LITORAL BAIANO
Temporada das Baleias Jubarte impulsiona turismo de observação
Veterinários explicam como funciona a temporada de reprodução e a importância da espécie para os oceanos
Por Isabela Cardoso
Com a chegada do inverno no Hemisfério Sul, no mês de julho, o litoral brasileiro se prepara para receber um espetáculo da natureza: a abertura da temporada de reprodução das baleias jubarte. O evento não atrai apenas pesquisadores, mas também entusiastas da vida selvagem, impulsionando o turismo de observação e enfatizando a importância da preservação da espécie.
O litoral da Bahia é uma das regiões mais populares para avistar estas gigantes, com possibilidade de observações em Itacaré, Morro de São Paulo, Porto Seguro, Praia do Forte e Salvador, além de Abrolhos - que vai do extremo sul baiano ao norte do Espírito Santo - sendo o maior berço reprodutivo do Atlântico Sul.
Em entrevista ao Portal A TARDE, o médico veterinário e coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, explicou que a espécie passa o inverno e a primavera na costa brasileira, onde começa o ritual de acasalamento e reprodução.
“Após o período, elas vão se alimentar nas regiões polares, nas ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. Alguns pesquisadores que já marcaram baleias com transmissor de satélite, viram que elas descem a costa do Brasil até a altura de Cabo Frio e, quando chegam lá, descem em linha reta. Como o litoral do país, de Cabo Frio para baixo, começa a ser um pouco mais para oeste, elas acabam se afastando mais da costa. Tem baleia que abre a rota mais cedo, não chega a descer até o Rio de Janeiro, já sai de Abrolhos nadando em águas mais profundas e segue em direção às áreas de alimentação”, detalha.
De acordo com Milton, já foram registradas mais de 25 mil baleias jubarte no Brasil até o momento. A expectativa para este ano é que o número seja ainda maior por causa do crescimento populacional da espécie.
“O que está surpreendendo é o registro de filhotes, normalmente eles começam a nascer na segunda metade de julho, mas o pessoal já viu filhotinho em Ilhabela [São Paulo], em Arraial do Cabo [Rio de Janeiro]. Então, parece que esse ano os nascimentos estão começando um pouco mais cedo [...] A gente colocou todas nossas fotos de cauda no programa Happywhale, que trabalha comparando as caldas de baleias no mundo todo, usando inteligência artificial. Descobrimos que tem baleia nossa que vai para África, baleia da África que vem para o Brasil. Então elas se deslocam mais do que a gente imaginava”, diz.
A previsão para o início da temporada de reprodução é no dia 17 de julho. No entanto, o médico veterinário acrescentou que sempre existem dúvidas se terão animais que chegarão mais cedo, por causa de dois motivos: um padrão que está se modificando em função da mudança climática ou pelo fator de extremidade da curva de distribuição normal.
O turismo de observação é uma prática que cresceu nos últimos anos e desempenha um papel fundamental na preservação da espécie das jubarte. Os visitantes têm a oportunidade de testemunhar de perto o comportamento dessas gigantes, como seus saltos espetaculares e cantos que ecoam pelos oceanos, além de conhecer mais sobre a espécie através dos pesquisadores.
O médico veterinário Gustavo Rodamilans, que também faz parte do Projeto Baleia Jubarte, comentou que a ONG busca fomentar o turismo de observação e realizar treinamentos de capacitação com empresas que operam essas práticas.
“A gente precisa conhecer a embarcação, fazer o treinamento com os marinheiros e com a tribulação. O Projeto Baleia Jubarte faz o fomento de observação de baleias há 35 anos, mostrando para as pessoas o quão interessante é ver esses animais na água e mostrando que eles valem muito mais vivos do que mortos. Aquela mesma baleia pode ser vista por várias pessoas por diversos anos”, ressalta.
Para observar as baleias, a empresa precisa seguir algumas regras como: motores dos barcos devem ser desligados a 100 metros dos animais e o mergulho é proibido. Além disso, são duas embarcações por cada grupo de jubarte, sem interromper o caminho destes animais.
O ponto fixo de observação em Salvador foi montado no Farol da Barra no ano passado. Conforme detalhou Gustavo, pesquisadores ficam postos na torre com binóculos observando os animais que surgem naquela região.
“A gente disponibiliza alguns binóculos para que as pessoas vejam o que a gente procura. Então esses pesquisadores atendem os turistas, explicam o trabalho, onde as baleias normalmente circulam, quais são os comportamentos que elas apresentam. A gente consegue fazer um trabalho de sensibilização ambiental no Farol da Barra”, explica.
Além do ponto fixo de observação, duas operadoras de turismo credenciadas em Salvador, parceiras do Projeto Baleia Jubarte, operam a prática: a SharkDive Centro de Mergulho e a Luck Receptivo. Já em Praia do Forte é possível fazer a observação na empresa Porto Mar.
Para a relações-públicas Agnes Bezerra, que fez o passeio de observação em Salvador, foi uma das experiências mais incríveis que já viveu.
"Temos muita vontade de refazer o passeio esse ano. Foi além de uma observação. A equipe do Projeto Baleia Jubarte estava no barco, descobrimos coisas que não sabíamos das baleias, como a característica da calda, do DNA, da importância de você ter a fotografia da calda. É incrível. É impressionante a imponência daquele animal gigante na sua frente. Ter a oportunidade de presenciar o salto de uma baleia jubarte e a sensação de segurança que a equipe passou para gente”, comenta.
O professor e mestre de capoeira Ulisses Lima também fez o turismo de observação na capital baiana. Ele contou que foi uma experiência que já havia vivenciado há cerca de oito anos no extremo sul do estado.
“Foi uma sensação fantástica. Havia, pelo menos, umas três baleias. Ter vivenciado isso mais uma vez foi uma experiência incrível. Em Cumuruxatiba, eu estava com pescadores e talvez eles não tivessem tantas habilidades nos estudos das baleias, sendo uma experiência diferente com os pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte. A gente estava com uma embarcação mais adequada, conseguiu rapidamente sair da Praça da Sé indo até o encontro das baleias, que ficavam há 11 milhas fora”, diz.
Para além do turismo de observação, a temporada relembra e destaca a preservação das baleias jubarte como essenciais para a manutenção da biodiversidade e a saúde dos mares. O veterinário Gustavo acrescentou que estes animais são os principais fertilizadores dos oceanos.
“Não só as baleias jubarte, como as baleias em geral. Quando a gente fala em fertilização dos oceanos, a gente se lembra que o oxigênio é produzido nos oceanos também. A baleia é importante porque quando defeca, ela elimina as fezes no oceano e quem vai se alimentar dessas fezes serão as microplantas, que é a base da alimentação de toda a cadeia produtiva dos oceanos. A cadeia produtiva que eu digo é a ecológica. Outro fator muito importante que, inclusive, está sendo incentivado lá na Europa, é que a baleia jubarte faz apreensão de carbono. Quando a baleia morre e vai para o fundo do mar, a grande maioria das baleias vão para o fundo do mar, o carbono que ela tem no organismo não vai para atmosfera”, destaca.
Assista ao vídeo do momento de aparições das jubarte:
Encalhes
Com o aumento populacional das majestosas criaturas marinhas e com o acréscimo da quantidade destes animais pelo litoral no período reprodutivo, consequentemente o número de encalhes também aumenta. Segundo o veterinário Milton, mais de 90% dos casos são baleias já mortas, que morreram em alto mar e os ventos trazem para a costa.
“Quando a gente fala de encalhes, tem mortalidade por causas naturais, por exemplo, filhotes que se separam da mãe, ficam fracos e morrem, ou que morreram de doença. Também tem baleia adulta que morre de doenças naturais, animal que pode morrer, inclusive, de velhice. Agora tem outro lado, que é a mortalidade causada por ação humana, como casos de baleia que morrem presas em rede de pesca, baleia que morreu atropelada por navio. Como a população aumentou muito, vai ter um crescimento proporcional do número de baleias que chegam mortas na praia”, acrescenta.
Desde o início do ano até o mês de junho, já houveram 12 encalhes da espécie no país, sendo um caso na Bahia. No primeiro semestre do ano passado, houveram sete encalhes. Já em 2021, foram 52 registros, com número recorde.
“É um número que vai começar a crescer quando começarem a nascer os filhotes, lá para agosto. Hoje em dia, como a gente tem uma população muito grande, a quantidade de encalhes acaba sendo maior também. Eu não vou me admirar se a gente chegar no final do ano com cerca de 90 encalhes, parte da ordem de mortalidade natural da espécie”, completa Milton.
O ideal ao encontrar um animal encalhado é entrar em contato com o Projeto Baleia Jubarte e também com a Prefeitura de Salvador. O telefone de contato do centro até o litoral sul da Bahia é (73) 98802-1874, já do centro até o norte baiano é (71) 99657-2056.
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