MAIO LARANJA
Perigo no mundo real e virtual: famílias podem prevenir crimes sexuais
Campanha destaca e orienta papel da família na prevenção de crimes sexuais contra crianças e jovens
Por Priscila Dorea

Com o objetivo de orientar a sociedade sobre o combate ao abuso e exploração sexual infantil, o Maio Laranja dá início às campanhas e ações que tentam reduzir números que assustam, com o perigo presente no mundo real e no virtual.
De acordo com dados da Safernet, o número de denúncias de imagens de abuso e exploração sexual de crianças na internet no Brasil pulou de 40.572 em 2022, para 71.867 em 2023 – um crescimento de 77,13%. O Brasil hoje, aponta a rede Inhope, ocupa a 5ª posição com mais sites com conteúdo de abuso infantil denunciados, atrás apenas da Bulgária, Reino Unido, Holanda e Alemanha.
Por isso, em 2025, a Campanha Maio Laranja da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), em parceria com diversos órgãos públicos e instituições da sociedade civil, traz os perigos do mundo virtual para o centro das discussões.
Sob o tema “Crimes Virtuais Sexuais Contra Crianças e Adolescentes: Como Prevenir e Denunciar”, a campanha chama atenção para crimes como aliciamento, pornografia infantil, cyberbullying e outras formas de violência sexual online.
“Todo ano nós já fazemos o Maio Laranja e esse ano, especialmente, nós focamos na proposta de crimes cibernéticos, porque é hoje a maior violação que estamos identificando na área infantojuvenil, quando se trata de exploração de abuso sexual. O estupro virtual, a exposição da imagem, a própria rede criminosa, que atua com a imagem de crianças e adolescentes e suas exposições está muito grande”, declarou a titular da SPMJ, Fernanda Lordêlo. Professora de ciências e biologia, Carlena Azevedo é mãe de Maria Cléo (6) e alerta: o ambiente virtual, muitas vezes, é ainda mais perigoso que o real.
Com as crianças em casa e o mundo tão violento, os pais acham que os filhos estão seguros em seus quartos.
“Só que no jardim na frente de casa ou na praça do bairro outras pessoas estão por perto, no mundo virtual não. No mundo online as pessoas podem ser quem querem ser e os abusadores se passam por crianças e adolescentes, os envolvendo a ponto de nossos filhos acreditarem que estão falando com alguém da idade deles e isso é muito perigoso", explica Carlena, que é professora do Colégio Vitória Régia e da rede pública, e sempre instrui todos os seus alunos sobre os cuidados que devem ter no mundo digital e no real.
Uma coisa muito importante, ela destaca, é usar os termos corretos com as crianças, pois é muito comum darmos apelidos aos órgãos genitais, mas as palavras corretas ajudam na definição.
“A criança deve conhecer o próprio corpo e saber quais partes podem ou não ser tocadas, pois muitas podem confundir o abuso com carinho e atenção. E sempre, sem dúvida alguma, acredite no que a criança está dizendo e investigue. Por isso, inclusive, o Maio Laranja é tão importante, pois faz a sociedade refletir e entender que todos nós precisamos nos mobilizar e nos manter atentos às nossas crianças”, afirma Carlena Azevedo.
Acolhimento
Presidente da Organização de Auxílio Fraterno (OAF), Jozias Souza relata que há casos de meninas acolhidas na instituição de quatro e cinco anos com a sexualidade totalmente aflorada. “É algo realmente muito doloroso de ver, mas também mostra o quanto é importante falar sobre isso e fazer a sociedade refletir, pois essas crianças vão rever esses acontecimentos que deixaram marcas negativas nelas pelo resto da vida. Acolhemos aqui muitas crianças vítimas de abuso e buscamos de todas as formas ressignificar essas vidas, trabalhando de forma muito sincera e com muito amor”, afirma.
Mãe, fonoaudióloga e ativista do combate ao abuso infantil (@lute.por.elas), Tamires Reis – que em 2023 viu seu mundo virar de cabeça para baixo enquanto lutava na justiça pela segurança de sua filha sexualmente abusada pelo pai – explica que vem se tornando cada vez mais difícil monitorar os filhos no mundo virtual. “Ainda mais porque esses abusadores sabem que linguagem usar e como conversar, agindo como um caçador atrás da presa. A criança precisa saber, pois educação é prevenção. É melhor ela ouvir de você, do que de um terceiro na internet que pode ser um criminoso", afirma Tamires.
No próximo domingo (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, será realizado um ato pacífico, o “Silêncio que Grita”, em alusão à data, às 8h no Farol da Barra. Entre as ações, destaca Tamires Reis, vai estar a entrega do “Semáforo do Toque”, um panfleto que ensina às crianças quais lugares do corpo elas não devem deixar serem tocados. A programação segue intensa também, por toda cidade, com a SPMJ, com edições da Caminhada do Maio Laranja nos dias 16 e 18, além de formações, mobilizações e oficinas. Confira a programação no @spmj.salvador.
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