BRASIL
“É um movimento que veio para ficar”, afirma consultor em diversidade sobre programa de inclusão de rede varejista
Após anunciar que o Programa de Trainee para 2021 seria exclusivo para pessoas negras, a rede varejista Magazine Luiza dividiu opiniões na internet, provocando intensas discussões, que vão desde a necessidade de ações afirmativas nas empresas brasileiras até a suposta existência de um “racismo reverso”.
Segundo informações divulgadas pela própria empresa, seu quadro de funcionários possui cerca de 40 mil pessoas, sendo 53% composto por negros. Contudo, ao analisar os cargos de liderança, é possível perceber que 84% deles são ocupados por pessoas brancas. Essa realidade de desigualdade se reflete na maioria das corporações nacionais e também em outros setores da sociedade.
Para a ativista do Movimento Negro Unificado (MNU) e mestranda em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Samira Soares, o questionamento sobre racismo não gerava essa polêmica quando se percebia que 84% dos cargos de liderança ocupados na empresa eram de pessoas brancas.
“Os brancos só questionam espaços de visibilidade quando existem ações afirmativas, mas quando eles estão em maioria o processo é de silenciar-se para se manter no poder. É muita hipocrisia, e chega a ser extremamente equivocado, dizer que existe racismo reverso num país cuja população que mais morre é a população negra”, destacou.
A ativista relatou que, para ela, é nítido o quanto o Brasil é forjado no mito da democracia racial, onde existe uma falsa ideia de igualdade entre brancos, negros e indígenas, e a partir disso se naturaliza uma maioria branca em espaços de visibilidade, liderança e poder.
“Como é que existe racismo reverso se a maioria da população branca está em espaços de protagonismo e poder em qualquer empresa? Isso é uma análise que a gente dá conta de fazer e que a própria Magazine promoveu, em um aspecto de compreender a diversidade que era necessária dentro da empresa”, declarou a ativista baiana.
De acordo com Samira, a iniciativa da varejista e de outras empresas que já estão revendo a falta de diversidade nos espaços de liderança é um processo de ação afirmativa e reparação histórica. “Acho que essa iniciativa foi importante, porque é um ganho político e histórico. Isso está no âmbito dos nossos direitos. As ações afirmativas devem estar inseridas nas políticas de todas as empresas”, completou.
De acordo com o empreendedor, consultor em diversidade e autor do livro “Oportunidades Invisíves”, Paulo Rogério Nunes, o trainee é a porta para a liderança na empresa, pois são pessoas com potencial de crescer na instituição.
“Acho que a polêmica foi causada por grupos que não concordam com as mudanças da empresa, que aparentemente gostam de manter as coisas como elas sempre estiveram. E como sempre estiveram? É só dar um Google na palavra ‘trainee’ e ver as imagens que aparecem. Tem dados disponíveis de órgãos públicos e privados mostrando que o número de pessoas afrobrasileiras em cargos diretivos, de presidência e autogestão é muito pequeno” afirmou Paulo Rogério.
Ele explicou ainda que, nos programas de trainee, jovens são escolhidos para passar por vários setores da empresa, como uma forma de empoderar a carreira deles. O especialista também declarou que é um programa necessário e importante, pois, no médio e longo prazo, pode ajudar nessa distorção no número de pessoas de origem africana a estarem em cargos de destaque no mundo corporativo.
“Se os jovens que acessam esses programas tiverem o mesmo perfil e estudarem em escolas de elite, obviamente a liderança do Brasil no mundo corporativo, daqui a 10, 20 anos continuará sendo a mesma. Acho que agora a discussão tem que ser de ampliar os programas para que as empresas tenham mais diversidade já nos cargos de contratação imediata.”, pontuou.
Grupo A TARDE recebe Selo da Diversidade Étnico-Racial
Em 2017, o Grupo A TARDE recebeu o Selo da Diversidade Étnico-Racial, concedido pela Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal de Reparação. O prêmio ao veículo de comunicação foi concedido na categoria Compromisso. No total, 148 entidades foram reconhecidas com o certificado.
O selo é uma identificação às empresas e organizações não governamentais que contribuem no combate à discriminação racial, com ações afirmativas e de igualdade ao longo do ano.
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