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ENTREVISTA

“Unipar vai investir R$ 130 milhões em planta na Bahia"

Controlador da petroquímica Unipar, Frank Geyer deu entrevista exclusiva para A TARDE

Por Osvaldo Lyra

06/06/2022 - 6:00 h | Atualizada em 07/06/2022 - 13:27
Expectativa é que fábrica amplie oferta de produtos essenciais no Nordeste
Expectativa é que fábrica amplie oferta de produtos essenciais no Nordeste -

O presidente do Conselho de Administração e controlador da petroquímica Unipar, Frank Geyer Abubakir, anunciou com exclusividade para o A TARDE que a companhia vai construir uma nova planta na Bahia com investimento inicial de R$ 130 milhões. A expectativa é que a fábrica amplie a oferta de produtos essenciais para atender a demanda decorrente do Marco do Saneamento no Nordeste, já que a empresa é líder na produção de cloro e soda e uma das maiores na produção de PVC na América do Sul.

Nascido em uma família visionária, que foi responsável pela implantação do setor petroquímico no Brasil, Frank Gayer diz que é importante que as empresas tenham lucro, “mas é importante que tenha respeito ao meio ambiente, função social, e que atenda a seu entorno, onde o empreendimento está sendo instalado. “É importante que pague os impostos, que gere emprego, e mais ainda, que seja justo”. Confira:

Sua trajetória de sucesso como empresário do setor químico e petroquímico tem um protagonismo em um dos momentos mais importantes do avanço da indústria no Brasil. Como se deu esse processo?

Minha família fundou o setor petroquímico no Brasil. Meu bisavô, na verdade, topou o risco na década de 1950 de formar o que era então a maior refinaria de petróleo do país e, logo após isso, ele fez o primeiro cracker. Para quem não sabe, é um polo, como temos aqui o polo de Camaçari, você tinha em São Paulo e tem até hoje o polo petroquímico de São Paulo na região de Santo André e Capuava. Então, eu recebi essas informações e recebi esse patrimônio de alguma maneira, tanto de informação quanto de ativo, desde a mesa de almoço, a mesa de jantar, onde eu me sinto muito um homem de commodities, eu me sinto muito industrial. Ali eram apresentados os princípios, as razões. Até, digamos, aquilo que eu herdei efetivamente e de participação na minha empresa, e que sim, eu aumentei, eu comprei, eu tomei o risco. Mas se teve algo que eu talvez tenha conseguido efetivamente fazer foi a sucessão. Eu acho que não consegui agradar a todos, infelizmente, mas consegui pelo menos um ponto de convergência entre a maioria e fazer com que aquela empresa que poderia ter desaparecido tivesse um prosseguimento até hoje. A Unipar faz esse ano 53 anos e se você olhar o grupo do ponto de vista de investimento de petróleo, de petroquímica, vai desde 1950 até agora. Sobre o ponto de vista da indústria, a gente está em um bom momento, mas eu estou com 49 anos, acho que eu ainda tenho que mostrar mais, tenho que fazer mais.

Você falou em uma entrevista recente sobre o capitalismo consciente. Como você enxerga o capitalismo no mundo atual e as exigências sociais com as urgências que nós vivemos hoje?

Todos os países que adotaram sistemas mais próximos de um coletivismo não nos parecem que sejam bons exemplos. Eu acho que, por exemplo, a Coreia do Norte ninguém vai discutir que seja um bom exemplo, acho que até a própria China, naquilo que ela deu certo foi exatamente onde ela deu liberdade. Eu acho que o capitalismo tem uma coisa interessante que é a honestidade de admitir o interesse humano, o desejo humano. Ele permite isso. Se você cerceia isso... Pode até parecer um discurso muito bonito, mas acho que fica fora da realidade. Fica desumano. Eu acho que o capitalismo tem a liberdade, a obrigação e a possibilidade de evoluir. Tem uma entrevista no Financial Times muito interessante que eu li anos atrás que diz: o problema da ditadura não é a ditadura em si. O problema da ditadura é que não se permite receber críticas. Se você ler a mídia internacional hoje, há uma crítica muito forte com relação ao presidente Putin da Rússia pelo fato dele viver em uma bolha. No momento em que você não faz a alternância de poder, que você mantém alguém tanto tempo, ele vai se descolando da realidade. Então, o capitalismo está se permitindo criticar e mudar naquilo que ele precisa, e precisa, naquilo que ele pode. E o poder está muito ligado às possibilidades tecnológicas, à evolução mesmo. E eu acho que um novo ponto de equilíbrio entre os diversos participantes do capitalismo, de um empreendimento, de uma empresa, o que se chama comumente de stakeholder, é muito importante. É importante que tenha o lucro, mas é importante que tenha respeito ao meio ambiente, função social, é importante que atenda a seu entorno, onde o empreendimento está sendo instalado, é importante que pague os impostos, que gere emprego, que seja justo. Nós temos uma meritocracia muito falha. É importante que a gente melhore a meritocracia, mas ao mesmo tempo não confundamos, não vamos jogar o bebê junto com água suja. Não consigo entender e imaginar um processo melhor do que a meritocracia. Agora temos que melhorar a meritocracia muito pouco meritocrática, porque as oportunidades são muito diferentes.

Você fala em aspectos importantes que podem ser materializados em uma sigla que está muito na moda, que é o ESG. Em que medida os bons resultados e boas práticas acabam repercutindo nos resultados da companhia?

O ponto importante do ESG é a questão da sustentabilidade. Porque se você der uma visão de curto prazo, você pode ter um benefício, não só lucro, mas a todos os stakeholder. Vamos dizer que você não faça os investimentos necessários para fazer uma proteção do meio ambiente que é necessária para o processo industrial, você pode distribuir dinheiro, mais imposto, gerar mais emprego, mas não vai durar muito. Então a questão de ESG para mim é básica. Para entrar no jogo tem que atender. Claro que nós vamos nos dar ao trabalho de discutir o que efetivamente é ESG, o que é greenwashing, e o que não é ESG, porque há um debate do que deve ser incluído nesse ESG. Então, em uma indústria de capital, a tendência de quem é industrial, como eu, é olhar no longuíssimo prazo. Nós temos um caso concreto muito interessante, que eu acho que representa muito isso e que nós tivemos a felicidade de superar. Eu era garoto, mas sei, porque estava lá vendo. Teve um Globo Repórter, mostrando Cubatão, uma cidade completamente poluída. Era a cidade mais poluída do mundo. E aí o programa mostra aquele drama, aquilo moveu todos os empresários que tinham plantas industriais lá, e dentre eles nós. Dez anos depois, tem um novo Globo Repórter onde a grande estrela era mostrar o que foi feito. A gente tinha uma holding, a Unipar era um sistema de holding, uma das plantas era Carbocloro, hoje ela é Unipar, foi integrada. E mostrando a melhora, a preservação de Mata Atlântica. A gente tem um zoológico, você entra na planta e é um espetáculo, tem Mata Atlântica… Se nós não tivéssemos feito esse processo, em determinado momento teriam matado a própria Cubatão, a própria comunidade e nós mesmos. Você não pode cair na besteira de olhar no curto prazo e matar o ganso dos ovos de ouro. Então, esse é o grande ponto de ESG, e ele não é só meio ambiente. No nosso caso, meio ambiente é muito forte, mas também é o social e o de governança também, que é o G.

Você é presidente do Conselho de Administração e controlador da Unipar, que está completando 53 anos com resultados apontados como surpreendentes pelo próprio mercado. Qual tem sido a receita do sucesso da empresa?

Vamos proporcionalizar as coisas para tentar ser menos injusto. Primeiro lugar, a gente tem que lembrar que há tipos e tipos de negócio. A pandemia foi muito cruel com alguns tipos de negócios. E eu entendo que não podemos nunca celebrar os negócios que foram bem sem lembrar desses. Acho que é importante, inclusive, do ponto de vista sistêmico que esses que sofreram muito precisam ser ajudados de alguma maneira. Precisamos criar sistemas que ajudem. Eu mesmo, no começo da pandemia, fiquei sem dormir porque achei que ia quebrar. Porque um produto meu era super demandado e o outro não tinha para quem vender. Isso dava um desbalanço de giro no estoque enorme. A gente tomou uma decisão ética, estava uma coisa meio distopia, fim do mundo, a gente não sabia no que ia dar aquele negócio. Então, eu me lembro que eu fiz uma fala para 150 pessoas da minha companhia via Teams: gente, nós não podemos parar de produzir, porque se eu parar de produzir o cloro, por exemplo, eu não tenho água tratada. Eu prefiro discutir amanhã que eu não performei, que eu quebrei, porque eu mantive a responsabilidade de produzir o cloro, do que discutir amanhã que eu desabasteci o Cone Sul. Para você ter uma ideia, quase toda a América do Sul nós que fornecemos o cloro para o tratamento de água. Então, nós fizemos essa opção que foi ética. Ela não foi uma opção para o stakeholder de lucro ou para o funcionário. Foi um momento radical e precisava de uma atitude radical. Ela privilegiou o social. Eu tinha a responsabilidade de tratar o produto para tratar água. E aí aconteceu uma coisa curiosa, porque não tinha premeditação, não tinha como saber. Logo depois começou o contrário. A demanda do PVC, que era o produto que ninguém comprava, estourou no mundo. Porque você começou a ter uma demanda enorme de luva, de bolsa de sangue, aparelho médico. O gargalo chinês. Para você ter uma ideia, a China produz uma via de carvão. Não é energia não. Em vez de usar petróleo para fazer o plástico, ela produz com carvão. Isso é extremamente poluente. Então, eles fecharam as plantas lá, e isso fez com que a demanda aumentasse. Bom, ganhei muito dinheiro, a empresa deu muito resultado por isso, e esse tipo de situação macroeconômica é importante para mim, para todo o time da Unipar, porque ele afeta muito o meu tipo de produto. Há um mérito nosso? Há. Mas ele não é tanto assim. Eu tenho brincado com as pessoas que as críticas que eu recebi no passado são quase tão injustas quanto os elogios que eu recebo hoje. Eu boto quase por uma certa esperteza para me dar alguém que produz mais, acerta mais do que erra. Então, eu acho que a situação é essa.

O marco do saneamento abre um leque de possibilidades para a Unipar e esse é um assunto em discussão muito grande hoje no Brasil, sobretudo pelas diferenças sociais que nós temos. Como a empresa já está atuando nesse aspecto?

Me permita. A questão do saneamento para mim é uma questão que é tão importante, tão basilar, que ela vai antes da questão da Unipar por si. Nós imaginarmos que em 2022, pelo século XXI, não é nem mais XX, nós temos pessoas que ainda caminham sobre esgoto e nos damos talvez a possibilidade de outros consumos, outros luxos mesmo menos estruturantes. Eu acho que é prioridade número 1, até para o ESG, dar essa dignidade às pessoas. Claro que é uma dignidade estruturante e de longo prazo, talvez a gente não perceba o quanto ela melhora a qualidade de vida, e, portanto, a felicidade de todo mundo. Talvez fiquemos mais focados em coisas... No que diz respeito à Unipar, claro que é uma oportunidade de investimento, e que nós estamos olhando, estamos fazendo. Inclusive já foi dito, o meu CEO Mauricio Russomanno já se posicionou algumas vezes de que estamos prontos para atender as demandas, já estamos investindo nas plantas de São Paulo e pretendemos ampliar esses investimentos para outras partes do Brasil, e eu aqui com meu lado baiano, fico torcendo para que um dos investimentos seja aqui.

Já tem números ou projetos que permitam colocar esse olhar de investimento também para o saneamento da Bahia?

Os números em termos de Brasil, até pela falta de saneamento, são gigantescos. Vai gerar muito emprego, vai gerar muita eficiência, tirar muita deficiência, gerar muita riqueza, além da dignidade. Mesmo quem mora na favela, que eu acho um dos grandes desafios do Brasil hoje é acabar com as favelas, no sentido de dar àquelas pessoas a propriedade das suas casas, dar casas melhores, dar água, esgoto, luz, dar dignidade, acho uma bela palavra. Há o luxo digno, há o luxo indigno. Engraçado, na proporção do esforço de cada um, dos riscos que cada um toma, do caminho de liberdade que cada um projeta sua vida, os números são enormes. Agora, o que nós estamos olhando, e aí, me permita, eu não posso falar, porque a gente é sociedade de capital aberto, a gente tem mais de 30 mil acionistas, são onde é que estão as janelas e onde é que eu preciso estar na medida do aumento da demanda e na medida que efetivamente as coisas se concretizem. Eu entendo que quando há uma descentralização de decisão, ou seja, quando você permite ao setor privado atender a isso, provavelmente vai dar uma celeridade e efetivamente vai ser feito.

A Unipar tem alguns projetos importantes e aqui na Bahia e um dos focos que a gente pode colocar é o Complexo Eólico de Tucano, que está com obras avançadas e tem a promessa de representar um salto na questão energética. Que cenário você desenha para os próximos anos com relação a esse empreendimento?

A questão de energia pra nós sempre foi uma questão fundamental. Nós consumimos perto de 400 megawatts de energia por ano. É muita energia. Certamente somos um dos maiores consumidores de energia da América do Sul, porque o nosso processo industrial é basicamente energia, água, sal e eteno, e energia é a primeira linha. Com isso, a gente sempre teve um movimento pioneiro no sentido dos investimentos necessários para energia. Fomos o primeiro consumidor livre lá em São Paulo, e quando vimos a possibilidade de poder construir um parque de energia que zera a nossa pegada de carbono praticamente, no sentido de que o consumo energético que temos virá todo de fonte limpa, e ao mesmo tempo com sustentabilidade econômica... Agarramos com tudo. Apesar de não termos a tradição de investir em parques de geração de energia, seja solar, seja eólica, são os dois parques que estamos fazendo, a gente se associou então com grandes empresas multinacionais. Então, a Bahia vai ser responsável por cerca de 40% do nosso consumo total de energia na América do Sul, sem contar que o próprio projeto em si é instalado em áreas que não têm muito desenvolvimento econômico, normalmente são áreas que não têm nem mata, floresta. Acho que nesse caso ele é bem no sertão. Então, você imagina que a gente ainda vai dar retorno para quem tem seu pedacinho de terra lá, ainda vai gerar emprego para quem vive nessa comunidade, muitas vezes comunidades pobres sem oportunidade de emprego. Então, realmente são projetos belíssimos, porque eles são sustentáveis economicamente, não adianta a gente tentar um ESG que não seja sustentável. Não produzem nenhuma pegada de carbono, nenhum efeito colateral. As turbinas geram riqueza local e riqueza para o país inteiro, porque torna, inclusive, nossos produtos mais competitivos sob o ponto de vista do custo.

Informações de bastidores mostram que há outros investimentos do grupo previstos para a Bahia. O que podemos falar sobre isso?

Então, temos a feliz coincidência de estar hoje (domingo) à noite estar subindo na CVM a informação de que nós estamos implantando uma fábrica de cloro e solda no polo petroquímico de Camaçari. Vai ser um investimento no primeiro momento de R$130 milhões com foco em atender a demanda do marco de saneamento aqui no Nordeste. E qual a expectativa para a conclusão dessa obra e o início dessa operação?Olha, eu acho que uma fábrica dessa são menos de 2 anos para que ela já esteja em plena operação, mas agora mesmo na construção, os investimentos já começam, já começa a geração de emprego, já começa, inclusive, a geração de tributos. E vamos também com isso... Nós temos um princípio de sustentabilidade que é fazer investimentos sociais e culturais principalmente onde temos atuação, onde temos a nossa fábrica, para ter uma boa relação com a comunidade. E acho que é uma troca mais justa do que apenas fazer esse investimento em coisas mais distantes. Agora, com a decisão do projeto, a gente vai passar, antes mesmo dele ser concluído, a olhar quais seriam as oportunidades e qual será a nossa contribuição sobre esses pontos: social, educacional e cultural.

Estamos em um ano eleitoral e, independente de quem seja o vencedor, o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo Presidente da República a partir de 2023?

Bela pergunta. As pessoas se chocam um pouco comigo, porque as pessoas de direita acham que eu sou de esquerda, as pessoas de esquerda acham que eu sou de direita. E eu digo: olha, eu sou transversal. Eu acho que tenho direito de concordar e discordar com todos. Eu não estou aqui para fazer uma torcida, eu não sou político, minha função social é de gerar riqueza, portanto, tirar as pessoas da pobreza, é montar sistemas e processos que melhorem a qualidade de vida de todos. Eu acho que a grande palavra para o Brasil e, portanto, para o próximo Presidente da República que eu desejo muito boa sorte e sucesso, seja quem for, é o longo prazo. Nós precisamos parar de olhar apenas no curto prazo e olhar o emergencial, o médio e longo prazo.

É importante planejar o Brasil?

É importante planejar e olhar o Brasil a longo prazo. Tomar medidas que talvez não tragam um resultado tão prazeroso em um primeiro momento, mas que vai construir e gerar benefícios para as próximas gerações.

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