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13/05/2022 às 6:08 - há XX semanas | Autor: Eugênio Afonso

CADERNO 2

Gregório Duvivier: “Toda piada precisa correr algum risco"

Ator e humorista se apresenta com a peça "Sísifo", nesta sexta, sábado e domingo, no TCA

Artista acredita que o politicamente correto obriga o comediante a encontrar caminhos mais inteligentes para fazer rir
Artista acredita que o politicamente correto obriga o comediante a encontrar caminhos mais inteligentes para fazer rir -

Apesar da pouca idade, apenas 36 anos, o carioca Gregório Duvivier tem conseguido construir uma carreira profícua, seja como ator, escritor, roteirista ou humorista. Filho do músico e artista plástico Edgar Duvivier e da cantora Olivia Byington, Gregório começou a atuar aos nove anos, no curso de teatro do Tablado (RJ).

Pois é exatamente esse artista multifacetado que volta ao palco principal do Teatro Castro Alves (TCA) com a peça Sísifo para três apresentações na capital baiana: nesta sexta e sábado, 13 e 14, às 21h, e dia 15, às 11h, dentro do projeto Domingo no TCA, que trabalha com preços populares (R$ 1,00 inteira).

Com texto do próprio Gregório e do dramaturgo e ator Vinícius Calderoni, que também assina a direção, a montagem integra a 22ª Edição do projeto Catálogo Brasileiro de Teatro e é inspirada no mito grego do homem que carrega diariamente uma pedra morro acima apenas para vê-la rolar ladeira abaixo e começar tudo de novo. Duvivier garante que o mito é usado como um cavalo de troia – ou um presente de grego - para falar de tudo um pouco.

Para o público de uma forma geral, o comediante passa a ser mais conhecido a partir de 2012 quando funda, ao lado dos amigos Fábio Porchat, Antonio Tabet, Ian SBF e João Vicente de Castro, o coletivo Porta dos Fundos. Um canal que revolucionou o humor no país, tem mais de 17 milhões de inscritos e já faz escola.

Sempre com posicionamentos políticos bem-humorados, afiados e polêmicos, Duvivier tem se sobressaído como uma das principais vozes dissonantes do governo de extrema direita que assola o país há quase quatro anos. Formado em letras, ele admite que o papel do humorista é constranger e que o presidente Bolsonaro tem problemas de cognição, é bom de meme e de criar cortinas de fumaça.

O artista acredita que o politicamente correto obriga o comediante a encontrar caminhos mais inteligentes para fazer rir, que o humor existe para desafiar a morte e que a sua arte serve para lembrar, ou fingir, que não estamos sozinhos.

Por WhatsApp, Duvivier conversou com o Caderno 2+ sobre Sísifo, humor, posicionamentos políticos, universo digital, excesso de informação, política brasileira, importância da arte, novos comediantes, dentre outros temas.

Bem-vindo a Salvador. Qual o propósito do espetáculo?

Divertir, eu acho. Mas não só. Me divertir também

Conte um pouco da história da peça. Por que a escolha do mito grego Sísifo?

O mito explica muita coisa. Fala de eterno retorno, mas também de morte e de trabalho. Como todo mito grego, serve pra dizer qualquer coisa. Usamos o mito como um cavalo de troia – ou um presente de grego – pra falar de tudo um pouco. Colecionamos, Vinicius e eu, histórias de pessoas presas num ciclo que pode ser amoroso, profissional, político.

Há alguma relação direta entre o brasileiro e a história de Sísifo?

O Brasil está preso num ciclo em que a democracia, de 20 em 20 anos, desmorona. E precisamos buscá-la lá embaixo. Mas não é privilégio nosso. A democracia precisa desse esforço cotidiano. Ela nunca está ganha pra sempre.

Você passeia por várias vertentes do campo da arte. Qual te agrada mais?

Teatro é o que dá mais prazer porque sempre tem companhia. E adoro aglomeração. Ainda mais depois de uma pandemia. A energia de um teatro cheio é inigualável.

O que acha dos infindáveis influenciadores digitais? Confia neles?

Não. Mas nos influenciadores reais tampouco. Qualquer pessoa que se identifique como um influenciador não entendeu algo muito básico da influência. Você não pode dizer que está tentando influenciar senão não funciona.

Caetano já indagava em Alegria Alegria, quem lê tanta notícia? Então, como fica quem lê tanta notícia?

Fica mal. Mas quem não lê também. Não tem escapatória.

Você é uma das principais vozes dissonantes desse governo caótico em que estamos mergulhados. Você tem medo? Medo físico mesmo?

Tento não ter. O medo é o pior inimigo do humor. Toda piada precisa correr algum risco. O humor existe pra desafiar a morte.

A censura já se instalou ou está comendo pelas beiradas?

Censura é um conceito subjetivo. A censura à moda antiga morreu. Já não há mais a figura do censor aprovando previamente textos a serem publicados. Mas existe, sim, uma censura mercadológica, jurídica ou algorítmica. Quem dita o que viraliza hoje são algoritmos que visam o lucro da plataforma. A denúncia de uma chacina, por exemplo, pode ser abafada, não mais por um governo, mas por uma plataforma que acredita que isso afasta anunciantes.

Que prognóstico é possível fazer da atuação do atual governo federal com relação aos projetos para a cultura? Isso existe?

O setor cultural hoje continua vivo graças unicamente à resistência dos trabalhadores. Não existe qualquer política cultural federal hoje. Ninguém faz ideia do que está fazendo. A secretaria é composta pelos profissionais mais ineptos de um governo famoso pela sua incompetência.

A Bahia tem alguma influência em seu trabalho?

Toda! A Bahia inventou o Brasil. Ou, pelo menos, o que o Brasil tem de melhor. A música, o cinema, a literatura: o Brasil precisa merecer a Bahia.

Há luz no fim do túnel para a humanidade ou é só um trem vindo de lá desgovernado? Qual o sentido disso tudo?

Taí uma pergunta irrespondível.

Com essa onda extremada do politicamente correto, é mais fácil ou difícil fazer humor?

Não acho que seja extremada. A pergunta contém uma ilação perigosa. Não está fácil, não. Mas nunca deveria ter sido fácil.

Gosta da nova turma de comediantes que está chegando?

Claro! Não sei se conheço todos, mas os que conheço, adoro. João Pimenta, Pedro Otoni, Thamires Borsan. Tem muita gente boa, autoral, interessante.

Qual a função da arte para um povo, uma nação. Ela pode nos salvar?

Não! Mas pode tornar nossa derrocada mais suportável.

O que quer a sua arte?

Lembrar que não estamos sozinhos. Ou fingir que não estamos sozinhos.

São quantos anos de carreira e quais os próximos projetos?

Nunca fiz essa conta e odeio quem faz. O próprio conceito de carreira me dá preguiça. Essa ideia de que a própria vida tem uma trajetória linear. Tento não pensar nisso.

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