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BENTO GONÇALVES

Escravidão no Sul: gaúcho diz que apenas baianos eram agredidos

"Nós do Sul não apanhávamos", diz trabalhador resgatado em trabalho análogo à escravidão

Por Da Redação

03/03/2023 - 8:08 h
A chegada de um pequeno grupo dos trabalhadores na Defensoria Pública do Estado da Bahia.
A chegada de um pequeno grupo dos trabalhadores na Defensoria Pública do Estado da Bahia. -

Na última semana, mais de 200 trabalhadores foram resgatados em condições de trabalho degradantes em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A maioria desses eram baianos, que foram encaminhados de volta para a Bahia após uma operação da Polícia Rodoviária Federal em conjunto com o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Um gaúcho, que trabalhava na colheita de uvas para a empresa terceirizada acusada de deixar os trabalhadores em situações degradentes, deu detalhes do dia a dia e do alojamento. Em entrevista ao TAB UOL, ele relatou que apenas os baianos eram alvo das agressões. "Nós do Sul não apanhávamos", contou.

>> MPT dá dez dias para vinícolas apresentarem contratos com terceirizada

O homem, que não teve a identidade revelada, contou que durante a madrugada presenciou ao menos quatro seguranças entrando no quarto ao lado e agrediu um grupo de trabalhadores baianos. A agressão aconteceu após um deles denunciar em vídeo nas redes sociais as condições do uniforme que recebia diariamente para a colheita de uva, completamente encharcado.

"Escutei barulho de choque, de gritos, de pedidos de socorro, mas não tinha o que a gente pudesse fazer", falou. Horas depois, o gaúcho se encontrou com um deles no ginásio para onde foram levados. "Ele estava bastante machucado, com os olhos inchados."

"Eles apanhavam bastante. Qualquer coisa que estivesse errada, apanhava. Nós do Sul não apanhávamos", relatou.

O trabalhador contou que chegou ao local depois de ver nas redes sociais uma oferta de emprego na colheita da uva com o salário de R$ 2.000 pelo mês trabalhado. Achei que fosse um trabalho como qualquer outro." Ao desembarcar da van com outras 30 pessoas, já encontrou trabalhadores baianos atuando no campo.

Rotina de trabalho

Na entrevista, o gaúcho também deu detalhes sobre a rotina dos trabalhadores. A gente saía para trabalhar às 5h e chegava na pousada às 20h. O combinado era um horário normal, das 7h às 18h, com uma hora de intervalo."

Ele ainda disse que o prato de comida era entregue para o grupo ainda na madrugada e como não tinha refrigeração, até a hora do almoço, acaba estragando. Tanto no almoço quanto no jantar, o prato de comida era sempre o mesmo: arroz, feijão e frango. "Passei mal com a comida. Um dia a gente teve que parar de trabalhar, era diarreia e vômito. Um cara até foi parar no hospital".

Alojamento

A reportagem também publicou detalhes do alojamento que mantinha mais de 200 trabalhadores. O alojamento tinha três andares, dividido em duas casas diferentes. Havia poucos banheiros, que só eram limpos uma vez na semana e quem ficava m determinado andar só podia tomar banho nos chuveiros disponíveis naquele piso.

Sem luz elétrica, o banho era com água gelada e como as filas para utilizara os banheiros eram grandes, alguns só conseguiam se limpar depois da 0h, mesmo que no dia seguinte trabalhasse às 5h.

Entenda o caso

No dia 22 de fevereiro, uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores que enfrentavam condições de trabalho degradantes em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O resgate ocorreu depois que três trabalhadores que fugiram do local contactaram a PRF, em Caxias do Sul (RS), e fizeram a denúncia.

Atraídos pela promessa de salário de R$ 3 mil, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho e oferta de alimentos estragados. Eles relataram ainda que, desde que chegaram, no início do mês, eram coagidos a permanecer no local sob pena de pagar multa por quebra do contrato de trabalho. A PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa, que foi encaminhado para o presídio de Bento Gonçalves.

Em notas, as vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora disseram que desconhecer as irregularidades praticadas contra os trabalhadores recrutados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda., que integra o grupo Oliveira & Santana, prestadora de serviços terceirizados e responsável pela contratação dos trabalhadores que faziam colheita da uva.

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