BRASIL
Laudo aponta responsabilidade de bilionário por acidente aéreo que matou 5 em Maraú
Por Rodrigo Tardio
Era início da tarde do dia 14 de novembro de 2019. O que parecia ser uma aterrissagem tranquila - a arenovave estava prestes a tocar a pista de pouso de 1 km de extensão, na Península de Maraú, no Sul baiano - de repente se transformou em um cenário de tragédia. A aeronave tinha partido de Jundiaí (SP) e pousou antes da cabeceira da pista. O Cessna 550 pegou fogo e explodiu, matando cinco pessoas e deixando outras quatro com graves lesões.
O jato fretado pertencia ao bilionário José João Abdalla Filho, 22º mais rico do país, com uma fortuna estimada em mais de R$ 12 bilhões, de acordo com a revista Forbes.
Familiares das vítimas movem na Justiça um pedido de indenização por danos morais e materiais contra Abdalla. “O laudo do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] é a prova que buscávamos para responsabilizar José João Abdalla Filho pelo acidente”, diz o advogado Nelson Willians.
As vítimas do acidente foram a empresária Marcela Elias, de 37 anos, o filho dela, Eduardo Elias, de 6, a irmã, a influenciadora Maysa Mussi, de 32, além do copiloto Fernando Oliveira Silva, 26, e do piloto de Stock Car Tuka Rocha, 37.
Outras quatro pessoas sofreram lesões graves: Eduardo Elias, pai de Eduardo e viúvo de Marcela; Eduardo Mussi, viúvo de Maysa; Marcelo Constantino, herdeiro da companhia aérea Gol; e a namorada dele, a artista plástica Marie Cavelan. Já o comandante Aires Napoleão Guerra sofreu ferimentos leves.
O advogado das vítimas diz ainda que, desde o acidente, José João Abdalla Filho nunca enviou mensagem de condolência às famílias, muito menos retornou as tentativas de diálogo.
“O Abdalla alugou o avião com os pilotos. A queda é resultado de erro humano cometido por alguém contratado por ele. Por essas razões, ele deve ser responsabilizado por cinco mortes e tamanha dor”, argumenta Nelson Wilians.
Laudo
De acordo com laudo do Cenipa, o comandante Aires Napoleão Guerra cometeu inúmeros erros que causaram a queda do bimotor.
“A avaliação inadequada, vinda do comandante, da posição da aeronave em relação à rampa de aproximação final e à pista de pouso fez com que a aeronave tocasse o solo antes da cabeceira”, conclui o relatório.
O documento mostra também “a falta do adequado emprego das técnicas de CRM, por intermédio do gerenciamento das tarefas a bordo, o que comprometeu o aproveitamento dos recursos humanos disponíveis para a operação da aeronave, a ponto de impedir a adoção de uma atitude, como uma arremetida, por exemplo, para evitar o acidente, a partir do momento em que os parâmetros recomendados para uma aproximação estabilizada VFR não estivessem mais presentes”.
Ainda de acordo com o relatório, “durante a aproximação para o pouso, o comandante dividiu a atenção entre a supervisão das atividades do copiloto e a atuação nos comandos da aeronave. Sendo assim, pode ter prejudicado o gerenciamento do voo e limitado o tempo de reação para corrigir a rampa de aproximação”.
Outro trecho apont que "existe um relato que o comandante teria tirado fotografias da pista e do aeródromo com um celular, durante a perna do vento, o que reflete uma postura inadequada e complacente em relação às tarefas primordiais na relatada fase do voo, vindo então a contribuír para a ocorrência em tela”.
O Cenipa destaca também que “o comprometimento da capacidade auditiva do comandante da aeronave, junto com a falta do uso de headphones, podem ter interferido na comunicação interna da cabine de pilotagem, na fase crítica de voo”.
O laudo chama a atenção ainda para o fato de que “a aeronave decolou com peso acima do previsto no manual de operação”.
A reportagem do Portal A TARDE solicitou posicionamento dos advogados de Abdalla Filho, porém eles informaram que não têm autorização para comentar o caso.
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