APÓS AMEAÇAS
Jornalista britânico e indigenista desaparecem no Amazonas
Profissional da imprensa morava em Salvador e escrevia sobre conflitos de terras e questões indígenas
Por Da Redação
O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal 'The Guardian' no Brasil, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira desapareceram na Amazônia brasileira no domingo, 5. O inglês, que mora em Salvador, produzia reportagens sobre conflitos de terras e questões indígenas, acompanhado de Bruno, e vinha sofrendo ameaças em decorrência do trabalho.
Segundo a associação indígena do Vale do Javari (Unijava) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), Pereira e Phillips viajaram na última sexta-feira, 3, até um posto de vigilância indígena próximo a uma localidade chamada Lago do Jaburu, "para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas".
No domingo, 5, segundo a nota, os dois deveriam voltar para Atalaia do Norte, mas antes fizeram uma parada previamente agendada na comunidade ribeirinha São Rafael para visitar um líder comunitário conhecido como "Churrasco". O objetivoera " consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetado pelas intensas invasões".
Os dois chegaram à comunidade São Rafael por volta das 6h. Como não encontraram o líder, conversaram com sua esposa e partiram rumo à Atalaia do Norte. A viagem normalmente dura cerca de duas horas. "Assim, deveriam ter chegado por volta de 8h/9h da manhã na cidade, o que não ocorreu", dizem a Unijava e o OPI.
Às 14h, os órgãos mandaram uma equipe "formada por indígenas extremamente conhecedores da região", que teriam percorrido inclusive os "furos" do rio Itaquaí, "mas nenhum vestígio foi encontrado".
"A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel - que fica abaixo da São Rafael - com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte", diz a nota.
Às 16h, "outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado".
A nota diz ainda que diversas ameaças "já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Unijava, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International".
Trabalho
Segundo a associação indígena do Vale do Javari (Unijava) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), o indigenista Bruno Pereira é muito experiente e “profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos". As entidades afirmam que ele e Phillips estavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina, "o suficiente para a viagem".
A Funai disse que ele integra o seu quadro de servidores, mas não estava na região em missão institucional.
Segundo o jornal The Guardian, Phillips, que mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos, "está trabalhando num livro sobre o meio ambiente com apoio da Alicia Patterson Foundation". Ele estava licenciado para trabalhar na Amazônia.
Repercussão
Jornalistas, políticos e diversas autoridades repercutiram o caso nas redes sociais e pediram celeridade nas investigações.
Jonathan Watts, editor de meio ambiente do Guardian, escreveu no Twitter que Dom Phillips, é um "jornalista excelente" e "grande amigo". O correspondente do The Guardian na América Latina, Tom Phillips, disse que a situação é "extraordinariamente preocupante". "Por favor, compartilhe o mais amplamente possível", pediu ele.
O Exército, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal acompanham o caso. A Abraji informou que enviou ofícios às autoridades pedindo prioridade na elucidação do caso e no resgate da dupla.
O caso foi encaminhado à delegacia da PF em Tabatinga, a 1.107 km de Manaus, que disse ter realizado as primeiras diligências para investigar o desaparecimento de Philips.
À Abraji, o MPF-AM informou que instaurou um procedimento administrativo para apuração e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil, que confirmou ao MPF as realização de atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais.
A Funai também declarou acompanhar o caso e está em contato com as forças de segurança que atuam na região. A comunidade de São Rafael, último local em que o barco do jornalista e do indigenista foi avistado, fica a cerca de 10 minutos de barco da base da Funai na confluência entre os rios Javari e Ituí.
Confira outros pronunciamentos:
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