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Trajetória de Dona Canô traduzia amor por Santo Amaro

Por Cleidiana Ramos

25/12/2012 - 23:16 h
dona canô na lavagem de santo amaro
dona canô na lavagem de santo amaro -

O significado da palavra matriarca é perfeitamente aplicável para definir Claudionor Viana Teles Velloso, a dona Canô que morreu nesta terça-feira, 25, aos 105 anos. Carismática, soube ganhar independência e projeção além da condição que já lhe colocaria num patamar especial: mãe de duas das maiores estrelas da MPB - Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Ao longo de sua trajetória, dona Canô acabou por confundir-se com a própria matriz cultural de Santo Amaro da Purificação que ocupa, ao lado de Cachoeira, o posto de referência simbólica de costumes e linguagens do Recôncavo baiano.

Dona Canô tornou-se não apenas líder de sua família, mas de tudo o que movimenta Santo Amaro do ponto de vista religioso, cultural ou político. O tradicional Bembé do Mercado dobrava os atabaques à sua chegada. A novena de Nossa Senhora da Purificação virou "a novena de dona Canô", inclusive na prosa do filho Caetano, embalada pela voz da filha Bethânia em Reconvexo.

Políticos como o senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) ou o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva sabiam da importância de lhe dispensar atenção. "Dona Canô ganhou reconhecimento não apenas por conta dos filhos. Ela tinha luz própria", destaca o doutor em história e professor da Ufba, Antônio Fernando Guerreiro de Freitas, autor da biografia Canô Velloso - Lembranças do saber viver, escrita em parceria com Arthur de Assis.

Intensidade - Para o antropólogo e jornalista Marlon Marco, a soma do carisma, gosto por festas e o hábito da caridade abriram o caminho para a visibilidade. "Dona Canô é, talvez, uma das últimas representantes dessa noção de matriarcado, construído através da doçura e do comando", analisa.

O pesquisador é autor da dissertação de mestrado intitulada Oyá-Bethânia, os mitos de um orixá nos ritos de uma estrela. Na pesquisa, além do componente religioso, Marlon identificou também as digitais de dona Canô na arte de Maria Bethânia.

"Lembro de uma visita que Bethânia fez a uma exposição dos objetos de dona Canô e comentou que a cada dia que passa tem mais a ver com a mãe. Eu acho que a inflexão do canto de dona Canô está presente não apenas na voz de Bethânia, mas também na de Caetano", analisa Marlon.

Casada com José Teles Vellloso, seu Zezinho, dona Canô ficou viúva em 1983. O que ela tinha de dinamismo, seu Zezinho tinha de tendência ao recolhimento. Ela era a cantora e, admiradora dos jograis na igreja. Já ele gostava mais da calmaria da poesia, que sempre recitava nas reuniões da família.

O casal teve seis filhos biológicos - Clara, Mabel, Rodrigo, Roberto, Caetano e Maria Bethânia - além de ter adotado Nicinha e Irene, a primeira falecida em 2011. São nove netos e seis bisnetos. Toda a família de uma forma ou outra respira cultura, seja via a música ou pelas letras.

Intensa, dona Canô não foi parada sequer por uma queda, ocorrida em 2010, e que lhe obrigou a usar cadeira de rodas. Fazia pilates e estava em todos os acontecimentos sociais e culturais de Santo Amaro.

Em matéria publicada na revista Muito, edição de 3/10/2010, o repórter Ronaldo Jacobina descreve a agitação de dona Canô na véspera do seu aniversário, querendo saber se tudo estava realmente preparado para ser uma grande festa.

Num dos trechos da matéria, ela se impacienta em esperar Bethânia terminar de retocar a maquiagem e pede que a levem logo para a igreja. A religiosidade católica foi uma de suas marcas mais fortes, embora a sua proximidade com o candomblé, mesmo sem nenhum tipo de laço iniciático, tenha sido caracterizada pelo respeito em mão dupla. Ela respeitou e sempre foi respeitada pelo povo de santo.

Quando Caetano seguiu para o exílio, ela procurou Mãe Menininha do Gantois para pedir proteção para o filho. Ganhou o que foi buscar e mais uma conta de Oxalá, o orixá que rege a paz.

Porta-voz - "Bom, do meu nascimento eu não sei falar, porque foi como se eu não estivesse presente, eu só vim. Morávamos no Beco do Caquende, onde hoje é o hospital. Quando eu acordei já tava com um ano (gargalha). A criança nasce dormindo. (...)". O trecho descrito é do livro Canô Velloso - Lembranças do saber viver , escrito pelo doutor em história e professor da Ufba, Antonio Fernando Guerreiro e Arthur de Assis. Publicado em 2007, a obra traz uma detalhada biografia de dona Canô, que participou ativamente das entrevistas.

Nascida em 16 de setembro de 1907, em Santo Amaro, filha de Anísio César de Oliveira Viana e Júlia Muniz de Araújo, ela ainda conheceu a cidade às voltas com a economia do açúcar. Mas, uma das suas principais características é ter se adaptado ao correr do tempo e às mudanças que ele traz. "Lembro que quando chegava para as entrevistas ela era capaz de opinar sobre qualquer assunto do noticiário anterior. Criticava o papa, o presidente da República", destaca o historiador.

Prestígio - Essa capacidade de estar atenta a tudo o que era feito ao seu redor fez de dona Canô a liderança mais influente em Santo Amaro. "É impressionante, mas nada acontecia na cidade sem que ela fosse consultada. Ela conseguiu imprimir um papel muito próprio à sua trajetória", acrescenta Guerreiro.

O seu papel, de acordo com o historiador, deixa um vácuo difícil de ser preenchido no cotidiano local. "Ela foi muito importante para Santo Amaro, pois retornou para lá, após ter passado um período em Salvador, exatamente no momento em que Santo Amaro vivia um período de crise econômica e social", aponta.

A partir desse momento ela passou a ser a interlocutora da comunidade de Santo Amaro. "Dona Canô alcançou tanto reconhecimento exatamente porque ela era a responsável por resolver todos os problemas. Ela tinha a forma de intermediar, de cobrar soluções, de usar seu prestígio para isso", completa.

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