HISTÓRIA
Sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia completa 100 anos
Centenário da Casa da Bahia será no próximo dia 2 de julho; Instituto já esteve em outros seis imóveis
Por Priscila Dórea

Entidade cultural mais antiga de todo o estado, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) - a Casa da Bahia -, irá comemorar no próximo dia 2 de julho os 100 anos de sua atual sede. Fundado em 13 de maio de 1894, o Instituto passou por outras seis sedes antes de chegar à casa de estilo neoclássico da Piedade hoje e onde está desde 1923, quando a sua inauguração se juntou às comemorações do centenário da Independência da Bahia. Agora em 2023, é a vez do IGHB comemorar o centenário da sede.
Além de guardião do Pavilhão 2 de Julho, no Largo da Lapinha, onde estão os dois protagonistas da festa da independência baiana, o Caboclo e a Cabocla - que em breve se tornará museu -, o IGHB possui um museu que se espalha por toda casa, e é a residência da Biblioteca Ruy Barbosa, do Arquivo Histórico Theodoro Sampaio, e da maior hemeroteca (arquivo de periódicos) e acervo cartográfico do estado. Também possui um salão nobre com 180 lugares que leva o nome daquele que rodou a Bahia para colocar essa sede de pé: Bernardino José de Souza.
“A nossa atual sede foi construída graças ao dinheiro do povo baiano, e ao esforço do professor e geógrafo Bernardino José de Souza, que saiu em campanha pela Bahia, dando palestras, apresentando artistas e mostrando a importância de se haver um lugar onde guardar e preservar registros de nossa história. Ele fez disso sua missão”, conta o vice-presidente do IGHB, Aramis Ribeiro.
“De fato, consta que no início da década de 1920, crianças nas escolas doavam os trocados da merenda para as obras da nova sede, e há registros de que até mesmo presidiários chegaram a fazer ofertas em dinheiro para ajudar na construção. Até mesmo o primeiro campeonato de futebol intermunicipal da Bahia, em 1921, foi organizado com a finalidade de também arrecadar fundos para a obra”, explica o mestre e doutor pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Aldo José Morais Silva, que é professor do curso de história da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e autor da tese de doutorado ‘Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: origem e estratégias de consolidação institucional’.
O robusto acervo do IGHB possui peças, principalmente, dos séculos 19 e 20 que, em sua maior parte, foram doadas. São pinturas, fotografias, esculturas, ourivesaria (peças de ouro), bandeiras, itens de cristal, vidro e porcelana, armamento dos mais diversos tipos e etnias, livros, documentos e inúmeros outros itens, além da extensa coleção de periódicos de sua hemeroteca, que reúne desde coleções de jornais que estão em atividade, como o A TARDE, até aqueles que a muito encerraram suas publicações, como o Diário da Bahia (1856-1957).
Porém, mais do que um repositório de informações técnicas, o IGHB foi entendido como a Casa da Bahia, ou seja, uma instância representativa de nossa identidade. “Por isso lhe foi incumbida a tarefa de coordenar e protagonizar os eventos evocativos de nossa nacionalidade e regionalidade, como o 2 de julho. Sendo o próprio Instituto, sua criação e existência, um símbolo desse esforço de construção e manutenção identitária. Desse modo o Instituto tem um lugar central nas comemorações cívicas baianas porque ele próprio foi, em princípio, uma expressão desse civismo e da crença no papel não só simbólico desse tipo de instituição, mas também de seus efeitos práticos, de inspirar e produzir coesão social”, explica Aldo José.
Professor e historiador associado do IGHB, Rafael Dantas aponta que a criação do Instituto é um dos grandes marcos da construção de uma Bahia que resolveu pensar na preservação de tudo aquilo que, de fato, pudesse traduzir um pouco a história baiana ao longo dos séculos. “É, sem dúvida, um lugar que guarda retratos de tempos. Acervos assim são verdadeiros testemunhos das criações, desejos e anseios das pessoas, e preservar tudo isso é falar sobre a nossa construção enquanto cidadãos ao longo dos séculos”, afirma.
Registros
E todos esses registros históricos preservados, em suas mais diversas formas, têm gerado inúmeras pesquisas e estudos. O próprio IGHB promove cursos, palestras e encontros, mas o seu acervo é constantemente visitado por pesquisadores como a doutora em história das ciências e da saúde Ivoneide de França Costa, professora titular da Uefs. A partir de sua pesquisa na documentação referente ao engenheiro Theodoro Sampaio do IGHB, ela publicou o livro ‘Rio São Francisco e a Chapada Diamantina nos Desenho de Theodoro Sampaio’.
“Não se tem como mensurar o valor e a importância desse acervo. Agora digitalizado, vai permitir a conservação, a manutenção e o acesso a essas informações. Vale lembrar que o Instituto possui outros acervos importantes e que o trabalho de divulgação desse acervo pode despertar o interesse para realização de visitas, presença nas palestras, recitais e na realização de pesquisas, um objeto essencial do Instituto”, salienta a doutora.
Diretora do arquivo do IGHB desde 1999, Zita Magalhães Alves, de 80 anos, conta que uma das melhores partes de seu trabalho é ajudar estudantes e pesquisadores a encontrar o que procuram. “Tem aqueles que chegam aqui já com uma indicação de documento, esses já sabem o que querem dentro do Instituto, mas se eu puder achar algo além, vou buscar. Assim como sempre busco ajudar ao máximo aqueles que chegam com um tema, mas não um documento em si em mente. Adoro poder ajudar as pessoas dessa forma, tudo nesse Instituto é uma preciosidade”, afirma.
E quem encontrou muitas dessas preciosidades foi o jornalista, escritor e diretor de cultura da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Nelson Cadena, que ainda este ano irá lançar, junto ao IGHB, a primeira parte - de duas -, de seu livro sobre a história da imprensa baiana, que escreveu a partir de estudos feitos sobre jornais baianos antigos. Com cerca de 20 livros publicados, a hemeroteca do Instituto é uma fonte de pesquisa constante do escritor.
“A hemeroteca que eu conheci não é a mesma de hoje. Muitas coleções se perderam, o que não foi um problema só do Instituto, mas de todos os centros de pesquisas da Bahia, que perderam muito pela falta de condições de se ter uma manutenção adequada, principalmente as coleções do interior. Hoje em dia já existem técnicas de restauração para isso, e o acervo de jornais do IGHB é um dos mais ricos e bem preservados nesse sentido”, afirma Cadena.
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