INDÍGENA
'É o presente da minha vida', diz Ailton Krenak sobre eleição para ABL
O ambientalista, filósofo e líder indígena foi eleito nesta quinta-feira
O indígena, ambientalista e escritor, Ailton Krenak, recém eleito para assumir uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL), disse que recebeu um grande presente. "Desde ontem, eu me belisco para sentir que estou me relacionando com o cotidiano, com a realidade. [...] É o presente da minha vida".
"Eu estou obviamente mudado na minha observação sobre tudo e, principalmente, com a possibilidade de ampliar o horizonte disso que a gente chama de letras. As pessoas, quando escutam falar de letras, pensam literalmente nessas tipografias com que a gente está acostumado, nos livros. Agora, tem uma novidade, que é uma pessoa que conta histórias. Machado de Assis cumprimentou um contador de histórias e disse que é bem-vindo", acrescentou Krenak.
"Ideias para adiar o fim do mundo", "A vida não é útil", "O amanhã não está à venda" e "Futuro ancestral", estes são os livros do autor publicados pela Companhia das Letras.
Ele também é um coautor, ao lado de Helena Silvestre e Boaventura de Sousa Santos, de "O sistema e o antissistema: Três ensaios, três mundos no mesmo mundo", lançado pela Autêntica.
As obras do líder indígena foram traduzidas em 13 países e são transcrições de entrevistas, conversas e discursos feitos pelo pensador, que não tem o hábito de escrever. Ele segue a tradição indígena da oralidade, em que o conhecimento é transmitido por meio da voz.
Mineiro de Itabirinha, na Região do Rio Doce, Ailton Krenak se tornou "imortal" da ABL na semana em que completou 70 anos de idade. Ele recebeu 23 votos e foi eleito para a cadeira número 5, vaga deixada por José Murilo de Carvalho, que morreu em agosto.
Segundo Krenak, mais importante do que ser o primeiro indígena eleito é ter a oportunidade de ocupar a cadeira e contribuir com novas formas de pensar as letras. "Essa ideia de ser o primeiro é muito competitiva, tem a ver com a cultura predatória. Eu vejo a importância em ser uma dessas pessoas que podem expressar a diversidade da cultura. E, como é uma Academia Brasileira de Letras, espero que a gente consiga ampliar o horizonte do que seja letras. A gente pensar nossa cultura, nossa identidade, nossa história. Imagina quanta novidade veio dar à minha praia", comentou.
Mas, como novo membro da ABL, Ailton Krenak tem planos que quer colocar em prática.
"Eu acho que a língua portuguesa não é a única língua do Brasil, pode ser a oficial, mas os povos indígenas têm 180 línguas com inventário que permite identificá-las pela família linguística, pelo tronco linguístico, e muitas dessas línguas estão passando por processo de reconfiguração, estão ampliando suas gramaticas, e eu preferi chamar de linguagens. [A ideia é] trabalhar uma plataforma em que povos originários possam se expressar com suas linguagens", afirmou.
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