GENEBRA
Ministra articula adesão do Brasil ao maior centro científico do mundo
Luciana Santos está no CERN, que fica entre a França e a Suíça para viabilizar parceria
O Brasil pode se associar ao maior e mais avançado centro científico do mundo. Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN) localizado na fronteira entre a Suíça e a França, é uma instituição de pesquisa dedicada à física de altas energias. Suas conquistas incluem a confirmação do bóson de Higgs, a construção do acelerador de partículas LHC, o desenvolvimento da World Wide Web e a investigação sobre a origem do universo. O CERN é composto por países membros e associados, e o Brasil está em processo de adesão.
Em visita ao CERN nesta sexta-feira, 9, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, reafirmou o compromisso do governo brasileiro com o processo de adesão. Acompanhada de uma delegação parlamentar, ela conheceu as instalações, se reuniu com pesquisadores brasileiros que atuam na organização científica e reiterou que a associação ao CERN integra a estratégia de ampliar o acesso do Brasil a infraestruturas globais de pesquisa. Para aderir à organização, o país precisa contribuir com US$ 12 milhões por ano – valor que, segundo a ministra, não compromete o financiamento e traz enormes benefícios para a ciência brasileira.
“Esta parceria será de grande importância para a comunidade científica brasileira, mas, principalmente, para a indústria nacional de base inovadora. É prioridade do governo do presidente Lula a reindustrialização em novas bases, com o objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas empresas nacionais”, disse a ministra.
Para além do mistério que cerca a existência do universo, a ciência produzida no CERN permite o desenvolvimento de experimentos que oferecem soluções para a saúde, a indústria e o meio ambiente. A partir do grande acelerador LHC, outros empreendimentos científicos foram construídos. Um deles é o Sirius, que funciona no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
Os dois aceleradores já possuem acordo de cooperação, mas a associação do Brasil ao CERN vai elevar a transferência de tecnologia para outro patamar. Grande parte das tecnologias desenvolvidas pela organização acontece em parceria com a indústria por meio de contratos de pesquisa e desenvolvimento e de fornecimento de serviços e matéria-prima. Para se ter uma ideia, os investimentos do CERN com contratos e encomendas junto à indústria alcançaram cerca de US$ 500 milhões nos últimos anos. Se aprovada, a adesão vai permitir a participação das empresas brasileiras nos contratos com o CERN, além de assegurar o acesso de pesquisadores e cientistas à organização, ampliando a formação de recursos humanos altamente qualificados, o que é importante para a reindustrialização do país.
Minerais estratégicos
Outra vantagem da associação do Brasil à Organização Europeia para Pesquisa Nuclear é o acesso do país a matérias-primas especiais, como o nióbio, largamente utilizado para a fabricação de ímas. Em vez de adquirir o minério em sua forma natural, o CERN opta pelo produto final para aplicação em seus componentes. “O Brasil tem todo o interesse em absorver a tecnologia utilizada na fabricação das ligas de nióbio, titânio e cobre em vez de ser apenas um exportador de matéria-prima”, ressaltou a ministra Luciana Santos.
Segundo o diretor-geral do CNPEM, Antonio José Roque da Silva, diferente do CERN, o Sirius é um acelerador de elétrons que gera a luz necessária para a investigação dos materiais e, por isso, está mais próximo de aplicações práticas, como a investigação das rochas do pré-sal, das células do organismo e das proteínas para o desenvolvimento de fármacos, por exemplo. Mas as pesquisas realizadas pelo CERN são fundamentais para o Brasil dar um salto no desenvolvimento científico e tecnológico.
“A ciência e a tecnologia possuem vários componentes que transformam uma sociedade. A formação de recursos humanos qualificados, o avanço no conhecimento da humanidade como um todo, a transferência de tecnologia de ponta para empresas. Isso gera novos empregos e a internacionalização necessária para que o Brasil possa ser parte dessa grande rede mundial de pesquisa", disse o diretor-geral.
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