BRASIL
Morre, aos 99 anos, o cantor e compositor Braguinha
Por Agencia Estado
Morreu hoje, aos 99 anos, o cantor e compositor Braguinha, também conhecido como João de Barro. Braguinha estava internado desde sábado, 23, no Hospital Pró-Cardíaco, na zona sul do Rio de Janeiro.
O compositor nasceu no dia 29 de março de 1907. Aos 16 anos, compôs sua primeira música e se tornou autor de sucessos como Carinhoso, em parceria com Pixinguinha, e Copacabana.
Braguinha também escreveu, adaptou e musicou diversas histórias infantis como Os 3 Porquinhos, Festa no Céu e Chapeuzinho Vermelho. Ele fez parte da chamada "Década de Ouro" do carnaval brasileiro, nas décadas de 1930 e 1940.
Um dos autores mais populares da época de ouro do carnaval carioca, nos anos 1930, Braguinha era filho do gerente da fábrica de tecidos Confiança. Começou a gravar cedo contra a vontade do pai, numa época em que artistas eram vistos com preconceito pela sociedade - razão pela qual ele adotou o pseudônimo João de Barro. Sua primeira canção, Vestidinho Encarnado, foi composta aos 16 anos. Mesmo sem ter estudado música ou tocar um instrumento, ele insistiu na carreira de músico, abandonando os estudos de arquitetura.
Compôs mais de 400 músicas, entre elas marchinhas carnavalescas de grande apelo popular como Chiquita Bacana e Yes, Nós Temos Banana, além de trilhas de filmes. No cinema, além de trabalhar como compositor e diretor, atuou como roteirista de filmes, destacando-se Banana da Terra (1938), em que teve como parceiro de argumento o ator e compositor Mário Lago.
Braguinha também assinou as versões dubladas dos temas musicais dos desenhos animados de Walt Disney, sendo pioneiro na gravação de canções e historinhas destinadas ao público infantil, para o qual criou o selo Disquinho, lançando adaptações de clássicos como Chapeuzinho Vermelho e Pinóquio. Empreendedor, Braguinha ocupou cargo de destaque na indústria fonográfica, trabalhando como diretor artístico da Columbia.
Nos anos 1940 e 1950 ele foi responsável pela escolha dos artistas e pelo repertório da gravadora, uma das três maiores do Brasil na época. Quem impulsionou a carreira cinematográfica de Braguinha foi o americano Wallace Downey, diretor de Estudantes (1935). Sua atuação como roteirista é, no entanto, a faceta menos conhecida do artista, que escreveu o argumento e compôs a música desse filme estrelado por Carmen Miranda e acompanhada pelo Bando da Lua.
Braguinha foi um dos grandes nomes da Cinédia, assinando argumentos e roteiros com o médico Alberto Ribeiro, seu parceiro mais constante, também co-autor de canções como "Sonhos Azuis, composta em 1936, um ano antes de Carinhoso (1937). O ano mais marcante da vida de Braguinha seria justamente o de seu casamento com Astréa Rabelo Catolino, hoje com 93 anos. Nesse mesmo ano ele compôs três marchinhas famosas da MPB: Pastorinhas (com Noel Rosa), Touradas em Madri e Yes, Nós Temos Banana, manifesto pré-tropicalista regravado por Caetano Veloso e usado pelo diretor José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O Rei da Vela.
Também em 1938 ele assinou a dublagem do primeiro desenho de longa-metragem da história do cinema, Branca de Neve e os Sete Anões, de Walt Disney, o que lhe garantiria um contrato para dublar as músicas de outros três clássicos do desenhista e produtor americano: Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Mas Braguinha será mesmo lembrado por Carinhoso e Copacabana, suas músicas mais gravadas. Carinhoso nasceu em 1937 por encomenda da cantora Heloísa Helena, que lhe pediu uma letra para um choro-canção instrumental de Pixinguinha.
Copacabana foi composta um ano antes de a guerra terminar, em 1944, recebendo uma histórica gravação de Dick Farney (considerada precursora da bossa nova) com arranjos do maestro e compositor Radamés Gnatalli, dois nomes projetados pelo Braguinha produtor musical da Continental, que substituiu a Columbia em 1943. Como diretor artístico do selo, Braguinha teve importância decisiva na carreira de grandes nomes da música brasileira, sendo o principal dele Antonio Carlos Jobim.
A Sinfonia do Rio de Janeiro, ambiciosa composição de Tom Jobim, foi gravada pela primeira vez por sua iniciativa. Braguinha lançou, além dele, nomes como Lúcio Alves, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney e Jamelão. Braguinha começou sua carreira no lendário Bando de Tangarás, ao lado de Almirante e Noel Rosa. Foi o primeiro grupo a usar batucada na história do samba com a música Na Pavuna (anos 1930, quando o samba ainda era visto como divertimento de malandro).
Sem alimentar preconceitos musicais, ele transitou pelo samba-canção de inspiração rural ("Mané Fogueteiro") e tentou acompanhar a evolução comportamental da juventude dos anos 1960, compondo músicas como Garota Saint Tropez").
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