VEJA LISTA DE EMPRESAS
Boticário e Wickbold rejeitam plano de recuperação da Americanas
Um grupo de 156 empresas votaram contra o plano de recuperação judicial da Americanas
Por Da Redação
Um grupo de 156 empresas, entre elas BRF, Suzano, Sanofi, L'Oréal, Boticário, Grendene, Neoenergia, Tirolez e Wickbold, votaram contra o plano de recuperação judicial da Americanas. A votação aconteceu durante uma assembleia realizada na última terça-feira, 19.
Ao todo, as empresas que disseram "não" ao plano tinham mais de R$ 1 bilhão a receber, mas foram voto vencido. Agora, verão a sua dívida receber um desconto de até 80%, com o saldo podendo ser pago só em 2044.
A Folha de São Paulo ouviu especialistas que destacaram que as empresas têm bons motivos para rejeitar o plano, que acabou sendo aprovado pela maioria dos credores. Eles concordaram com a exigência da Americanas de não processar a companhia na Justiça.
"Eu considero essa cláusula ilegal", diz o advogado especializado em recuperação judicial Filipe Denki, da Lara Martins Advogados. "O direito de defesa é constitucional, ninguém pode impedi-lo."
André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, concorda e ainda destaca as condições de pagamento. "Se os credores são fornecedores da Americanas, foram duplamente prejudicados, porque a empresa sempre apresentou uma postura mais agressiva no varejo em termos de preço, espremia ao máximo os fabricantes e importadores", diz. Ou seja, sobre o valor original que os fornecedores tinham a receber, já estava embutido um desconto maior que o da média do varejo, diz.
Em nota, a Americanas afirmou que "o processo de construção do plano criou novas bases para a reorganização operacional e financeira, com a renovação do relacionamento e da confiança destes fornecedores na companhia e em seu soerguimento, o que gera ganho para todos". De acordo com a varejista, o plano de recuperação judicial "é factível e foi bem aceito entre partes".
Ainda de acordo com a Folha, os documentos disponibilizados pelo administrador judicial apontam que, entre 1.860 votantes, 100 se abstiveram, 156 votaram contra e 1.604 disseram sim ao plano de recuperação judicial.
Confira abaixo a lista de 20 grandes empresas que votaram "não" ao plano de recuperação judicial da Americanas, selecionadas no grupo de 156 empresas que expressaram este voto:
- Banco Original
Dívida: R$ 327 mil
- Belliz (marca Ricca)
Dívida: R$ 4,1 milhões
- Grupo Boticário
Dívida: R$ 822 mil
- BRF
Dívida: R$ 1,25 milhão
- Camil
Dívida: R$ 406 mil
- Engie
Dívida: R$ 702 mil
- Flormel
Dívida: R$ 455 mil
- Gelopar
Dívida: R$ 1,04 milhão
- Grendene
Dívida: R$ 10,5 milhões
- Haribo
Dívida: R$ 2,9 milhões
- L'Oréal
Dívida: R$ 41,2 milhões
- Metalfrio
Dívida: R$ 1,35 milhão
- Neoenergia Distribuição
Dívida: R$ 1,25 milhão
- Otis Elevadores
Dívida: R$ 679 mil
- Sanofi
Dívida: R$ 460 mil
- Suzano
Dívida: R$ 2,3 milhões
- Tirolez
Dívida: R$ 396 mil
- Vale D'ouro Biscoitos
Dívida: R$ 850 mil
- Vortx Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários
Dívida: R$ 528 milhões
- Wickbold
Dívida: R$ 2,1 milhões
A Folha procurou 11 dos 20 credores que integram esta lista e obteve resposta apenas da Boticário e da Neoenergia. L'Oréal, Grendene, Wickbold, BRF e Vortx não quiseram se pronunciar. Tirolez, Metalfrio, Vale D'ouro e Gelopar não responderam até a publicação da reportagem.
"O Grupo Boticário informa que está tratando o tema no âmbito judicial e que, após análise da proposta ofertada, a companhia optou por não aderir ao plano de pagamento que constava no plano de recuperação judicial", informou a fabricante de perfumes e cosméticos, que detém marcas como Eudora, Quem Disse, Berenice? e Vult.
"A Neoenergia informa que sua manifestação na assembleia de recuperação judicial da Americanas ocorreu em razão de divergência de valores dos créditos habilitados para uma de suas distribuidoras, bem como pela extensão do prazo para pagamento", disse a empresa.
Conforme informações da Folha, os maiores credores da companhia, os bancos Bradesco, Santander, Itaú, BTG, Safra e Banco do Brasil, que sozinhos têm cerca de R$ 20 bilhões a receber, disseram sim ao plano, que prevê que a maior parte das dívidas da instituição financeira sejam convertidas em ações da Americanas.
Já os demais credores podem decidir se querem participar de um leilão reverso da sua dívida - ganha quem oferecer o maior desconto, de pelo menos 70%. Neste caso, o pagamento será realizado só em 2039, com juros calculados pela TR. Quem não quiser participar do leilão, recebe só em 2044, com um desconto de 80% sobre a sua dívida, também com correção pela TR.
Há a possibilidade ainda dos credores quitarem sua dívida por R$ 12 mil, à vista.
Os credores de tecnologia –essenciais para que a empresa mantenha operações no marketplace e mesmo nas lojas físicas– serão pagos em parcela única, mas precisam se comprometer a fornecer os mesmos prazos de 2022 ou ainda melhores para a Americanas.
Os fornecedores colaboradores, por sua vez, que abastecem a varejista com produtos, que tiverem se submetido ao leilão reverso, podem receber R$ 1 milhão se com isso derem quitação à sua dívida.
Quem for credor fornecedor, mas nem colaborador, nem de tecnologia, terá um deságio de 50% em sua dívida, com o saldo dividido em 48 vezes, ou quatro anos.
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