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ENTREVISTA – SANDRO MAGALHÃES

‘Temos atuado em várias frentes para ampliar o acesso à leitura’

Diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, detalha ações para fortalecer políticas de leitura, bibliotecas e memória na Bahia

Por Divo Araújo

14/07/2025 - 5:00 h
Sandro Magalhães,  diretor-geral da Fundação Pedro Calmon
Sandro Magalhães, diretor-geral da Fundação Pedro Calmon -

A Fundação Pedro Calmon tem reforçado seu compromisso com a democratização do acesso à leitura e à memória na Bahia. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, o diretor-geral Sandro Magalhães destaca as ações que vêm sendo desenvolvidas pela instituição, como o lançamento da REDE FPC e a preparação para os 40 anos da Fundação.

Com foco na territorialização das políticas culturais, a REDE FPC surge como uma estratégia para mapear e fortalecer agentes locais. A proposta é construir um panorama colaborativo, ouvindo as demandas das bibliotecas, arquivos, mediadores de leitura e demais atores da cadeia do livro. “Queremos fortalecer uma rede colaborativa em favor do direito à leitura, à cultura e à preservação da memória”, explica Magalhães.

Durante a conversa, o diretor também detalha investimentos recentes, como os R$ 24,3 milhões destinados a festas e feiras literárias. E ressalta a importância da preservação do acervo histórico da Bahia e o papel das bibliotecas como espaços vivos, com ações culturais e novas formas de interação com os públicos. Saiba mais na entrevista a seguir.

A Fundação Pedro Calmon lança nesta segunda-feira a chamada REDE FPC, com objetivo de promover o intercâmbio de experiências locais, identificar demandas e orientar as ações nos territórios culturais da Bahia. Como essa rede vai funcionar, na prática?

A REDE FPC é uma estratégia administrativa da Fundação Pedro Calmon para o levantamento de informações e indicadores sobre os públicos atendidos pela instituição, além de mapear, conectar e fortalecer agentes, instituições e ações que atuam nas áreas do livro, leitura, bibliotecas, arquivos e memória nos diversos territórios culturais da Bahia. Ela não é, em si, uma política pública, mas tem como principal objetivo subsidiar a construção de políticas públicas mais eficazes, com base em dados reais, demandas locais e experiências já em curso. Na prática, funciona por meio de um cadastro colaborativo, onde bibliotecas, arquivos, grupos culturais, agentes do livro e da leitura, pesquisadores e educadores podem se inscrever e fazer parte dessa rede. Com isso, queremos construir um panorama mais preciso do que está sendo feito, das lacunas existentes e das potencialidades regionais. Ao mesmo tempo, a REDE FPC também busca aproximar ainda mais a fundação dos públicos com os quais dialoga — fortalecendo vínculos, gerando pertencimento e ampliando o alcance de suas ações nos territórios, com base em informações e indicadores, dados reais.

A REDE FPC será formada por quatro programas estratégicos — Bahia Literária, Bibliorede Bahia, Conectar Arquivos e Nossas Memórias. De que forma cada um deles vai contribuir para a valorização da cultura, da leitura, da informação e da memória na Bahia?

A REDE FPC é mais uma iniciativa estratégica da Fundação Pedro Calmon, que se soma às demais ações da instituição voltadas ao seu público. Ela atua em um eixo fundamental da nossa missão institucional: o livro e a leitura, as bibliotecas, os arquivos e a memória. O Bahia Literária é voltado ao fomento da leitura e à valorização da literatura produzida na Bahia. Ele fortalece eventos literários, estimula a formação de leitores e promove ações com autores e autoras locais, reconhecendo a diversidade literária dos territórios. A Bibliorede Bahia tem foco no fortalecimento das bibliotecas públicas e comunitárias, com ações de escuta, formação, assistência técnica e doação de acervos, contribuindo para o funcionamento e a qualificação desses espaços em todo o estado. O Conectar Arquivos promove a articulação e a qualificação de arquivos públicos e privados, contribuindo para a organização, preservação e acesso à informação — um direito fundamental para a cidadania e a história dos nossos territórios. Já o Nossas Memórias reúne ações que valorizam a memória social e cultural da Bahia, apoiando centros de memória, iniciativas de salvaguarda de acervos e promovendo a circulação de narrativas que compõem a identidade do povo baiano. Juntas, essas iniciativas e a REDE FPC atuam como um instrumento vivo de articulação e valorização da cultura, da leitura, da informação e da memória em diálogo com os territórios.

De que forma a Fundação Pedro Calmon vai dialogar com os territórios culturais?

O diálogo com os territórios culturais será realizado a partir das próprias iniciativas e experiências locais ligadas às áreas do livro, da leitura e da memória. A Fundação Pedro Calmon pretende reconhecer e valorizar essas ações, prestando apoio, oferecendo assistência técnica e desenvolvendo editais específicos que contemplem as particularidades de cada território cultural. O público que pretendemos engajar é amplo e diverso: bibliotecas públicas e comunitárias, arquivos, centros de memória, coletivos culturais, mediadores de leitura, escritores, professores, pesquisadores, gestores públicos e demais pessoas e instituições que atuam com livros, leitura, informação e memória na Bahia. Ao reunir esses atores, a REDE FPC busca fortalecer uma rede colaborativa que compartilha saberes, experiências e estratégias em favor do direito à leitura, à cultura e à preservação da memória.

O senhor assumiu a Fundação em março deste ano. Como essa proposta foi construída e por que ela é um marco na história da instituição, como o senhor a definiu?

A Fundação Pedro Calmon completa 40 anos em 2026, e estamos preparando uma programação especial para celebrar essa trajetória. Ao longo dessas quatro décadas, cada gestão contribuiu de forma significativa para o fortalecimento da instituição, e esse legado coletivo foi essencial para que chegássemos até aqui. A criação da REDE FPC é uma iniciativa da nossa gestão, mas está em total sintonia com os princípios e direções que a Fundação já vinha construindo. Ela representa um avanço porque estabelece, de forma estruturada, um canal direto de diálogo com os nossos públicos — bibliotecas, arquivos, agentes culturais, educadores, leitores e gestores locais — com o objetivo de reunir informações, ouvir demandas e construir, com base nisso, políticas públicas mais eficazes e territorializadas. É por isso que consideramos a REDE FPC um marco na história da instituição: ela consolida um movimento de escuta ativa e articulação em rede, alinhado ao compromisso da fundação com a democratização do acesso ao livro, à leitura, à informação e à memória na Bahia.

O senhor tem destacado o compromisso da Fundação Pedro Calmon com a ampliação do público leitor na Bahia. Qual é o panorama atual da leitura no estado e quais estratégias estão previstas para avançar nessa meta?

Ampliar o acesso ao livro e à leitura na Bahia é um compromisso central da Fundação Pedro Calmon e também uma diretriz do Governo do Estado, sob a liderança do governador Jerônimo Rodrigues. Temos atuado em diversas frentes para enfrentar os desafios históricos relacionados à formação de leitores e à valorização da literatura como direito e ferramenta de transformação social. Nos últimos anos, avançamos na consolidação de políticas públicas estruturantes. Um exemplo é o investimento de R$ 24,3 milhões no edital de apoio a festas, feiras e festivais literários — o maior já realizado na Bahia e também o maior do Brasil. Esse volume de recursos faz da Bahia o estado que mais investe em iniciativas literárias desse tipo, impulsionando eventos em todas as regiões. Essa ação é realizada por meio da iniciativa Bahia Literária, desenvolvida com o empenho da Secretaria da Educação, liderada por Rowenna Britto, e da Secretaria de Cultura, sob a gestão de Bruno Monteiro. Juntas, essas secretarias vêm fortalecendo as feiras literárias como espaços fundamentais para a formação de leitores, a circulação de livros e a valorização das expressões literárias locais. Além disso, a Fundação Pedro Calmon participa ativamente da Bienal do Livro da Bahia, oferece apoio direto a eventos literários, mantém o programa Bibex de bibliotecas móveis, realiza o concurso para escritores escolares, e executa o projeto Leve e Leia, que promove o acesso ao livro de forma lúdica, itinerante e interativa. No próximo dia 25 de julho, daremos mais um passo importante com a inauguração da Sala Mestres e Mestras da Palavra, na sede da Fundação. Esse espaço assume um novo conceito: será um centro de prestação de serviços à comunidade literária baiana. Contará com estrutura para oficinas, clubes de leitura, lançamentos, workshops e venda direta de livros de autores baianos, contribuindo para a profissionalização da cadeia criativa do livro na Bahia. Um destaque especial é o retorno do Escritório Regional de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional, que voltará a operar no estado após mais de uma década — o serviço funcionou até 2012 na Biblioteca Central do Estado. Todas essas ações integram uma política ampla e integrada de incentivo à leitura, valorização da produção baiana e democratização do acesso ao livro — reafirmando o papel do Estado na construção de uma Bahia mais leitora, diversa e inclusiva.

A Fundação Pedro Calmon já sinalizou o planejamento para a atualização dos acervos das bibliotecas públicas estaduais. Qual é a sua avaliação atual sobre o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas da Bahia?

O Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas da Bahia é composto pelas bibliotecas estaduais, que são responsáveis por garantir o acesso ao livro, à leitura e à informação em todo o estado. Além disso, esse sistema presta suporte técnico e qualificado às demais bibliotecas municipais e comunitárias, fortalecendo a rede baiana de leitura. Nossa avaliação é que o sistema precisa ser continuamente fortalecido — não apenas com a atualização dos acervos, mas também com a dinamização desses espaços. As bibliotecas precisam estar cada vez mais vivas e ativas, com mediações de leitura, programações culturais e novas formas de interação com os públicos. Entre 2023 e junho de 2025, foram realizadas 2.901 ações culturais nas bibliotecas, alcançando diretamente 273.204 pessoas — sendo 126.967 em 2023, 130.565 em 2024 e 15.672 até junho de 2025. Esses números evidenciam o impacto das programações culturais como instrumentos de aproximação da comunidade com o universo da leitura.

No que diz respeito à atualização de acervos, seguimos realizando aquisições de livros de editoras baianas e editoras universitárias, valorizando a produção local e acadêmica e promovendo maior diversidade nos catálogos das bibliotecas. Em 2023, distribuímos 100 kits de atualização de acervo para bibliotecas municipais, na gestão de Vladimir Pinheiro. Para 2026, está prevista uma nova distribuição de kits, ampliando o processo contínuo de renovação das coleções. Por meio do programa Bibliorede Bahia, também estamos avançando para além da reposição de livros: está em estudo o lançamento de um edital específico voltado à dinamização das bibliotecas, com foco em ações de mediação de leitura, formação de leitores e ocupação criativa dos espaços. Nosso compromisso é com uma política de leitura estruturante, que reconhece a diversidade dos territórios e valoriza o papel das bibliotecas como centros de acesso ao conhecimento, à memória e à cultura.

A Fundação também é responsável pelo Arquivo Público do Estado da Bahia, que reúne mais de 5 milhões de documentos e itens que vão do século XVII aos dias atuais. Parte desse acervo já pode ser acessada digitalmente. Como está o processo de digitalização e qual é a situação atual do Arquivo como um todo?

O Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), juntamente com o Centro de Memória da Bahia, são equipamentos essenciais para a preservação da memória e da história do nosso estado. Atualmente, o Arquivo reúne um acervo com cerca de 7.500 metros lineares, correspondendo a mais de 5 milhões de documentos e itens, que abrangem desde o século XVI, período Colonial, até o início do século XXI, período Republicano. Muitos desses documentos já estão disponíveis não apenas para pesquisadores e acadêmicos, mas também para cidadãos em busca de comprovação de direitos, seja por meio digital ou em suporte físico, com atendimento presencial mediante agendamento prévio. O processo de digitalização faz parte das atividades executadas pelo APEB desde o início do século XXI e ocorre conforme demandas específicas, projetos internos, convênios com universidades, ou ainda por meio de editais públicos. Não temos como meta digitalizar 100% do acervo, mas sim garantir a preservação física e ampliar o acesso estratégico aos documentos mais requisitados.

Um marco importante para a segurança e continuidade do Arquivo foi a aquisição definitiva do prédio pelo governo da Bahia, por determinação do governador Jerônimo Rodrigues, eliminando qualquer risco de leilão do espaço. Além disso, por meio de um convênio entre o governo do estado e o BNDES, está previsto um investimento de R$ 13 milhões para a modernização das instalações, incluindo melhorias na segurança do acervo e implantação de um sistema de combate a incêndio — garantindo a preservação desse patrimônio histórico para as futuras gerações.

Na programação do 2 de Julho, a Fundação promoveu uma exposição com cartas que ajudam a contar a história das lutas por liberdade. Como essa ação dialoga com a missão da instituição de preservar a memória da Bahia?

O 2 de Julho é uma data emblemática para a Bahia, símbolo da luta por liberdade e independência. A Fundação Pedro Calmon atua diretamente na preservação dessa memória por meio do trabalho contínuo do Centro de Memória da Bahia e do Arquivo Público do Estado da Bahia, que reúnem, organizam e tornam acessíveis documentos fundamentais para a história do estado. A Biblioteca Virtual Consuelo Pondé também cumpre papel central nesse esforço. Com um acervo de cerca de 30 mil títulos voltados exclusivamente à história da Bahia, incluindo o Dicionário Histórico-Biográfico, ela é uma referência para pesquisadores, estudantes e para todos que desejam conhecer mais sobre a trajetória do povo baiano.

Para concluir, o senhor tem uma longa trajetória na política, o que chegou a gerar especulações sobre um possível viés político na sua nomeação. Em resposta, o governo Jerônimo destacou sua atuação na área cultural e afirmou que sua experiência política poderia fortalecer as articulações com o governo federal e outras instituições. De que forma essa trajetória tem contribuído para a gestão da Fundação e para o diálogo com outros entes?

Fiquei contente com o convite do governador Jerônimo e do secretário Bruno para assumir a Fundação, pois eles conhecem minha trajetória no campo da gestão cultural e outros momentos da nossa vida pública, em que desenvolvemos projetos juntos. Minha trajetória na gestão cultural é composta por experiências junto a organizações sociais, à gestão pública e na área acadêmica. Sou apaixonado e militante, trabalhador da cultura — e isso impulsiona toda a minha trajetória. Todas as experiências que vivi como vereador, secretário municipal de educação e cultura, conselheiro estadual de cultura, superintendente de cultura do estado e pesquisador acadêmico na área da cultura estão a disposição de minha nova função para transformar importantes ações já desenvolvidas na Fundação em uma política pública de estado para o livro, a leitura e a memória da Bahia.

Raio-X

Sandro Magalhães é professor, gestor público e pesquisador em políticas culturais. Natural de Serrinha, na Bahia, foi vereador, secretário de Educação e Cultura, além de idealizador da FELIS – Feira Literária Internacional de Serrinha. Atuou como diretor da Superintendência de Territorialização da Cultura da Secult-BA. Atualmente, é diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA). Conselheiro estadual de cultura, desenvolve pesquisas acadêmicas sobre organização municipal e territorialização da cultura na Bahia. É graduado em Letras Vernáculas, especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens e possui especialização em Gestão Pública e Gestão Cultural.

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