CACAU CAIU?
Choveu porque o Cacique não foi? O misticismo por trás do Rock in Rio
Entidade esotérica atuava há mais de uma década para “evitar chuvas” nos dias de festival
Por Redação

Durante anos, uma parceria incomum entre música e misticismo marcou os bastidores de dois dos maiores festivais do Brasil: o Rock in Rio e, mais tarde, o The Town. Por trás da promessa de céu aberto durante os shows, estava a Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC), entidade esotérica que afirma ser capaz de intervir no clima e evitar chuvas. A colaboração começou em 2001 e foi oficialmente encerrada em 2015, após um episódio de temporal que culminou no rompimento com os organizadores.
Desde então, a ausência da fundação tem alimentado o imaginário popular e os memes nas redes sociais toda vez que uma nova edição dos festivais é atingida por ventos, nuvens e água.
O dia em que o carro ficou sem adesivo… e a chuva chegou
O fim da relação entre a produtora de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, e a Fundação aconteceu de forma emblemática. Em 2015, um forte temporal atingiu o festival no Rio de Janeiro, apesar da presença da fundação contratada justamente para impedir esse tipo de evento.
Segundo os representantes da FCCC, o motivo foi um imprevisto logístico: o motorista responsável por levar a médium Adelaide Scritori à Cidade do Rock teria esquecido o adesivo que dava passe livre ao veículo. O atraso de cerca de 30 minutos teria comprometido o “trabalho espiritual”, segundo nota divulgada na época. O episódio selou o rompimento.
A volta da chuva e as suspeitas do público
Desde o fim da parceria, os festivais passaram a conviver novamente com o tempo instável. Em 2019 e 2022, o Rock in Rio foi marcado por pancadas de chuva, ventos e mudanças bruscas de temperatura. Já em 2023, na estreia do The Town, evento irmão realizado em São Paulo, o público enfrentou alagamentos e gramado encharcado no Autódromo de Interlagos. A varanda VIP ficou submersa. A ausência da fundação voltou a ser lembrada.

Nas redes sociais, a ligação entre o fim da parceria e os episódios de chuva virou motivo de debate e piada.
Rock in Rio: Fãs do Post Malone enfrentaram chuva, tumulto e até três horas de fila por ônibus após o festival.pic.twitter.com/DQNIyrGg3U
— José Norberto Flesch (@jnflesch) September 4, 2022
Quem é o Cacique Cobra Coral?
Apesar do nome, o Cacique não é uma figura humana. Trata-se de um espírito que, segundo a fundação, já teria se manifestado como Galileu Galilei e Abraham Lincoln. A médium Adelaide Scritori, atual líder da organização, afirma ser capaz de se comunicar com a entidade desde o nascimento, quando uma forte geada teria marcado seu parto e desencadeado a manifestação do espírito por intermédio do seu pai, o médium Ângelo Scritori, fundador da instituição.
A FCCC se apresenta como uma ONG com a missão de mitigar desastres climáticos causados pelo desequilíbrio ambiental. Já teve entre seus apoiadores o escritor Paulo Coelho, que ocupou o cargo de vice-presidente da fundação no início dos anos 2000.

Das prefeituras aos palcos: uma trajetória cheia de controvérsias
A fundação voltou às manchetes nesta semana, ao anunciar uma nova suspensão parcial de suas “assistências climáticas” aos Estados Unidos. A decisão veio no mesmo dia em que o governo norte-americano, liderado por Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados, a partir de 1º de agosto.
Em nota publicada nas redes sociais na última terça-feira (9), a FCCC alegou agir com base no “princípio da reciprocidade”, informando que reduzirá em 50% seus serviços espirituais prestados a regiões americanas.
Não é a primeira vez que a fundação reage a decisões políticas com cortes simbólicos de atuação: em 2017, rompeu relações com os EUA após a retirada do país do Acordo de Paris, firmado para conter as mudanças climáticas.
Próxima edição sem clima definido
O Rock in Rio já tem retorno confirmado para 2026, e até o momento, não há sinal de reaproximação com a fundação. Se o tempo vai colaborar ou não, ainda é cedo para dizer. Mas uma coisa é certa: seja por fé, folclore ou coincidência climática, a lembrança do Cacique Cobra Coral continua viva na memória e nas nuvens dos fãs.
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