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Sem-terra fecham BR-101 em Buerarema após morte de líder

Publicado terça-feira, 11 de fevereiro de 2014 às 14:05 h | Atualizado em 11/02/2014, 22:30 | Autor: Biaggio Talento
Ponte de acesso a Buerarema
Ponte de acesso a Buerarema -

Cerca de duas mil pessoas bloquearam, a partir das 10h desta terça-feira, 11, a rodovia BR-101, no km-525, próximo ao trevo de entrada da cidade de Buerarema (a 450 km de Salvador), causando grandes engarrafamentos nos dois sentidos da rodovia

O protesto foi motivado pelo assassinato do pequeno produtor rural Juraci dos Santos Santana, 44 anos, segunda, 10, à noite, no Assentamento Ipiranga, situado em Una (a 52 km de Buerarema), no  sul da Bahia.

Patrulheiros rodoviários, policiais federais e militares  tentaram negociar o desbloqueio da BR  ao longo do dia, sem sucesso.

Em Brasília, o governador Jaques Wagner  requereu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a aplicação do instrumento "garantia da lei e da ordem (GLO)"  na região do conflito.

Segundo a assessoria do governador, ele tratou do assunto também com a presidente Dilma Rousseff. A GLO, diz  a assessoria,  "é utilizada quando situações que fogem do controle colocam em risco a segurança da população".

Durante a  vigência, "tropas das Forças Armadas assumem a segurança local e passam a ter poder de polícia". Se o pedido for  acatado, haverá a imediata mobilização das tropas para a região. "Repudio qualquer tentativa das partes de fazer justiça com as próprias mãos", disse Wagner.

Picaretas e marretas

Os manifestantes se concentraram nesta terça numa ponte e, com picaretas e marretas, abriram vários buracos na pista, nos quais colocaram madeira e pneus e atearam fogo. Alguns chegaram a ameaçar  dinamitar o local, o que interromperia o tráfego por tempo indeterminado.

No final da tarde, a tropa de choque da Polícia Militar entrou em conflito com os manifestantes para  tentar liberar a rodovia, sem êxito.

Os moradores gritavam palavras de ordens contra os tupinambás, que iniciaram, desde o ano passado, um processo de ocupação de 300 fazendas numa faixa de 47 mil hectares entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema.

Os indígenas se baseiam em  laudo da Fundação Nacional de Apoio ao Índio (Funai) que garantiria a posse da área. Mas a demarcação só  será definida quando o Ministério da Justiça publicar  portaria declaratória sobre o caso.

O documento pode ser questionado  no Supremo Tribunal Federal, que dará a palavra final no impasse que já dura oito anos.

Santana era presidente da Associação do Assentamento Ipiranga, onde moram 44 famílias há dez anos. O assentamento foi criado em 1998 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

A área é de 1,2 mil hectares, e os assentados mantêm lavouras de cacau, banana e mandioca. Testemunhas disseram que Santana vinha resistindo para concordar em anexar o assentamento à área reclamada.

Juraci estava em casa com a mulher Elisângela quando um grupo de pistoleiros invadiu o local e disparou várias vezes contra ele. Depois tocaram fogo na casa. A mulher conseguiu fugir com uma filha menor de idade.

A delegacia de Buerarema abriu inquérito para apurar o caso. Os proprietários de terras atribuem o crime a "milícias indígenas" que circulam pela região ameaçando fazendeiros, mas até esta terça isso não havia sido comprovado.

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