BRASIL
Assassino de padre assombra cidade mineira
Por Agência Estado
Padre Zeca não chegou vivo às 10 horas da terça-feira, quando celebraria a missa pelo início da colheita da safra de cana. Foi assassinado em algum momento da madrugada. O período da colheita quebra a tranqüilidade de Delta cidade do Triângulo Mineiro com menos de 6 mil habitantes, às margens do Rio Grande, divisa com São Paulo.
O assassinato do padre José Carlos Cearense, de 44 anos, não apenas surpreendeu o lugar. Causou muito medo. O próprio delegado encarregado das investigações, Heli Andrade, diz: "Quem praticou esse crime é um louco, depois de matar ainda brinca com o cadáver". A população acha que há um maníaco à solta na cidade
Todos os indícios são de que, seja quem for, uma mesma pessoa matou não só o padre, mas dois homens dez dias antes. Dos três, padre Zeca e um lavrador, Wanderson Luiz dos Santos, de 29 anos, com requintes de perversidade. O terceiro, um mendigo, que pedia comida pelas casas, levou um único golpe de faca. O delegado acha que este foi assassinado por ter presenciado a morte de Wanderson.
Às 7 horas da terça-feira, Maria Bezerra, que cuida da casa paroquial, chegou para o trabalho. Girou a chave na fechadura da porta da frente, que estava trancada. Entrou na casa e levou um choque. No corredor que dá para o quarto jazia o corpo do padre, coberto por um lençol. Usava somente um roupão de banho e tinha os punhos amarrados pelo cordão. No quarto, as paredes e a cama estavam manchadas de sangue.
O delegado Heli, especializado em investigar homicídios, chegou de Uberaba, a 25 quilômetros, meia hora depois. Veio com peritos Eles constataram que o padre fora morto com um golpe de faca no pescoço, que quase o degolou. No lado direito do peito, o assassino abriu um buraco, um retângulo de 7 por 4 centímetros. Nele, colocou um frasco de perfume, ou loção, pertencente ao padre. Este tinha os braços e alguns dedos cortados, indício de que reagira ao ataque.
Wanderson, o lavrador, também foi morto com um golpe no pescoço e teve um retângulo aberto no peito. Foi atacado num mato baixo, à margem de uma rua de terra, a dois quarteirões da igreja. O assassino arrastou o corpo pela rua, nu, até a porta da "casa da Leila", de prostituição, a uns 50 metros. Leila diz que nada viu "Um rapaz que passou aí na rua achou o corpo às 6 horas e avisou a polícia." O que significam os retângulos no peito? "Não foram abertos para matar (o golpe no pescoço causou as mortes). Foi uma forma de deixar uma marca", disse o delegado.
Outro detalhe: como o assassino entrou, se a porta da frente estava trancada (assim achada por Maria Bezerra) e não havia sinais de arrombamento na casa? Na Arquidiocese de Uberaba, o padre Márcio André Soares, confessor de padre Zeca, pode ter a resposta.
"Ele abriu a porta. Abria a porta para qualquer pessoa que o procurasse, a qualquer hora do dia ou da noite." O padre, também "se identificava com os marginalizados, não fazia distinção entre as pessoas". Mas não vivia tranqüilo.
"Às vezes nos dizia que tinha receio. Ele arrebanhou muitos jovens, muitos viciados em drogas. Isso incomoda os traficantes " O delegado diz que, em sua carreira de 26 anos tratando de homicídios, nunca viu um caso de mutilação de cadáver como esse.
Sustenta que é coisa de um louco, como se viu. Mas não despreza nenhum aspecto da investigação. Wanderson, o lavrador morto, era dependente de drogas. Comenta-se na cidade que, na missa de domingo, padre Zeca teria dito conhecer o nome do assassino de Wanderson. Por isso, foi morto. Heli descarta a versão.
Delta chama-se assim em razão da usina de açúcar com esse nome que se instalou em suas terras, quando nem mesmo era município. "A cidade nasceu por causa da usina", diz o prefeito José Eustáquio (PMN).
Na cidade, ocorreram dois homicídios no ano passado. Um rapaz de 17 anos matou um de 16 a tiros, num forró. E o corpo de um homem foi encontrado num canavial, com a cabeça dilacerada.
Mas agora é diferente. O estilo do assassino assombra a cidade. "Ele arrancou fora o coração do padre, para mim tem coisa de magia negra", diz um freguês da sapataria perto da igreja. Fala, mas não dá o nome.
Uma dona de loja, que também não quer se identificar, conta que "o povo está com medo". "Antes, a gente andava até de noite, tranqüilamente,", diz ela. "Agora, o problema é o doido (o assassino)."
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes