Exposição de Eduardo Lima chega a Salvador e traduz raízes do sertão | A TARDE
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Exposição de Eduardo Lima chega a Salvador e traduz raízes do sertão

Visitação ocorre até o próximo domingo

Publicado quarta-feira, 10 de agosto de 2022 às 05:30 h | Autor: Bruno Santana*

Há cerca de duas décadas, quando Eduardo Lima, 45, trabalhava em um posto de gasolina em sua cidade natal -  Capim Grosso,  sertão da Bahia -, ele não poderia imaginar que, eventualmente, as estradas que observava todo dia ficariam pequenas se comparadas com sua própria trajetória. 

Esta semana, depois de rodar diversos países e conquistar admiradores em boa parte do Brasil e do mundo, o artista plástico trouxe a Salvador sua mais nova exposição, intitulada Raízes do Sertão Nordestino.

A mostra está sendo realizada na sala Pense Fora da Caixa, no Sebrae Bahia - empresarial Civil Towers,  Costa Azul. A exibição, que já passou por cidades como Brasília e Londres, será realizada até domingo (14) e tem visitação gratuita das 9h30 às 17h.

Eduardo apresenta mais de 20 obras que complementam  e expandem a linguagem artística desenvolvida em sua carreira até o momento. Surgem em destaque, aqui, impressões muito particulares, autênticas, da vivência do pintor no ambiente em que cresceu. Costumes e figuras tradicionais do sertão nordestino são retratados com um estilo próprio, com influências do naïf, algo que foge à estética amarelada e lamentosa comumente associada à região. Em seu lugar, surge uma explosão de cores e expressões muito marcadas, com grandes olhos e vegetação abundante.

"Eu sei que o nordestino é um povo alegre e de uma cultura riquíssima, então, através desse olhar criei uma série de pinturas, usando cores fortes, traços firmes e enfatizando as virtudes da nossa gente", explica Eduardo. 

"Essa mostra é uma doce viagem às nossas raízes, memórias e lembranças, de um jeito simples e com meu estilo próprio. Eu busco levar alegria, leveza, mostrar que o sertão é um lugar de gente forte e feliz, e que quando chove tudo dá. Tem fartura", completa.

De Capim Grosso a Londres

Se as obras de Eduardo ganharam o mundo é porque costumam traduzir a visão e as facetas de um povo, de uma maneira que pode ser compreendida, ou até mesmo compartilhada por qualquer pessoa em qualquer ponto do planeta. Segundo o artista, a experiência de levar seus quadros para exposições em diversas cidades, como Roma, Viena e Londres, é curiosa justamente por conta dessa identificação.

"Já tive a oportunidade de expor minha arte em alguns países e sempre me surpreendo, porque quando penso que estou levando uma obra representando o Nordeste brasileiro, eu noto que as pessoas ao redor do mundo também se identificam com o tema. Então, percebo que minha arte é universal", comenta o pintor.

De fato, o interesse do público pela obra e pela trajetória de Eduardo é notório. Em maio último, uma postagem do artista no Twitter atingiu quase 200 mil curtidas ao comemorar sua mais recente conquista, a exposição em Londres. No tweet, o pintor incluiu duas fotos, uma da época em que trabalhava como frentista em Capim Grosso e outra atual, em frente ao Big Ben, na capital inglesa.

Eduardo explica, aliás, que seu antigo trabalho no posto de gasolina e sua incursão no universo da arte estão intrinsecamente ligados. 

"Desde muito pequeno, me interessei por arte, mas foi dos 18 aos 20 anos que pintei minha primeira tela, quando trabalhava como frentista na minha cidade. Trabalhei por 10 anos no posto de gasolina e pintava meus quadros nos dias de folga. Desenvolvi meu estilo e senti que precisava criar algo que me representasse, queria retratar minhas raízes e, por isso, minha arte conta minhas vivências no sertão", salienta Lima.

O artista plástico segue revelando que a decisão de mostrar suas criações ao mundo não foi imediata. “Inicialmente, eu não mostrava meu trabalho, até que certa vez decidi colocar uma tela na lojinha de minha esposa e as pessoas, os amigos, elogiaram muito". 

A partir daí, o caminho estava traçado, mas não sem antes uma dose hercúlea de esforço. "Comecei a enviar e-mail para galerias e a participar de concursos culturais, até que, com uma obra que intitulei de Esperança, consegui vencer um concurso em São Paulo. Foi muito motivador. Fui convidado para expor minha arte na região e, na primeira exposição no interior da Bahia, vendi todas as minhas telas. Ali, percebi que o sonho de viver da minha arte poderia se tornar realidade. Pedi demissão do posto, comprei um carrinho velho e saí desbravando o sertão. Enfrentei muitas dificuldades, mas não desisti. Pinto o que vivi, senti, e por isso minha arte é viva", pontua o ex-frentista.

O céu é o limite

Depois da temporada em Salvador, a exposição Raízes do Sertão Nordestino já tem uma agenda cheia em diversos pontos do planeta. No Brasil, estão marcadas paradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Fora do país tem Estados Unidos, França, Bélgica e Emirados Árabes Unidos.

Para o frentista que virou artista, alcunha atribuída pelo próprio Eduardo a si mesmo, esse é só o início de um caminho que ainda tem muito a percorrer. Mesmo aproximando-se dos 25 anos de vida artística, o pintor pretende seguir explorando as diversas facetas do seu povo e do seu lugar, aprimorando seu estilo e ampliando ainda mais os horizontes.

Eduardo reserva ainda um conselho para jovens do Nordeste que também queiram representar suas raízes de maneira autêntica e honesta. "É preciso estudo e dedicação, buscar seu estilo, ter um diferencial. Com isso em mente, é necessário muito esforço, acreditar em você e não desanimar diante das dificuldades, porque elas virão. Mas olhe para a frente, pense positivo, seja honesto com você e com os outros, acredite e jamais desista. Isso vai ajudar a manter o foco e colher os frutos lá na frente", finaliza o pintor.

*Sob a supervisão do editor Eugênio Afonso 

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