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01/10/2022 às 7:00 - há XX semanas | Autor: Rafael Carvalho | Crítico de cinema

CADERNO 2

Documentário reconstrói a biografia de Ennio Morricone

Filme traz depoimentos de muita gente que conheceu de perto um dos maiores maestros do universo da música

Há de se questionar por que tantos depoimentos externos quando o próprio artista está ali
Há de se questionar por que tantos depoimentos externos quando o próprio artista está ali -

As primeiras imagens de Ennio, o Maestro, revelam Morricone em sua casa, fazendo atividades banais, exercícios matinais, escrevendo, refletindo, descansando. Porém, tais imagens prosaicas são entrecortadas por cenas de entrevista de pessoas que falam do maestro, suas virtudes, qualidades e talento. É uma pena que o filme quebre o ritmo desses momentos de intimidade cotidiana que nos fazem ver o homem para além do artista.

Mas essa é a tônica deste documentário que busca passar a limpo a vida e a obra de Ennio Morricone. O filme compõe-se de uma série de depoimentos de muita gente que viveu, trabalhou de perto e conheceu este que é um dos maiores maestros clássicos não apenas do cinema, mas do universo da música como um todo. E, obviamente, há toda uma costura de imagens de bastidores e cenas de diversas películas que ganham uma vida extraordinária com a música do maestro.

Quem dirige o filme é outro nome importante do cinema italiano, Giuseppe Tornatore (mais conhecido pelo clássico Cinema Paradiso, cuja evocativa e sentimental trilha sonora foi composta por Morricone). Tornatore faz claramente um filme chapa branca, congratulatório e referencial, sem medo de soar partidário. A intenção aqui é louvar o impressionante e longevo legado deixado por Morricone e o filme faz isso sem reservas.

Mas mais do que apenas enaltecer a trajetória do maestro, o que se sobressai são as muitas histórias que há para contar por trás das icônicas trilhas sonoras que Morricone eternizou nas telas. Há de fato uma polifonia de vozes aqui, uma vez que obra tão expansiva parece mesmo exigir muitos pontos de vista e detalhes de tanta coisa importante que o maestro criou.

E, claro, há o próprio Morricone a falar de sua vida e conjunto de obra, especificando e dando detalhes sobre alguns momentos. É ele quem conta sobre sua relação com o pai, também músico, e de como isso o fez se interessar pelos instrumentos musicais, levando-o, posteriormente, a estudar música. Já ali na adolescência, descobre-se o talento que o jovem Ennio tem para a coisa. E daí em diante são muitas histórias a contar.

Essa é uma força do filme e há de se questionar porque partir em busca de tantos depoimentos externos quando o próprio artista está ali, presente, lúcido e disponível para falar abertamente de toda a sua vida – além do mais, ele e Tornatore eram grandes amigos, o que torna essa conversa quase uma confissão íntima entre os dois, a qual o espectador observa (e escuta!) com prazer.

De toda forma, Ennio, o Maestro mostra-se um documentário muito mais forte do que essa estrutura clichê do filme de entrevistas possa sugerir. As mais de duas horas de filme passam voando porque as histórias por trás de cada composição, de cada encontro com diretores tão distintos no seu modo autoral de filmar, é muito rica e atraente para os amantes da sétima arte.

Histórias de cinema

De Sergio Leone a Bernardo Bertolucci, de Quentin Tarantino a Brian De Palma, de Roman Polanski a Pedro Almodóvar. Esses e tantos outros nomes do cinema mundial já tiveram em seus filmes trilhas sonoras do grande compositor. Todos eles e muitos outros se fazem presentes aqui, sempre com uma palavra de louvação e uma história sobre o trabalho e a força de criação do maestro.

O compositor, que faleceu em julho de 2020, com 91 anos, possui mais de 500 créditos de criação de trilhas sonoras para filmes e séries em 60 anos de carreira, um feito invejável para qualquer artista. É sobre esse universo musical para o cinema que o filme se dedica, muito embora se destaque também a parcela de música absoluta que Morricone compôs (termo usado para composições clássicas independentes, que não foram feitas para nenhum outro tipo de obra de arte).

As muitas histórias que se descortinam durante o documentário são realmente deliciosas, contando com curiosidades sobre parcerias (e também de recusas) icônicas, como os trabalhos feitos para os westerns de Sergio Leone (aquela gaita inesquecível de Três Homens em Conflito e Era uma Vez no Oeste) ou mesmo os temas mais épicos, como em Era uma Vez na América, do mesmo diretor, e 1900, de Bernardo Bertolucci.

Mas Morricone passeou por muitos outros gêneros e obras menos conhecidas, como a música experimental que fez para Os Canibais, filme de Liliana Cavani e, na mesma chave da invenção musical, compôs trilhas para os filmes de horror do cinema underground italiano, como é o caso de O Gato de Nove Caudas, de Dario Argento.

Para o cineasta inglês Roland Joffé, compôs uma trilha sonora fortíssima e evocativa para seu filme A Missão – do qual se pode dizer que nem é tão bom assim quanto a própria música do filme.

E quando criou a música para o longa político Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri, mostrou que era possível ser inventivo mesmo em um filme mais sutil.

Morricone ganhou um Oscar pela trilha sonora de Os Oito Odiados, em 2016, filme de Tarantino, mesmo depois de já ter recebido um Oscar honorário pelo conjunto da obra em 2007. No Festival de Veneza, também ganhou um Leão de Ouro pela sua trajetória, em 1995, ano em que se comemorava o centenário do próprio cinema.

Muitos outros prêmios se somam a esses, assim como são incontáveis as marcas efusivas que Morricone deixou gravadas na nossa memória musical. Há de se pensar no quanto o seu trabalho modificou a própria maneira de enxergar e fazer música no cinema, mas sobretudo nos legou o prazer que é ouvir um filme.

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