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CINEMA

Canção Inacabada

Documentário Ijó Dudu - Memórias da Dança Negra na Bahia resgata história de arte de resistência

Por João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

19/10/2022 - 6:00 h
Produção é dirigida pelo coreógrafo José Carlos Arandiba, o Zebrinha
Produção é dirigida pelo coreógrafo José Carlos Arandiba, o Zebrinha -

José Carlos Arandiba, carinhosamente conhecido como Zebrinha, logo nos primeiros minutos da entrevista exclusiva ao A TARDE, fala sobre a necessidade de reverberar as histórias de vida que o vasto leque de nomes que seu filme, o documentário Ijó Dudu - Memórias da Dança Negra na Bahia, destaca dentro da expressão artística no nosso estado.

Mas, consciente da riqueza e grandiosidade de seu tema, afirma: “Gosto de dizer que comecei uma canção que eu sei que não vou terminar. Mas meus netos irão terminar. Meus alunos irão terminar essa canção. A gente só está no começo. Estou com quase 70 anos e estamos no começo do contar dessa história”, pontua Zebrinha. Esse registro inicial de história tem exibição, hoje, às 19h, em sessão especial para convidados, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. Na sexta-feira, será a vez do púbico no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, receber o documentário.

Dono de uma biografia impressionante dentro da arte da dança, com mais de 40 anos dedicados a ela, Zebrinha traz para essa estreia como documentarista um olhar aguçado para um tema de pesquisa histórica que define a carreira e muito da luta como professor, bailarino, coreógrafo e diretor artístico: a luta contra o esquecimento das pessoas que ajudaram a construir esse movimento.

“O projeto começou por uma grande coincidência. Tinha muito tempo que eu sentia vontade de contar as nossas histórias. As histórias que não são contadas. Aí vem esse termo da invisibilidade que está muito na moda. Mas, às vezes, as pessoas não sabem, as pessoas não pretas não sabem o quanto é dolorido para a gente se sentir assim”, explica Zebrinha, ao falar sobre como se deu o início da ideia que culminou neste lançamento.

Resgate urgente

“Lembro de, um dia, na praça da Sé, encontrar com Amazonas [Altair Amazonas e Silva], que é a primeira entrevistada no filme. Eu olho para ela e penso: 'Rapaz, como é que podemos esquecer essa pessoa? Uma pessoa que nos anos 1970 era o ícone da dança aqui na Bahia?’”, diz Zebrinha, relembrando do embrião do filme. “Amazonas é uma mulher super talentosa que dançava em muitos grupos folclóricos, como Furacões da Bahia, Olodumaré. Fora isso, era uma mulher que tinha uma altivez. Ela saía ali daquele Teatro Castro Alves e era impossível você não virar para olhar. E eu pensei: ‘Como é que as pessoas são esquecidas?’” complementa o diretor.

Partindo desse resgate da memória, o cineasta elenca um número expressivo de ícones da dança negra na Bahia. Além de Amazonas, artistas da dança como Clyde Morgan, Luiz Bokanha, Renivaldo Nascimento, conhecido como Flexinha, Elísio Pitta, Edileusa Santos, Inacyra Falcão, Ivete Ramos, dentre muitos outros que trazem nos depoimentos um vislumbre da trajetória daqueles grupos.

“Eu acho que a gente vai ter que fazer um outro filme, um Memórias da Dança 2”, explica Zebrinha. “Porque não é nem questão de agraciar ninguém, mas é que existem muitas histórias a serem contadas. E via esse caminho. Via preto construindo histórias de outros pretos, e não mais um tratado onde nós não somos protagonistas nem roteiristas. Esse é o meu grande mote, a minha grande urgência, e o que eu acho que é importante nesse projeto. Uma pesquisa de olhar para trás com muito cuidado, pois percebi que, por conta da idade, as pessoas estavam indo embora. Então, a gente tinha que ter uma urgência em fazer isso”.

Luta contra o racismo

Ijó Dudu - Memórias da Dança Negra na Bahia tem força não somente nesse resgate histórico, pelos depoimentos sobre aquele processo de construção artístico, bem como em um rico acervo de imagens de arquivo, mas, também, na força das palavras que denunciam o racismo e o preconceito pelo qual muitas daquelas pessoas passaram. Em certo trecho do filme, Luiz Bokanha relata o momento em que uma diretora do balé onde ele ainda adolescente estudava, questionou a presença no local, sob o argumento de que o lugar de pessoas como ele era na feira como vendedor de limão, e não sendo artista.

“Ele, adolescente, ouvir as palavras daquela senhora. Um adolescente! Talvez seja uma força ancestral que esse cara sai dali e constrói uma das carreiras mais bonitas que existem nesse País. Ele vai dançar no balé de Lausanne, no balé de Lyon, em vários lugares, isso depois de tudo aquilo que ele ouviu e tudo o que lhe foi negado aqui na Bahia. Aí eu acho que essa denúncia é urgente porque ela não acontecia na época”, explica Zebrinha.

Ao final, diante de um depoimento pungente do professor e coreógrafo estadunidense Clyde Morgan, um dos mentores de Zebrinha, este afirma que o outro mestre baiano representa seu investimento para o futuro, sua poupança, como ele bem coloca. O momento é coroado com um pedido de benção e um abraço emocionado. O fechamento tenro ecoa pela frase forte de Spike Lee, citado ao final, de maneira a definir o que Zebrinha quis trazer com o trabalho.

“Não acredito que o racismo possa ser eliminado durante o resto da minha vida, da vida dos meus filhos, nem da dos meus netos. Mas acredito que devemos nos esforçar para isso. Continuarei trabalhando para que este dia chegue”, diz Spike Lee nas aspas. O encontro de dois mestres em suas sabedorias e lutas se torna evidente.

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