CADERNO 2
'Festival do Teatro Brasileiro' traz a cena do DF para Salvador
São quase três semanas de espetáculos teatrais e outras trocas entre artistas do DF e da Bahia
Por Eugênio Afonso
Desta quarta-feira até 29 de maio, o teatro produzido no Distrito Federal (DF) estará desfilando pelos palcos soteropolitanos, mais precisamente nos teatros Vila Velha e Gregório de Matos, e também nos espaços culturais Boca de Brasa Cajazeiras, Subúrbio 360 e CEU Valéria.
A capital baiana foi escolhida para ser a sede da XXI edição do Festival do Teatro Brasileiro (FTB). O intuito é realizar uma série de ações artísticas, de formação e intercâmbio, com espetáculos teatrais, residência artística, oficinas de dramaturgia, qualificação de plateia, ações educativas para alunos da rede pública, encontros entre artistas do Distrito Federal e da Bahia, intercâmbio entre as universidades e rodadas de negócios.
No cardápio, oito espetáculos brasilienses: 2 Mundos, Afeto, Bubuia, Depois do Silêncio, Encerramento do Amor, Iara - o Encanto das Águas, O Circo dos Irmãos Saúde e Os Beatniks em A Gaivota. A programação completa com detalhes sobre datas, horários e locais pode ser conhecida no endereço eletrônico festivaldoteatrobrasileiro.com.br.
Para o ator João Campos, que está na peça Encerramento do Amor, este é um projeto muito importante para as artes cênicas do DF justamente por promover essa ponte entre o que está sendo produzido em Brasília e em outros estados.
“A cada ano, o festival abre essa janela para que o púbico de outras cidades entre em contato com as artes cênicas do Distrito Federal. Ele é gigante não só pra nós, artistas, mas para o público das cidades por onde o festival passa. É uma ponte que carrega muita beleza e potência nos encontros”, pontua Campos.
Dentro da programação do festival, serão realizadas ainda as oficinas Teatro de Sombras e de Improvisação, além da residência Teatro para Bebês e ações educativas para alunos da rede pública. E sempre no final de cada apresentação dos espetáculos haverá bate-papo com o elenco.
Diversidade temática
Com os atores Ada Luana, João Campos e Taís Felippe, Encerramento do Amor, versão brasiliense de Clôture de l’Amour, do dramaturgo francês Pascal Rambert, será exibida em Salvador pela primeira vez. O texto pode ser considerado a grande estrela do espetáculo e trata de um tema universal: o amor, só que aqui através de dois olhares, dois silêncios e dois discursos.
“Ela fala sobre o término de uma relação a partir de uma perspectiva bem distinta porque não é uma discussão. São, praticamente, dois monólogos e isso traz diversas camadas, já que tira o espectador desse lugar mais confortável do óbvio. Ela vira quase uma instalação sonora. É um exercício de verborragia e escuta muito intensos”, detalha Campos.
Duas peças dirigidas pelo encenador Alexandre Fávero - 2 Mundos e Iara - o Encanto das Águas -, que contam no elenco com Soledad Garcia e Thiago Bresani, da companhia Lumiato (especializada em teatro de sombra), também estão no FTB e tratam das lendas indígenas e da colonização da América através de uma perspectiva latino-americana.
“A história sempre é contada sob a perspectiva dos colonizadores, invasores, então nós, como colonizadores colonizados, queríamos transmitir também a perspectiva dos povos nativos. A forma de trabalhar coloca desafios ao corpo do ator sombrista que está em cena, performando. Sempre buscamos novas formas de imprimir riscos para poder mudar e trazer uma nova forma do teatro de sombras para o público”, observa Soledad.
Outra peça em cartaz é Afeto, do grupo Embaraça, com as atrizes Fernanda Jacob e Tuanny Araujo. O espetáculo quer levantar a discussão e o debate a respeito da experiência da afetividade na trajetória da maioria das mulheres negras. Em cena, duas personagens mergulham em suas histórias e trazem à tona o que foi construído por séculos.
“Sabemos que pensar em afetividade pode parecer um tema muito subjetivo, mas não é. O racismo também atravessa essa dimensão nas nossas vidas. Afeto é um espaço onde nós, como atrizes e criadoras, amplificamos nossas vozes ao colocar em cena histórias e memórias que por muito tempo foram difíceis de serem tocadas e faladas. São experiências compartilhadas por diferentes mulheres pretas que tantas vezes se veem impossibilitadas de viverem afetos com potência”, esmiúça Tuanny.
Bahia em cena
A cada edição, o Festival do Teatro Brasileiro escolhe uma unidade da federação para intercambiar com outro estado um conjunto de ações. O intuito é fazer com que um ou mais estados tenham a chance de conhecer o produto cultural de outra região brasileira.
Nesses mais de 20 anos de estrada, já foram apresentadas as cenas teatrais baiana, cearense, pernambucana, paraibana, mineira, gaúcha, paranaense e do Distrito Federal para 17 estados.
O teatro baiano, por exemplo, foi destaque em seis edições do FTB, o que resultou na exibição de 44 espetáculos. Dentre eles, Abismo de Rosas, Oficina Condensada, A Bofetada, Lábios que Beijei, Idiotas que Falam outra Língua, Quem Matou Maria Helena, R$ 1,99, Ensina-me a Viver, Umbiguidades, Bispo, Os Javalis, Todas as Horas do Fim, Cabaré da RRRRRaça e O Sapato do Meu Tio.
O Festival do Teatro Brasileiro é uma produção da Alecrim BR Produções Artísticas; correalização da Fundação Gregório de Mattos e patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa - SECEC-DF.
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