BRASIL
Pesquisadora aponta caminhos para alavancar a ciência no Brasil

Por Leandro Duarte | A TARDE BSB
A criatividade e originalidade do brasileiro é reconhecida mundialmente, assim como a habilidade com a bola nos pés ou na arte de se produzir telenovelas. Tais fatos podem se comprovar com as cinco conquistas na Copa do Mundo de futebol ou com as premiações dos Grammys para arte dramática.
A receita para formar jogadores ou criar enredos o Brasil tem. Existe uma receita para formar um grande cientista? Na avaliação da epidemiologista Celina Turchi, não há uma fórmula mágica, mas soluções que possam criar este cenário.
“Primeiro de tudo é preciso tratar a ciência como algo crucial para manutenção da população e da própria soberania do País. Precisamos investir em grupos de pesquisa, de diferentes campos, mas, acima de tudo, é importante que não haja descontinuidade de recursos para os projetos”, diz.
Celina Turchi é considerada pela revista científica Nature como uma das dez pesquisadoras mais importantes do mundo e pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes do planeta pelo trabalho desempenhado na pesquisa de casos de microcefalia e a correlação com o vírus Zika.
Ela foi a responsável por criar uma rede, composta por trinta cientistas de diversas áreas e entidades, integrados no Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (Merg, na sigla em inglês). A equipe identificou de que forma o vírus Zika e a microcefalia estavam relacionados. Tudo isso ocorreu em 90 dias, de janeiro a abril de 2016.
Bastões
A cientista avalia que é preciso também mesclar os grupos de pesquisa para auxiliar na formação de profissionais preparados para o futuro naquela área de estudo. “Em pesquisa, a gente costuma dizer que estamos em uma corrida de revezamento com troca de bastões. Os grupos sabem que precisam incorporar estudantes bolsistas de iniciação científica”, explicou a cientista afirmando que este é um dos caminhos para se preparar os futuros colaboradores.
Outra receita para estimular novas mentes e, talvez, persuadi-las para o setor científico, é aproveitar o momento de grandes ícones da ciência brasileira e fomentar projetos de importância capitaneados por eles. Um exemplo citado por Celina Turchi é o de Miguel Nicolelis. O neurocientista, tido por publicações internacionais como um dos principais cientistas do mundo, chefiou o projeto do exoesqueleto que possibilitou o chute inicial da Copa do Mundo do Brasil ser feito por um tetraplégico. Turchi também lembrou de Arthur Ávila, matemático brasileiro que faturou há três anos a medalha Fields, principal prêmio do setor, equiparado como com o Nobel.
Além de usar a mão de obra de pesquisadores importantes do Brasil, Celina Turchi também afirmou que uma opção interessante para estimular novas mentes é o convite para que pesquisadores reconhecidos mundialmente possam trabalhar no Brasil. Ela avalia que pode ser um interessante chamariz, além da possibilidade de trocar experiências e conhecimento.
"Em um mundo tão globalizado, poderíamos trazer, ao menos temporariamente grandes pesquisadores para o País. Esse compartilhamento hoje, essa mobilidade, nos traz essa facilidade. Poderíamos ter laboratórios em dois continentes, por exemplo. Fazer uma ponte entre estudantes”.
Problemas
Mesmo com cientistas premiados e reconhecidos mundo afora, e tendo produção relevante no mundo, várias dificuldades internas atrapalham o desenvolvimento científico brasileiro, impedindo um progresso mais rápido. Um dos principais problemas é a burocracia, especialmente quando se trata de compras e contratações.
“Existe um entendimento de que a ciência e a inovação é como qualquer outro produto, então as leis que regem são também colocadas para essa área. Os mecanismos de controle estão corretos, todo pesquisador sabe que ao receber o recurso ele tem que prestar conta O que nos preocupa é a judicialização dos processos de aquisição. Isto nos engessa. Por exemplo, perguntas que tem que ser respondidas em curto prazo acabam sendo mais demoradas, uma vez que essas exigências ou esses processos administrativos, tornam a aquisição seja de equipamentos, de insumos, principalmente para as universidades, sem agilidade.
Para resolver o problema, a epidemiologista sugere que a ciência tenha um tratamento diferenciado. Ela lembra que é preciso tê-la como um uma área prioritária e estratégica. “Não podemos deixar oportunidades passarem por entraves de gestão. É fundamental diferenciar a aquisição, recebimento de equipamentos ou mesmo doações. Óbvio que tudo deve acontecer de forma lícita, de forma transparente, de forma ética, mas com rapidez”.
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