CADERNO 2
Ator baiano Sulivan Bispo estreia comédia no Teatro do Sesi
Espetáculo de comédia em pé, 'Koanza: do Senegal ao Curuzu', fica em cartaz até 30 de julho
Por Eugênio Afonso
Sua personagem Mainha já faz parte da coleção de tipos cômicos, criados por atores baianos, que caíram no gosto popular, assim como Fanta e Pandora, de A Bofetada. Todo mundo sabe quem é a mãe de Júnior.
Agora, Sulivã Bispo, ator e idealizador de Mainha, estreia o espetáculo solo Koanza: do Senegal ao Curuzu, hoje, às 20h, no Teatro Sesi Rio Vermelho. Em cartaz até 30 de julho, sempre às 20h, a peça, que tem direção de Thiago Romero, só acontece às sexta-feiras e sábados.
“Esse é meu segundo espetáculo solo. É uma gargalhada, mas também um entrelace de conscientização. Koanza traz a força identitária regada de africanidade, de referências do candomblé de Angola pra contar a verdadeira história do negro, que sempre foi escondida por conta do racismo. Ela traz, através do humor, um processo de conscientização muito potente”, acredita Bispo.
Elegância e sofisticação
O espetáculo já tinha estreado virtualmente no período mais crítico da pandemia, mas só agora a comédia em pé Koanza... vai estar cara a cara com o público. Nele, a mãe de santo senegalesa volta à Bahia, após um tempo morando na África, com a missão de combater os discursos racistas contra as religiões de matriz africana.
Ao chegar, ela encontra o Brasil imerso em um turbulento processo político e racial, tendo à frente um presidente evangélico. É quando se vê desafiada a salvar o bairro do Curuzu das mãos da opressão religiosa e política.
Sempre elegante, a ialorixá rica, bem-sucedida no comércio de joias e tecidos, vai repartir, então, de forma bem-humorada, seus saberes ancestrais. Ela se posiciona como uma mulher comprometida com a reafricanização das lutas antirracistas na diáspora negra. Tudo dito de forma chique, sofisticada, mas consciente da desigualdade social e econômica que nos assola.
O ator conta que Koanza é seu primeiro desabrochar feminino. “É uma comédia que traz a questão da afirmação, da denúncia, do preconceito. Traz uma noção de futuro diferente e a partir do que a gente está construindo”.
Bispo conta que se inspirou em mulheres negras empoderadas para compor o personagem e poder falar com propriedade de combate ao racismo e intolerância religiosa. Entre as muitas musas, estão a secretária estadual de cultura Arany Santana (tia de Sulivã), Elza Soares, Ruth de Souza, Jovelina Pérola Negra, Michelle Obama, Oprah Winfrey, Maju Coutinho e as jornalistas baianas Maíra Azevedo (tia Má) e Rita Batista.
Humor reflexivo
E para os mais desavisados, esta não é a primeira vez que Bispo sobe aos palcos. Ele já esteve em cena com Kaiala, Rebola, Delicado, Anoitecidas e Madame Satã, só para citar espetáculos dirigidos por Thiago Romero, que também é ator, coreógrafo e arte educador, e segue dirigindo Sulivã em Koanza.
“Minha parceria com Sulivã está para além da relação diretor/ator. Já são sete anos de muitos espetáculos. Koanza já é um outro passo do que a gente vem desenvolvendo no sentido do solo, do monólogo. É um encontro proporcionado pelos orixás e a gente vem se afinando”, conta Thiago.
Ele explica que a personagem Koanza (nome de rio e da moeda de Angola) surge a partir do espetáculo Rebola e é fundamentada também na arte drag queen, e que o espetáculo é movido pela inquietação de debater narrativas pautadas pela intolerância.
“Koanza... expõe algumas violências presentes cotidianamente, mas também aponta caminhos de futuros possíveis. É também uma maneira de entender que as narrativas pretas não podem se limitar somente à dor e à violência”, constata Romero.
Para o diretor, a comédia é um gênero teatral potente para a ponderação das adversidades e dos impasses. “É um espetáculo que entende que o humor é um caminho possível para a reflexão. A gente tem um performer preto falando de suas narrativas e trazendo essas reflexões através do humor e da alegria”.
Sulivã Bispo concorda, mas reconhece que não dá para fazer piada com racismo. “Mas dá para se utilizar do humor para conscientizar e essa talvez seja uma das principais missões da minha vida”, finaliza.
Além de Bispo e Romero, Koanza: do Senegal ao Curuzu também é Nildinha Fonseca (direção de movimento/coreografia), Filipe Mimoso (direção Musical), Renato Carneiro (figurino), Guilherme Hunder (cenário), Alisson de Sá (iluminação), Beberes (maquiagem), Larissa Libório (direção de produção), Bergson Nunes e Sidnaldo Lopes (assistência de produção) e Carolina Magalhães (design/arte).
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