 toneladas de café por ano e incluía 150 famílias beneficiadas. Atualmente, produz 16,8 toneladas de café por ano, contando com 324 famílias associadas e com quatro marcas registradas de café. Os cooperados chegam a receber renda mensal entre R$ 3 mil e R$ 8mil, cada um.
Café da Chapada
Na Chapada Diamantina, em Piatã, a Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã (Coopiatã) também comemora avanços e valorização do produto. Os cafés especiais já são referência internacional, premiados no Cup Of Excellence Brazil. Lá, o Bahia Produtiva destinou R$2,8 milhões para beneficiamento, manejo, criação de microusina e aquisição de máquinas para o cultivo do café.
Já em Seabra, o café da Cooperativa de Produtores Orgânicos e Biodinâmicos (Cooperbio) é exportado para a Alemanha, Inglaterra, Austrália e Lisboa e comercializado em cafeterias de Salvador, São Paulo e Brasília.
Rompendo fronteiras
A variedade de frutas cultivadas na zona rural baiana é outra fonte de lucro inesgotável. Graças ao manejo e à rotação de culturas, é possível produzir o ano inteiro e com a estrutura para processamento, o retorno financeiro e acesso aos mercados são garantidos.
Os agricultores e as agricultoras familiares da zona rural do município de Inhambupe, no Território Litoral Norte e Agreste Baiano, contam com um caminhão baú refrigerado para a Cooperativa Agropecuária Mista da Região de Alagoinhas (Coopera).
A Cooperativa Agropecuária do Litoral Norte da Bahia (Coopealnor), situada no município de Rio Real, produz o Suco concentrado congelado de laranja e exporta sucos concentrados de laranja e maracujá para Alemanha, Bélgica e outros importadores do comércio justo na Europa.
Mandioca
Um convênio assinado entre o Estado da Bahia e a Cooperativa Agropecuária da Rede de Mulheres e Jovens da Agricultura Familiar do Semiárido (Coomafs), localizada em Jacobina, garante investimentos para fortalecer os grupos que atuam com o processamento de derivados da mandioca e quintais produtivos, dos Territórios de Identidade Piemonte da Diamantina e Bacia do Jacuípe
O recurso é aplicado na identidade visual da cooperativa e aquisição de equipamentos para a produção, exposição e padronização dos produtos. A cooperativa trabalha com produtos derivados da mandioca como bolos, pães, beijus, biscoitos, avoador, salgados e pizzas; bananas chips, geleias, temperos, geladinhos e picolés, cocadas de côco e de licuri e licor.
Doce sustento
A Bahia também se destaca na produção de mel. Com os investimentos de mais de R$ 61 milhões dos projetos Bahia Produtiva e Pró-Semiárido, o estado já é o quarto maior do país, beneficiando 20 mil famílias pelos territórios de identidade da Bahia.
Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM 2020) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção do mel na Bahia teve o maior crescimento absoluto do Brasil, subindo a sua produção de 3,7 mil toneladas para o recorde de 5 mil toneladas.
O avanço é puxado por municípios como Campo Alegre de Lourdes, o quinto maior produtor de mel do país. Neste município do território Sertão do São Francisco, encontra-se a Cooperativa dos Pequenos Apicultores de Campo Alegre de Lourdes (Coapical) que fabricou, só em 2021, 44 toneladas de mel a granel exportados de forma indireta para os Estados Unidos. Este ano de 2022 já foram 100 toneladas.
Foram mais de R$ 2,8 milhões do projeto Bahia Produtiva, que investiu em assistência técnica, entreposto de mel e kits de produção apícola, beneficiando mais de 400 famílias da região.
Os produtores contam com a diversificação da flora nativa, que confere ao mel um sabor exclusivo e de alto valor medicinal e uma diversidade de cores, aromas e sabores apreciados em todo o mundo.
Na Cooperativa Agropecuária dos Agricultores e Apicultores do Médio São Francisco (Coopamesf), localizado no Assentamento Olhos D’Agua dos Tanques, zona rural do município de Ibotirama, já pode ser vendido em todo território nacional.
O incremento de mais de 80% na produção de mel na Bahia assegura aos cooperados uma renda de R$ 60 mil por ano.
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