Ana Carolina homenageia Cássia Eller em show na Concha Acústica

Quando surgiu em 1999 com o CD que leva seu nome, a cantora e compositor mineira Ana Carolina, 48, não conseguiu escapar das comparações. Sua voz grave nos remetia imediatamente ao timbre de Cássia Eller, uma das grandes intérpretes brasileiras, que nos deixou em 2001, aos 39 anos, quando Ana ainda engatinhava na música.

Mas bastou pouco tempo de estrada para que suas baladas românticas encantassem o País e ela se tornasse uma artista de enorme sucesso. Podemos dizer que é hoje a nossa “rainha do pop-drama”.

Sim, porque as letras não têm meio-termo, falam de relações sofridas, abandonos, traições. Ana Carolina não suaviza no verbo, é comum encontrar nas canções frases como ‘então me lanço, me atiro em frente ao seu carro’, ‘vou bater na sua porta de noite completamente nua’.

Agora, com a carreira consolidada e as diferenças entre ambas estabelecidas, Ana decidiu montar um show em que homenageia Cássia Eller, a dona da voz grave e postura roqueira que ela tanto admira. Amanhã, às 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), o público vai poder assistir Ana Canta Cássia - Estranho seria se eu não me apaixonasse por você.

A artista diz que o show é uma galantaria de uma fã para seu ídolo. “Então, a ideia foi fazer uma homenagem respeitosa a essa figura icônica, com muita devoção e carinho. É um show com minha visão sobre essas músicas que tanto mexem com a alma do brasileiro e com a minha. Ouvi o repertório à exaustão até voltar a entender cada letra, encontrar novos significados, mas acima de tudo encontrar um elo que conectasse o DNA da Cássia ao meu”, relata a autora de Garganta.

Mas definir o repertório não foi das tarefas mais fáceis. “Essa talvez tenha sido a parte mais complexa porque o repertório da Cássia é deslumbrante. Claro que incluímos os sucessos que o público ama, como Segundo Sol, Malandragem, All Star etc. De toda forma, passamos por todas as fases da Cássia e os gêneros que ela visitou, inclusive os sambas”, informa a cantora.

E apesar de, obviamente, privilegiar o repertório de uma das maiores representantes do rock brasileiro dos anos 1990, para júbilo dos fãs, Ana também vai cantar músicas de sua própria carreira. “No final, incluímos alguns sucessos meus, já que o público pede bastante”, conta a mineira.

Mulher de fases

Com direção do encenador goiano Jorge Farjalla, a turnê será uma conexão direta com a garota mineira que aos 16 anos ouviu Cássia pela primeira vez, apaixonou-se e nunca mais deixou de ser fã de camiseta, como se autodefine Ana.

“Musicalmente, a Cássia influenciou demais meu início de carreira. Me lembro de ter ouvido o primeiro LP dela ainda quando morava em Juiz de Fora (MG) e começava a me aventurar na música. Aquele timbre, a voz, a potência… tudo me chamou atenção e me apaixonei por aquela artista no primeiro segundo”, revela a compositora.

E diz ainda que, com o tempo, começou a entender mais a Cássia mulher e artista, suas convicções e seu posicionamento em relação ao mundo. “Me lembro de ter olhado toda aquela potência numa pessoa tão tímida e pensar: ela me representa”.

Montado em cinco atos, o show é conduzido por músicas que remetem às diversas fases de Cássia. Cartas, logo na abertura, traz canções com um teor mais poético. Palavras começa a investigar a paixão da cantora carioca pelo samba. Sabotagem é um momento da Cássia debochada e cheia de questionamentos, enquanto Girassol traz de volta a delicadeza para coroar a celebração. O último bloco, claro, será com um bis cheio de surpresas.

Dessemelhanças

Apesar de Cássia ter construído uma carreira relativamente pequena – pouco mais de dez anos – e gravado apenas seis discos, Ana diz que o legado dela é inestimável, e que essa turnê tem o objetivo também de apresentá-la ao pessoal que não teve chance de vê-la ao vivo. “Pra mim, ela é uma das maiores artistas que o Brasil já viu, e todas as novas gerações que querem entender a música brasileira recente precisam ouvi-la”.

E além da voz grave, Ana acredita que há outras semelhanças entre elas, como o apreço pelo samba, por exemplo. “No começo da carreira, tínhamos um estilo de cantar que nos aproximava. Existe até uma história engraçada, que não sei se é folclore. Uma pessoa próxima a ela ouviu Garganta, meu primeiro sucesso, e teria achado que era a Cássia cantando. Ela achou divertido e disse que adoraria que fosse ela, mas era eu… (risos). Fico, obviamente, lisonjeada”.

No entanto, há também diferenças de estilo entre as duas cantantes. “Do ponto de vista de sonoridade, meu caminho ao longo dos anos me aproximou do violão, de baladas. A Cássia, claro, é lembrada por baladas, mas tinha uma veia de rock 'n’ roll que é incrível”, finaliza Ana Carolina.

Em Ana Canta Cássia - Estranho seria se eu não me apaixonasse por você, a cantora vai estar acompanhada por Juliano Valle (teclados, programações, voz), Theo Silva (guitarras e violões), Lancaster Pinto (baixo e voz), Thiago Faria (violoncelo e voz), Cesinha (bateria, cajon, kokoriko e voz), Leonardo Reis (percussão, cajon, kokoriko e voz).