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CADERNO 2

Espetáculo "À Deriva" traz provocações sobre a natureza humana

Adaptação de texto do polonês Slawomir Mrozec estreou nos palcos baianos no último dia 31

Por Elis Freire*

09/09/2023 - 6:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Espetáculo "À Deriva" traz provocações sobre a natureza humana
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Adaptação da peça teatral Em Alto Mar, do autor polonês Slawomir Mrozec, À Deriva traz para o universo brasileiro provocações cruciais sobre a natureza humana. Quem é o herói? Em quem devemos confiar? Quem deve ter o poder de escolha? Estes são alguns dos questionamentos presentes na adaptação que terá a última sessão da temporada amanhã, às 19h, no Teatro Sesi Rio Vermelho.

A apresentação estreou no dia último dia 31, no Teatro Martins Gonçalves, e está em cartaz no Teatro Sesi Rio Vermelho desde o último dia 4. A sessão que estava marcada para hoje, às 20h, foi cancelada por motivos técnicos.

Montada e dirigida por Victor Hugo Sá, a peça satiriza a sociedade contemporânea, com reflexões cômicas e muito concientes. Adaptado um texto polonês de 1960, inspirado no Teatro do Absurdo, À Deriva apresenta personagens em situações extremas para abordar temas como racismo, poder e manipulação.

“O texto do Slawomir é muito cômico, mas aborda muito bem questões de informação, política e manipulação de massa. Tudo se relaciona muito com os últimos acontecimentos no Brasil. Trouxe o texto para uma realidade brasileira, com reflexões sobre como a sociedade manipula o outro para se favorecer”, explica o diretor Victor Hugo de Sá.

Com Clay Sabino, Jell Oliveira, Mário Luz e Ofalowo no elenco, a narrativa conta a história de três pessoas que naufragaram e estão passando fome. O gordo, o médio e o pequeno tentam decidir, de forma política ,quem deve se sacrificar para salvar os demais.

“Desde o começo da peça até o fim, se discutem relações de poder dentro de um grupo social. Você vê muito claramente o que cada personagem representa ali e como o poder vai passando de um para o outro, dependendo da informação que eles têm, da situação social, da cor da pele. Fica bastante claro o que a gente pode ver em um grupo social maior: uma igreja ou uma escola no Brasil, por exemplo”, ressalta o ator Mário Luz.

Polaco brasileiro

A montagem foi adaptada para que o texto fosse mais acessível à realidade brasileira, com a inclusão de uma personagem mulher e uma pessoa negra. Em um cenário quase televisivo ou novelesco, À Deriva une o humor e a reflexão, sempre com referências a cultura e expressão soteropolitanas.

“Adaptei o texto para naturalizar ele, deixa-lo mais popular e natural aos nossos ouvidos, já que é um texto mais antigo. A peça traz muita leveza, referências do cinema, novelas, piadas. Trago também expressões populares e a baianidade na sua construção física e cultural. É uma brincadeira em família para toda população soteropolitana! Uma peça para que a pessoa desconecte do mundo lá fora e conecte com esse mar”, afirma Victor Hugo.

Questões sociais brasileiras também estão presentes no texto para aproximar o público e brincar com a realidade política que se vive. Humano e atemporal, Em Alto Mar foi facilmente adaptado para trazer as reflexões que foram feitas na Polônia dos anos 1960 para Salvador de 2023.

“A peça se conecta com essa realidade contemporânea de Salvador. Esse é o ganho, porque a peça já tem quase 70 anos, foi escrita por um europeu, mas traz questões muito humanas. A gente conseguiu adaptar para a realidade brasileira de forma muito fácil, porque são as mesmas questões de poder de hoje. Virou uma peça sobre o Brasil”, afirma Mário Luz.

Com sessões lotadas no Teatro Martins Gonçalves, a adaptação chegou ao Teatro Sesi Rio Vermelho nos últimos dias, levando o público a viver uma experiência especial com o Teatro do Absurdo.

“Todos os dias no Martins Gonçalves apareceu muita gente e a gente praticamente lotou todos os dias. Isso foi já uma primeira boa surpresa. Todos os dias dá para ver que eles se divertem durante a apresentação, tem risada todo dia e pessoas diferentes também. No SESI, nos dias 4 e 5 últimos, também veio muita gente, mesmo sendo em início de semana (segunda e terça-feira). Eles convidam mais gente, compartilhando. Tem até gente que assistiu a peça duas vezes, três vezes”, comemora o ator.

Mergulho

Primeira vez dirigindo peças do estilo absurdo, Victor Hugo se encantou com a experiência de adaptar um texto com situações surreais, mas que provocam reflexões inquietantes diversas. Obras clássicas como Esperando Godot, escrita em 1953 pelo irlandês Samuel Beckett, são exemplos da dramaturgia absurdista, iniciada na década de 1950.

“O que mais me fascina é que o Teatro do Absurdo traz uma ideia de realidade que é tão próxima da nossa e ao mesmo tempo tão confusa quanto a nossa. É um teatro que não tem respostas certas, mas questões coerentes, indagações. O absurdo não dá um caminho, ele dá várias possibilidades de descoberta. A peça tem muitos elementos misteriosos, símbolos de cada personagem e eu gosto muito disso”, comenta o diretor.

“O Teatro do Absurdo apresenta personagens envolvidos em situações que são muito distantes, que parecem não ter qualquer lógica, são surreais, mas no fundo, sempre trazem uma crítica social forte”, completa Mário Luz, formado em Artes Cênicas desde 2012.

A produção do espetáculo À Deriva é da Sankofa Lab Produções, com direção de movimento de Dayana Brito e a direção musical de Pedro Botto.

‘À deriva’ / Amanhã, 19h / Teatro SESI Rio Vermelho / R$ 30 e R$ 15 / Vendas: Sympla

* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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