ESPÍRITO SANTO
Montanhas Capixabas: região é berço de café artesanal e agroturismo
Portal A TARDE embarcou em um roteiro rural pela região, descobrindo novos sabores e tradições familiares
Por Isabela Cardoso, do Espírito Santo*
Para além das famosas praias do Espírito Santo, ao sul do estado se esconde uma região serrana com paisagens naturais, clima ameno, forte influência de tradições europeias e sabores autênticos da culinária local: as Montanhas Capixabas. A 45 km da capital, o lugar oferece um verdadeiro turismo de experiência para aqueles que gostam de imergir dentro de uma cultura.
Toda a extensão das Montanhas Capixabas compreende dez municípios: Alfredo Chaves, Afonso Cláudio, Brejetuba, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Laranja da Terra, Marechal Floriano, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante.
A região também se destaca pelo agroturismo, um roteiro onde o viajante se aproxima de agricultores familiares e conhece propriedades onde a agricultura é realizada, sempre com uma forte tradição familiar, além de explorar a natureza e a cultura local. Essa foi a rota realizada pelo Portal A TARDE nesta semana.
Apicultura
A apicultura é considerada uma das grandes opções de aumento de renda para a agricultura familiar no Espírito Santo. O estado conta com produção de mel em diferentes floradas, ou tipo de flores: camará, eucalipto, café, aroeira ou pimenta-rosa, pitanga, cambucá, citrus, muringa, assa-peixe, entre outras.
O turismo nas Montanhas Capixabas busca levar o viajante diretamente aos apicultores locais. Eles compartilham alguns segredos da produção de mel e a importância das abelhas na polinização das plantações da região, além de proporcionar uma experiência sensorial na degustação de mel fresco.
O holandês Arno Wieringa, apicultor e proprietário da Florin Apiário, localizada no município de Domingos Martins, começou a trabalhar com abelhas, no Brasil, através da tradição familiar passada pelo pai. Hoje, ele oferece ao turista uma experiência de visitação dentro do apiário.
“Nas Montanhas, você passa nas pequenas propriedades e conversa diretamente com o proprietário, esse é o nosso diferencial. Aqui, através da reserva antecipada, a pessoa pode visitar nossas abelhas com o macacão de apicultor. Nós temos enxames educados, pequenos, são abelhas mais mansas, que servem para este fim”, contou.
A visita técnica tem uma taxa de R$ 15 por pessoa e a visitação às abelhas tem o valor de R$ 125 por pessoa.
Cafeicultura
As Montanhas Capixabas têm se destacado no mercado brasileiro de café devido a uma colheita altamente seletiva e um processamento artesanal, proveniente de tradições familiares. Conquistando um lugar de valorização, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) concedeu o selo de Indicação Geográfica (IG) ao Café Montanhas do Espírito Santo, na categoria de Denominação de Origem (DO).
Através de trabalhos científicos, a concessão da IG concluiu que as temperaturas amenas das Montanhas do Espírito Santo permitem que o amadurecimento dos frutos do café ocorra de forma mais gradativa. Além disso, constata ainda que os fatores humanos ligados à herança familiar e cultural diversa, assim como características de cultivo e pós-colheita do café influenciam nas características sensoriais do café produzido na região.
A Fazenda Carnielli, localizada no município de Venda Nova do Imigrante, é especialista em produzir café há mais de um século e produz uma variedade de queijos, fubá, socol, embutidos, doces e iogurtes. Lorenzo Carnielli, responsável pela propriedade, descreve como funciona o protocolo de degustação de café que torna sua produção especial.
“O degustador vai pontuar os quatro critérios principais para café: acidez, doçura, aroma e o corpo. A primeira coisa é beber, se sentir gosto de café verde, se prende na boca, já era, não é mais café especial. Se não tem esse defeito, vou procurar as principais qualidades do café. A doçura, quanto mais vem de frutas maduras, vão ter sabores mais adocicados. As regiões de altitude vão ter cafés mais cítricos, menos amargos. O café de regiões mais baixas traz mais amargor e sensação de preenchimento de boca. Em compensação, aqui nas Montanhas bate o aroma, a doçura e menos amargor”, explicou.
A cafeicultura nas montanhas possui diferentes manejos e também é cultivada através do Sistema Agroflorestal, como na Fazenda Camocim. A prática reúne diversos tipos de árvores com uma cultura agrícola, na busca de fazer um plantio sustentável, sem interferir diretamente nos processos da natureza.
“A agricultura que a gente faz aqui é muito diferente do que vocês conhecem, respeitando o ciclo da natureza, não usando nenhum tipo de agrotóxicos há mais de 50 anos [...] A gente foi aprendendo com o tempo como que faz isso, que árvore pode usar, qual espaçamento que pode usar, qual variedade de café que pode usar”, relatou Henrique Sloper, proprietário do local.
Nesse sentido de promover um sistema agroflorestal, uma das espécies colocadas no plantio da fazenda foi uma árvore canadense, por causa da sua facilidade de adaptação entre os climas do inverno e do verão, como explica Rogério Lenque, supervisor agrícola da fazenda.
“O café não precisa só de sol ou só de sombra, ele precisa dos dois. Eu preciso de sombra no café no verão, porque ele sofre com o calor. No verão, a árvore canadense tem o trabalho de ganhar folhas, ela enche e protege o café. No inverno, eu preciso que entre sol para trazer doçura para aquela fruta. Então, ela perde a folha e o sol entra. Além disso, eu preciso que o sol entre no inverno porque é frio, o café não gosta de frio. O sol entrando vai secar o café bem rápido”, disse.
A fazenda é conhecida por produzir o café mais caro do Brasil e um dos mais caros do mundo, o Café Jacu. O processo começou quando os produtores notaram que a ave Jacu invadia as plantações e se alimentava dos frutos do café, se tornando uma certa “praga” de plantação.
Nesse cenário, os produtores procuraram outras vias para conviver com as aves sem prejudicar o plantio e afetar a espécie, que é ameaçada de extinção. Eles observaram que as sementes de café saíam intactas nas fezes do animal, por ele não possuir estômago. Dessa forma, começou um processo de coleta, secagem e torra, gerando um sabor único e raro que os outros cafés não apresentam.
“Aqui virou uma área de reprodução. Hoje, tem um biólogo residente nosso que identifica os ninhos para a gente não mexer. Tem Jacu nascido na Camocim, como forma de incentivo. Não posso criar pássaro porque é contra lei, Jacu é um animal selvagem, mexer com ele você está cometendo um crime federal”, destaca Henrique.
Gastronomia local
A gastronomia local é um ponto fundamental na região das Montanhas Capixabas, com comidas passadas de geração em geração e uma hospitalidade calorosa dos produtores. A produção de massa artesanal e polenta foram os principais destaques experienciados pelo Portal A TARDE.
Em Afonso Cláudio, o restaurante Cantinho da Roça conquista o coração de muitos amantes da produção de macarrão fresco. A chef e proprietária, Márcia Soares, oferece aos turistas a experiência de produzir massa artesanal ao vivo no próprio restaurante como uma forma de relembrar a tradição familiar.
“Hoje em dia é tudo mais facilitado, por isso que eu acho a importância de estar mantendo a tradição, das pessoas saberem como era que os nossos antepassados faziam. Coloquei no restaurante a massa de macarrão caseira que minha avó fazia, que passou para minha mãe e eu acompanhava quando era pequena. Minha mãe fazia porque não tinha opção de comprar macarrão, então era o sustento dos filhos. Eu quis agregar valor a essa memória, colocando a massa caseira para meus clientes e também a opção de colocarem a mão na massa, literalmente, para sentir um gostinho de infância”, relatou
Também no cenário de iguarias italianas, a Pousada e Bistrô Altoé da Montanha, localizada em Venda Nova do Imigrante, oferece uma receita de família diferente: a pizza de polenta. A família Altoé serve a comida em uma polenta móvel, acompanhada de produtos típicos da região como palmito, linguiça, banana real e nanica, além da polenta brustolada.
“Fazer tudo artesanalmente, oferecer ao cliente uma vivência de como tudo funciona e como é a cultura daqui, traz uma satisfação para gente. É uma pegada familiar, com café da manhã diferente, uma hospedagem diferente, se torna algo particular. Todo mundo sai satisfeito”, contou Lara Altoé.
Rota de turismo
O Portal A TARDE conheceu duas diferentes rotas nas Montanhas Capixabas para apreciar belezas naturais: o Parque Estadual Pedra Azul, em Domingos Martins, e o Vale do Empoçado, em Afonso Cláudio. Ambas são regiões de ecoturismo, com opções para contemplação, trilhas, cachoeiras e esportes radicais.
O Parque Estadual Pedra Azul é uma região coberta pela Mata Atlântica, com a paisagem cartão postal do estado: a vista da tradicional da pedra com 1.822 metros de altitude. É recomendado ao turista passar pela Rota do Lagarto, uma estrada que circunda a Pedra Azul, com cerca de 8 km de paisagens, pousadas, cafeterias, cervejarias e lojas.
Além disso, o viajante tem as opções de visitação na Casa do Turista, Lago Negro, Portal da Pedra Azul, Piscinas Naturais, Lavandário, Bosque de Cerejeiras e o Agroturismo com produção de orgânicos.
A Rota do Vale do Empoçado conta com belezas naturais para curtir um turismo de aventura e propriedades rurais em que é possível adquirir produtos da agricultura familiar, com destaque para os queijos. O Sítio Quintas do Vale oferece visitação gratuita para os turistas, com degustação especial de queijo minas curado, que é produzido artesanalmente na propriedade.
Para os amantes de trilha, há opções de nível médio na Pedra da Lajinha, Pedra do Cruzeiro e Pedra do Gato, com práticas de escaladas e mountain bike. Entre as atrações é possível acessar piscinas naturais que ficam no meio das formações rochosas.
*Repórter viajou a convite da ES Convention & Visitors Bureau
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