CADERNO 2
Festival de Cultura Popular celebra cultura da Baía de Todos-os-Santos
Programação gratuita especial no Centro Histórico começa nesta sexta e vai até domingo
Por Bruno Santana*
A partir desta sexta, 25, e ao longo deste fim de semana, o Centro Histórico de Salvador não será apenas da capital baiana: será também o centro de Santo Amaro, Acupe, Maragogipe, São Félix, São Bartolomeu, Saubara, São Brás e Maracangalha, para citar algumas das cidades que compõem o Recôncavo Baiano e toda a sua riqueza artística e cultural. Isso porque, nos próximos três dias, o Festival de Cultura Popular se encarregará de destacar e valorizar a produção dos municípios em torno da Baía de Todos os Santos.
Em sua primeira edição, o festival – que é uma iniciativa do Instituto Antônio Carlos Magalhães de Ação, Cidadania e Memória – reunirá mais de 500 profissionais do Recôncavo, incluindo artistas, expositores e técnicos.
A programação inclui apresentações musicais, cortejos, performances artísticas, exposição de artesanato, rodas de capoeira e um roteiro gastronômico, com a participação de diversos bares e restaurantes do Centro Histórico.
"É uma iniciativa que tem o objetivo de trabalhar, desenvolver e apoiar a formação e a promoção do nosso patrimônio cultural", explica Claudia Vaz, superintendente do Instituto ACM.
"Não apenas promover, mas manter vivo esse patrimônio tão importante, onde a gente conta nossa história, reúne toda a nossa cultura e nossa tradição", afirma.
De acordo com a superintendente, a ideia é transformar o festival em um evento regular, anual, do calendário cultural de Salvador, cada vez destacando a produção cultural de diferentes regiões da Bahia. "Há muito tempo que a gente vem pensando nessa integração das cidades do interior com Salvador, para trazer à tona o protagonismo dessas cidades e mostrar a riqueza e a diversidade do povo baiano através de uma pequena amostra do que temos em tantas regiões", afirma Claudia.
"Dentro do recorte de sete regiões do estado, escolhemos começar com o Recôncavo Baiano", completa.
Vale notar que, nesta primeira edição do Festival de Cultura Popular, as principais homenageadas serão as Baianas de Acarajé. A celebração é justificada porque hoje, dia 25, é comemorado o Dia da Baiana do Acarajé e o aniversário de dez anos do marco do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) da Bahia, que, em 2012, reconheceu o ofício das baianas como Patrimônio Imaterial da Cultura da Bahia.
"Nada mais justo, por elas serem nosso ícone, representarem a raiz da cultura baiana", afirma Claudia Vaz.
Cultura…
A abertura do festival ocorre às 10h da manhã de hoje, com um cortejo, liderado pela Banda Didá, saindo do Largo do Cruzeiro de São Francisco. No mesmo horário e local, será iniciada a Feira da Sé, com 45 artesãos das cidades participantes — entre os destaques, será possível conferir e adquirir peças da ceramista Dona Cadu e máscaras produzidas em Maragojipinho, um dos maiores pólos da produção de cerâmica da América Latina.
No mesmo dia, será iniciado o Caminho de Comida Afetiva do Recôncavo, com participação de diversos bares e restaurantes da região. Às 16h, um cortejo com os Filhos de Gandhy sairá do Largo do Cruzeiro de São Francisco e chegará à Igreja do Rosário dos Pretos, com a realização de uma missa solene presidida pelo padre Lázaro Muniz e com a participação das senhoras da Irmandade da Boa Morte.
Neste sábado, 26, a programação será iniciada com um cortejo nas ruas do Pelourinho, puxado pelo Pierrot de Plataforma. Entre os destaques do dia, o Largo do Cruzeiro de São Francisco terá apresentações de Maculelê e Puxada de Rede de Santo Amaro (10h30), do Samba Filhos de Cadú, de São Félix (12h) e do Samba Chula de São Brás, também de Santo Amaro (15h30).
Às 18h, no mesmo local, uma apresentação do cantor, compositor e violonista Roberto Mendes encerrará a programação do dia – e o multiartista promete uma verdadeira festa para embalar os ânimos dos presentes. "O canto da cultura é todo feito para a fé, e depois do exercício da fé, você faz a festa. Então eu vou fazer uma festa, como se faz nas províncias, na zona rural", explica o músico, que completou recentemente 70 anos e segue vivendo em Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal.
"Se preparem para dançar, para sambar, vai ser uma farra", promete ele.
Roberto, além de músico com 50 anos de carreira, é também um profundo estudioso das manifestações culturais do Recôncavo – especialmente a chula, vertente do samba originária da Baía de Todos os Santos. Com toda essa bagagem, ele acredita que a iniciativa do festival é importante para reforçar a importância da memória e da preservação das tradições culturais da Bahia.
"Cultura é diferente de arte", explica Roberto. "Arte você faz, cultura você vive, você tá dentro dela. É a herança da comunidade. E eu fico feliz de participar [dessa celebração da cultura]", comemora.
…e arte
No domingo (27), a programação será iniciada às 10h com um cortejo pelo Pelourinho com os Mascarados de Maragogipe, e o evento receberá uma apresentação do Samba de Maragogó às 10h30, no Largo do Cruzeiro de São Francisco. O mesmo dia reúne ainda cortejos com o Bumba-Meu-Boi e a Burrinha de São Bartolomeu (11h30), uma apresentação do Samba de Maracangalha (12h), cortejos com a Charanga de São Félix (15h) e a Chegança de Saubara (16h30), e uma apresentação da quadrilha Forró Asa Branca (15h30).
O encerramento, às 17h, será comandado pelo Samba de Dona Nicinha, no palco do Cruzeiro de São Francisco.
Por trás de parte da programação dominical está o produtor cultural Paulo César Fernandes, de Maragogipe, que representa o Samba de Maragogó, os Mascarados de Maragogipe, o Bumba-Meu-Boi e os expositores da cidade. Paulo enxerga a realização do festival como uma janela de oportunidades para que artistas e artesãos do Recôncavo encontrem um público mais amplo em Salvador.
“A importância, dentro do cenário da cultura popular, é de grande valia, porque a maioria das manifestações fica no anonimato", afirma o produtor cultural.
"Eu, na condição de produtor, vejo que o festival é uma forma de cada grupo mostrar seu trabalho, sua identidade cultural do Recôncavo. O evento será uma porta aberta, como se fosse uma porta da esperança, para mostrar para a população de Salvador e para os turistas uma série de manifestações que poderiam passar despercebidas. Queremos mostrar isso para o mundo, as apresentações, as expressões, o fazer, a forma de fazer e os mestres, que são os detentores da cultura", declara.
A programação do Festival de Cultura Popular, vale notar, é totalmente gratuita.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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