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COP30

Ipea calcula quanto países ricos devem ao planeta por excesso de poluição

Análise do Ipea quantifica a dívida histórica dos países desenvolvidos por excesso de emissões

Georges Humbert*

Por Georges Humbert*

16/11/2025 - 14:49 h
Imagem ilustrativa da imagem Ipea calcula quanto países ricos devem ao planeta por excesso de poluição
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A mudança climática é um dos maiores desafios da humanidade no século XXI, e seu impacto desproporcional sobre países em desenvolvimento como o Brasil tem gerado debates sobre justiça social pela questão ambiental. Sem tratados firmados, esta pauta tem que deixar de ser vista apenas obrigação moral dos países desenvolvidos — que historicamente emitiram a maior parte dos gases de efeito estufa (GEE) — de compensar nações mais pobres pelos danos causados pela poluição excessiva.

Esses danos incluem eventos extremos como secas, inundações e perda de biodiversidade, enquanto os países desenvolvidos deixam de explorar, em detrimento do progresso social e econômico do seu povo. No Brasil, por exemplo, 60% do território não é explorado, 14% dedicado à comunidades tradicionais, 80% da Amazônia é preservada e há abundância de petróleo, gás, minérios à explorar, de forma sustentável, enquanto os países ricos o fizeram irracional e desordenadamente.

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Isso significa que, enquanto preserva e sequestra carbono, falta água, saneamento, emprego e segurança para o povo, que também sofre com consequências de emissões globais.

Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), intitulado “Operacionalizando a justiça climática: uma proposta para quantificar e reparar dívidas climáticas”, oferece uma base quantitativa para essa discussão.

Publicado em outubro de 2025, o trabalho, de autoria do pesquisador Rodrigo Fracalossi, calcula a dívida climática dos países desenvolvidos com base no custo social do carbono (SCC, na sigla em inglês), uma métrica que estima o prejuízo econômico e social causado por cada tonelada de dióxido de carbono (CO₂) emitida.

De acordo com o estudo, o SCC adotado é de US$ 417 por tonelada de CO₂, valor mediano extraído de análises globais que consideram impactos como perdas agrícolas, saúde pública e migrações forçadas.

Metodologia do estudo: orçamento de carbono e dívida acumulada

O cálculo da dívida climática parte do pressuposto de um “orçamento global de carbono”, estimado em cerca de 2,7 trilhões de toneladas de CO₂ para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o Acordo de Paris.

Esse orçamento é dividido proporcionalmente à população de cada país (abordagem de igualdade per capita, ou EPC), com o ano de 1990 como base — período em que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) começou a reconhecer a responsabilidade diferenciada.

A dívida surge quando um país excede sua cota alocada, multiplicando-se o excesso de emissões pelo SCC.

O estudo considera emissões acumuladas desde 1990, ajustadas anualmente pela população. Países desenvolvidos, com emissões históricas elevadas devido à industrialização precoce, acumulam déficits significativos. Já nações em desenvolvimento, como muitas na África e Ásia, frequentemente têm “créditos” por emitirem abaixo de sua cota.

No caso do Brasil, classificado como país de renda média, o cálculo revela um excedente de emissões (principalmente devido ao desmatamento e mudanças no uso da terra), resultando em uma dívida própria estimada em US$ 8,7 trilhões.

No entanto, o estudo enfatiza que essa dívida pode ser “quitada” por meio de ações de remoção de carbono, como reflorestamento em áreas degradadas, promovendo assim a justiça climática sem penalizações financeiras diretas.

O valor da dívida climática dos países desenvolvidos

De acordo com o Ipea, os países desenvolvidos acumularam uma dívida climática total de aproximadamente US$ 90,4 trilhões (equivalente a R$ 476 trilhões, considerando câmbio aproximado de novembro de 2025) por emissões excessivas de CO₂.

Esse valor representa o custo social global das externalidades negativas impostas ao planeta, incluindo impactos desproporcionais sobre economias emergentes.

Entre os maiores devedores destacam-se:

• Estados Unidos: US$ 46,6 trilhões, por excederem em 326% seu orçamento de carbono (emissões reais de 183 bilhões de toneladas contra 57,1 bilhões permitidas). 10

• Japão: US$ 9,4 trilhões, refletindo emissões industriais históricas. 10

• Outros países como Canadá, Austrália e membros da União Europeia contribuem para o restante, com dívidas proporcionais ao seu histórico de emissões fósseis.

Notavelmente, a China, apesar de ser a maior emissora atual, não possui dívida climática no modelo, pois suas emissões per capita são mais recentes e sua cota populacional (a maior do mundo) foi utilizada em apenas 78,6%.

Isso reforça o foco na responsabilidade histórica dos desenvolvidos, que precisam parar de colocar países em desenvolvimento na mesma gaveta dos ricos e pagar a estes por essa dívida ecológica, com foco em investimentos sociais, em especial na infraestrutura, moradias, saneamento, educação, saúde, esportes e segurança.

Quanto os países desenvolvidos devem ao Brasil?

Embora o estudo não aloque valores específicos de compensação por país credor — tratando a dívida como uma obrigação global ao “mundo” —, ele destaca que recursos arrecadados seriam priorizados para países de baixa e média renda, como o Brasil, que enfrentam vulnerabilidades climáticas elevadas.

O Brasil, apesar de sua dívida calculada, é visto como beneficiário potencial, pois os fundos poderiam financiar adaptação (ex.: infraestrutura resiliente a enchentes), mitigação (expansão de energias renováveis) e remoção de carbono (reflorestamento na Amazônia).

Estima-se que, se a dívida total de US$ 90,4 trilhões fosse reparada gradualmente, uma parcela significativa poderia ser direcionada ao Brasil, considerando sua exposição a riscos climáticos e o papel como guardião de florestas tropicais.

Por exemplo, propostas na COP29 visam US$ 300 bilhões anuais em financiamentos climáticos até 2035, o que representa cerca de 1,43% da dívida total e poderia incluir bilhões para o Brasil.

O estudo sugere mecanismos de financiamento como taxação de super-ricos (imposto de 2% sobre bilionários, gerando US$ 200-390 bilhões anuais) e imposto mínimo global sobre multinacionais (15%, adicionando US$ 155-192 bilhões), totalizando mais de US$ 500 bilhões por ano para projetos globais.

No contexto brasileiro, isso poderia significar investimentos em diversificação agrícola, redução da pobreza em regiões afetadas e preservação de biomas, efetivamente “compensando” o país pelos danos causados por emissões alheias. O Ipea argumenta que tais reparações não substituem a necessidade de redução imediata de emissões fósseis, mas promovem equidade.

A dívida ecológica calculada pelo Ipea reforça a urgência de ações internacionais para redistribuir responsabilidades ambientais. Para o Brasil, que abriga a maior floresta tropical do mundo e sofre com eventos climáticos extremos, essa compensação representa uma oportunidade de desenvolvimento sustentável.

O sucesso depende de negociações globais, como as da UNFCCC, e da implementação de políticas domésticas, como a Lei nº 15.079/2024, que alinha o Brasil a padrões internacionais de tributação.

Em última análise, reconhecer e quantificar essa dívida é um passo essencial para um futuro mais justo, onde os poluidores históricos arcam com os custos de suas ações.

De todo modo, a despeito de impores altas - e desnecessárias - exigências ecológicas ao Brasil, que já faz bem esse dever de casa, EUA, China, US e Rússia não parecem dispostos a pagar essa conta, a fim de promover justiça social e econômica. Se isso não for resolvido ou encaminhado, nesta Cop, que fique bem claro ao planeta que o Brasil é credor Ecológico do hemisfério norte.

*Georges Humbert é correspondente de A TARDE na COP30, em Belém

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