BRASIL
"Conheço o evangelho e sei que Jesus me aceita", diz pastor trans
Religioso foi criado em família conservadora
Por Redação
As comunidades evangélicas e LGBTQIAPN+ são vistas como antagonistas muitas vezes, mas exemplos como o do Pastor Heliano Ferreira Silva mostram que há pontes.
"Por mais que 90% da sociedade fale que os LGBTs não herdarão o reino do céu, depois que conheci o Evangelho, eu sei que Jesus me aceita", disse Heliano, em entrevista ao Uol.
"Não vivo em promiscuidade, eu sou esposo de uma mulher só, casei diante de Deus e pela lei, porque hoje ela garante isso. Pior são homens e mulheres em cima de altares, mentindo para si próprios, para a sociedade e para Deus. Esses, sim, acho que irão pagar uma conta alta com Deus", completa.
Criado em um lar católico e conservador, Heliano desde cedo sentia interesse amoro em mulheres. O discurso em casa era de tratar a orientação sexual como algo anormal.
"Minha família sempre foi muito preconceituosa com pessoas LGBTs. Chegou um ponto em que eu pensei: como eu vou ter um relacionamento com outra menina? Eu não posso. Eu sou sapatão? Eu vou para o inferno, minha mãe vai me dar uma surra", lembra Heliano Ferreira.
Heliano, então, passou a se relacionar com homens e só aos 34 anos teve a primeira experiência com mulheres. "Fui muito real, falei que não sabia como era ficar com mulher, e ela disse que tudo bem, para a gente ficar junta e ver se era isso. E entendi que não queria mais homens na minha vida. Isso já faz 11 anos."
Aceitação
O mais difícil foi a autoaceitação. A tradição religiosa e conservadora que aprendera seguiam boicotando-o no subconsciente.
"Achei que Deus não me aceitava, que eu estava no inferno. É o que as igrejas tradicionais dizem. Então, eu quis 'abraçar o capeta', dançar com ele. Comecei com promiscuidade, um vandalismo com a minha vida", diz ao Uol.
"Não tinha ninguém, pegava, mas não me apegava." Até que recebeu o convite de uma amiga para ir ao culto de uma igreja inclusiva, em que pessoas LGBTs são bem-vindas. Lá, diz ter conhecido um Evangelho que o acolheu e o incentivou.
Um ano após entrar na igreja, ele conheceu Maiara —hoje, sua esposa. Os dois se apaixonaram e estão juntos há sete anos. Em maio deste ano, fundaram sua própria igreja no interior paulista. O nome escolhido, Kaléo, é interpretado como "chamado" ou "vocação". "Automaticamente, eles começaram a me chamar de pai", lembra.
Transição
Heliano começou a transição em 2018 fazendo terapia hormonal para adquirir características como pelos no rosto. Dois anos depois, o choque: um diagnóstico de câncer de mama.
Foram 16 ciclos de quimioterapia até a cirurgia de retirada da mama, a mastectomia, em 2021. "Foi a minha maior luta, porque tiraram uma mama só, mesmo com o meu desejo de tirar as duas", diz.
Neste ano, retirou a outra mama. "Agora, estou 100% Heliano, vivendo o que sempre quis viver e sem câncer. Estou em remissão há 3 anos, fazendo exames todos os anos, mas graças a Deus sem vestígios de volta do câncer."
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