CADERNO 2
Gil comemora 81 anos em show com toda a família
Apresentações acontecem na Concha Acústica nesse fim de semana
Por Morena Melo
A música tem poder de ação. O corpo que sente os graves é o mesmo que acessa sentimentos profundos e o mundo através do som. Na Bahia, essa conexão se intensifica e Gilberto Gil é uma forte expressão desse acontecimento.
Desde os primórdios da sua trajetória, ele sintetiza a força da música em suas diversas formas de expressão, no disco, no palco, na gravação, no improviso. Com ela, Gil inventou novas possibilidades de habitar o mundo, de constituir sentidos sobre o Brasil e a Bahia.
Desnaturalizando os tempos presentes e abrindo portas para o futuro, o cantor celebra os 81 anos ao lado da família com a turnê Nós, a Gente, que chega a Salvador em duas apresentações na Concha Acústica, hoje e amanhã.
No show, que já rodou a Europa e segue pelo Brasil, a família Gil tece uma trama de pertencimento e aconchego, que deve ser ainda mais intensa nas apresentações realizadas em Salvador, cidade natal do artista e de grande parte de sua prole. Para o cantor e compositor, o sentido de família se amplia na capital baiana e atravessa, também, o público.
"A expectativa é que aqui o show aglutine ainda mais afeto, emoção e alegria do que em outros lugares. A apresentação tem sido bem recebida em todos os lugares, imagine em Salvador que é minha terra, meu lugar. Seremos em conjunto uma grande família, a família baiana. Porque eu sou meio parente de todo mundo aqui", fala Gil, que concedeu a entrevista ao A TARDE já em Salvador.
O repertório, escolhido pela família em cena registrada na série Em casa com os Gil, disponível no Prime Vídeo, traz canções que marcaram a vida dos Gil individualmente, de maneiras diferentes.
No palco, as músicas convergem para um clima coletivo luminoso, marcado por músicas como Barato Total, Serafim, Andar com Fé e Avisa Lá, do Olodum. Ou seja, da mesma maneira que o sentido de pertencimento se concretiza na família, também aparece na relação com a Bahia, fortemente enraizada na obra de Gil e celebrada na turnê.
Seis décadas depois
Nós, a Gente acontece 59 anos depois do histórico show Nós, por exemplo que marcou o início da carreira de Gilberto Gil ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa, pouco antes da explosão da Tropicália como posicionamento estético-político que marcou a história do país e da música popular brasileira. À época, em 1964, Nós, por exemplo aconteceu na inauguração do teatro Vila Velha, localizado a poucos metros da Concha Acústica, no bairro do Campo Grande.
De 1964 para cá, Gilberto Gil gravou 30 álbuns de estúdio e 22 ao vivo. Teve oito filhos, 12 netos e uma bisneta que marcam o show com as suas singularidades e maneiras diversas de se relacionar com a arte como porta de acesso aos mundos, próprios e dos outros. Nas palavras de Gil, esses momentos reunidos rimam conforto com continuidade.
"Tem uma coisa confortável pra mim do ponto de vista da responsabilidade com a paternidade e a criação dos filhos. É um sentimento de continuar providenciando a educação deles. Agora, eles todos já são músicos e têm os seus próprios envolvimentos com a música, com a profissão. Isso é bonito. Além de todos os outros sentimentos difusos que eu não posso nem descrever, que são fluxos de emoções que aparecem o tempo todo", conta o compositor.
Em relação à possibilidade de viver em Salvador no futuro, o artista baiano comenta que, em alguma medida, já mora na cidade. Com certa frequência, alterna períodos no Rio e na capital baiana.
“Eu já moro um pouco aqui. Sempre tive casa aqui. Muitas vezes com a família toda reunida, ou só eu e Flora. Tem vários níveis de relacionamento com a cidade, com a situação de estar aqui. Voltar a morar na Bahia (pausa). Flora tem vontade de passar mais tempo aqui do que em outros lugares. Eu também gostaria de vir. Ao mesmo tempo, tem os aviões que estão por aí levando a gente o tempo todo. Entre Salvador e Copacabana a gente pega um avião, vai e volta”, completa o autor de Procissão.
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