MÚSICA
Ai da OSBA que é romântica
Orquestra Sinfônica da Bahia apresenta Osbrega - Concerto do Amor, com clássicos da música romântica popular
Por Bruno Santana*
Sai Haydn e entra Wando, sai Schubert e entra Waldick Soriano, sai Rachmaninoff e entra Pablo do Arrocha – ao menos por um dia. Esta é a proposta do Osbrega - Concerto do Amor, que a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) apresentará neste sábado, 7, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves: fazer o encontro da instituição, dedicada à música erudita, com um setlist recheada de clássicos do brega e da música romântica brasileira.
O espetáculo, que terá a participação especial dos cantores Ana Barroso e João Cavalcanti, tem direção cênica e roteiro do dramaturgo Gil Vicente Tavares, colaborador frequente da OSBA, e regência do maestro Carlos Prazeres, regente titular e diretor artístico da orquestra. No repertório, estão garantidos hits instantaneamente reconhecíveis, tais como Fogo e Paixão e Moça, de Wando, Garçom, de Reginaldo Rossi, Infiel, de Marília Mendonça, e Morango do Nordeste, popularizada por Lairton & Seus Teclados.
“Esses compositores, como Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Odair José, Wando, Agnaldo Timóteo… eles são compositores que sofrem, por parte da sociedade, muitas vezes um preconceito pelo fato de eles serem mais escutados pelas classes mais baixas”, afirma Carlos Prazeres.
“Como maestro, eu posso dizer que, na matéria-prima musical, eles não devem nada a qualquer compositor moderno ou antigo, qualquer composição que seja”, segue, refletindo sobre o (suposto) conflito entre o ambiente da sinfonia e o lugar da música popular dentro das salas de concerto.
“Eu acho que a OSBA é uma orquestra que sempre se propôs a ser uma extensão da sociedade. Por ser uma orquestra pública, financiada pelo poder público, não podemos tocar apenas para as elites do Corredor da Vitória, da Graça e da Barra”, afirma Carlos.
“Uma coisa que a gente repete à exaustão é que a gente não está aqui para civilizar ninguém, não estamos com um papel colonialista. A gente também fala a língua da sociedade, e também gosta e tá tudo bem”, segue o maestro, justificando a escolha do universo do brega como a temática do espetáculo.
A justificativa do regente tem contexto: nas últimas semanas, o Osbrega foi o epicentro de uma certa polêmica na internet depois que o maestro Ricardo Castro, da NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), criticou em suas redes sociais a escolha do repertório da OSBA e a utilização da palavra "brega" – associada, segundo Castro, às casas de prostituição – no título. Coincidentemente ou não, o título do espetáculo acabou sendo grafado com um risco irônico no seu nome original, resultando o "Osbrega - Concerto do Amor"
Segundo Carlos, a escolha das músicas românticas como tema do espetáculo pode, como em tantas apresentações anteriores da OSBA, trazer o público mais para perto da orquestra e despertar o interesse da sociedade nas composições clássicas. "As pessoas que veem esses concertos começam a pensar 'poxa, que orquestra massa, essa orquestra broca. Eu quero estar em outros concertos dela'. E elas vêm! Elas vêm em concertos onde a gente vai tocar Bruckner, cara. Bruckner!”, comemora, fazendo referência ao compositor austríaco notório por suas criações complexas e sofisticadas.
“Eu já vi um cara assoviar uma sinfonia de Bruckner pra mim no Pelourinho. A Bahia está vivendo esses milagres”, garante Carlos.
Verão Romântico
O Osbrega faz parte da edição 2023 do chamado Verão da OSBA, programação especial da Sinfônica que incorpora mais elementos da música popular e influências de outras fontes para além dos compositores eruditos. Durante o resto do ano, como Carlos Prazeres faz questão de lembrar, a orquestra tem um trabalho mais tradicional: "a OSBA trabalha de 90% a 95% com repertório da música de concerto tradicional. É um repertório muito sofisticado, eu penso que a maioria das orquestras do Brasil não trabalha [desta forma]", afirma o maestro, citando projetos (recentes e futuros) focados em compositores rebuscados como Bela Bartók, Arthur Honegger, Olivier Messiaen e Paul Hindemith.
No Osbrega, por outro lado, a proposta é aproximar o público das suas raízes – e, para isso, todos os elementos do espetáculo foram cuidadosamente pensados, desde o repertório até a direção cênica, comandada por Gil Vicente Tavares.
"A minha parceria com Gil se dá uma forma muito orgânica, às vezes ele me segura, às vezes eu seguro ele", brinca Carlos, sobre as colaborações frequentes do dramaturgo com a OSBA. "Por exemplo, sobre o cenário do Osbrega, começamos a montar e chegamos à conclusão de que não poderíamos cair no erro de fazer algo no estilo Falcão, caricato, que denotasse algum tipo de desrespeito", explica.
Também neste espírito subirão ao palco os dois convidados da noite, o carioca João Cavalcanti e a conquistense Ana Barroso, cujas composições têm fortes influências das cantoras de rádio e da música romântica. Ana, inclusive, também defende a inclusão do brega como parte indissociável da cultura nacional, sem hierarquias.
“Eu acho que brega é chique demais, exclusivo, VIP. O que eu sinto sobre a forma como as pessoas consomem música é que elas desejam se sentir representadas, querem cantar junto histórias e melodias que registram um lugar sensível e decisivo em suas vidas. Por isso as músicas fazem sucesso", afirma a cantora.
“A música tem beleza e função, seja ela erudita ou popular, ela é principalmente interessante, flexível, democrática. Para além de gostos pessoais, a prioridade é agregar, incluir, emocionar e celebrar a possibilidade do encontro com a música e isso a OSBA tem cumprido muito bem – a música está sendo lindamente vivida, as pessoas estão lotando o TCA, a Concha Acústica. Precisamos assimilar nossas culturas e entender onde moram suas belezas", conclui.
O Osbrega - Concerto do Amor terá início às 19h deste sábado, 7, na Concha Acústica. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) ou R$ 15 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do Teatro Castro Alves ou na plataforma Sympla.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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